Letramento racial – conceito e aplicações

Letramento racial é como uma lente, que nos ajuda a enxergar mais precisamente o racismo. Neste artigo, vamos analisar esse conceito!

A capacidade de entender e interpretar as relações raciais na sociedade é fundamental para criarmos um ambiente harmônico e justo. É neste contexto que surge o conceito de letramento racial. Neste artigo, vamos fazer uma análise completa desse tema. Vamos lá!

O letramento representa um passo adiante do aprendizado das palavras e orações, por ser o estágio no qual conseguimos “pegar o fio da meada” de um texto, interpretando-o conforme os contextos sociológico, histórico e cultural. É pelo letramento que nos tornamos aptos a compreender que a linguagem é, ao mesmo tempo, produto e produtora da nossa realidade.

O letramento racial é um recorte dessa dimensão sociocultural e histórica. É como uma lente, que nos ajuda a enxergar mais precisamente o racismo que estrutura a sociedade brasileira, como essas relações raciais modelam o mundo (o Brasil em especial) e como elas são modeladas por ele.

Sim, estamos falando de um conjunto de práticas que revelam o racismo tristemente naturalizado na nossa sociedade e que propõe, em contrapartida, uma (re)educação antirracista.

O que é uma educação antirracista?

O que você conhece verdadeiramente sobre a África e sobre as pessoas que habitam aquele continente? De verdade, o que você sabe sobre o dia a dia deles hoje? O povo africano é 100% preto e, em algum momento da história, foi escravizado? Houve (há) o conhecimento científico produzido na África?

Quanta coisa a gente não sabe, talvez até nem se dê ao trabalho de conhecer. E quanto dessas coisas que a gente não sabe acabam produzindo um efeito imagético negativo sobre a história e a vida dos africanos…

Está aí a importância de desenvolver e disponibilizar de forma ampla o máximo de informações sobre tudo isso. A escola é um instrumento fundamental para apresentar aos estudantes a diversidade não apenas de textos e temas, mas também de concepções de mundo, de jeitos africanos de viver e de se comunicar. É, no fundo, palco para educadores, professores e estudantes processarem de uma outra forma a interpretação das nossas questões raciais.

Ao incluir em seu material didático autores e intelectuais pretos em suas bibliotecas e atividades de sala de aula, a escola cumpre o papel essencial de educar por uma perspectiva antirracista.

Já há em vigor duas leis (n° 10.639/03 e nº 11.645/08) que buscam abordar a história e as culturas africanas, afro-brasileiras e indígenas de forma orgânica e sistemática em todas as esferas da vida escolar. Significa algo muito diferente e mais profundo do que lembrar e comemorar datas como o Dia do Índio (19 de abril) e o Dia da Consciência Negra (20 de novembro), e se somam ao esforço de criar uma legislação que puna atos racistas de quaisquer naturezas.

De onde vem o conceito de letramento racional?

O conceito veio do inglês racial literacy, cunhado em 2003 pela socióloga americana France Winddance Twine. A psicóloga Lia Vaine Schucman foi responsável pela primeira tradução do termo para o português.

Lia Schucman propõe alguns passos como forma de lutar pelo letramento racial. O primeiro deles é o reconhecimento da branquitude. Por isso é fundamental perceber e, ainda mais, admitir, que as pessoas brancas – no Brasil como no mundo todo – se beneficiam da falsa ideia de superioridade racial.

O passo seguinte é assimilar que o racismo não está no passado, não morreu com o fim do colonialismo ou do regime escravista. Estatísticas das mais variadas provam todos os dias que a população preta é predominante nos índices de vulnerabilidade social porque nunca lhe foi dada a mesma chance de construir sua autonomia e paridade social com os brancos.

A partir disso, é necessário entender que o racismo é aprendido – mas, do modo inverso, pode ser desaprendido, ou rechaçado pela sociedade. É aí que entra a estratégia de aplicar um letramento racial, que sugere o fim de um vocabulário racista, com a eliminação de expressões como “a coisa tá preta”, de óbvia conotação negativa, e da desconstrução e reconstrução de códigos de linguagem em diversos contextos.

Em nome de uma sociedade menos desigual, cada vez mais, estamos todos aprendendo que não basta ser contra o racismo; é preciso agir contra ele, ter uma iniciativa antirracista.

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