A Língua Portuguesa é machista?

A discussão sobre se a língua portuguesa é machista tem ganhado espaço nos últimos anos, especialmente com o aumento do uso da linguagem neutra e das críticas à predominância do masculino genérico.

Mas será que a estrutura da nossa língua reflete um machismo inerente, ou será que esse problema está mais ligado à sociedade? Vamos analisar essa questão com base em diferentes perspectivas.

A Língua Portuguesa é machista?

O que torna uma língua machista?

Quando alguém afirma que a língua portuguesa é machista, geralmente está se referindo a aspectos como:

  • O uso do masculino como gênero neutro: na gramática tradicional, quando há um grupo misto de homens e mulheres, o plural assume a forma masculina (exemplo: “os alunos” pode se referir a um grupo de homens e mulheres).
  • A falta de flexibilidade para incluir identidades de gênero não binárias: algumas pessoas defendem a criação de novas formas linguísticas para evitar a exclusão de grupos que não se identificam com os gêneros tradicionais.
  • A suposta hierarquia implícita em palavras e expressões: algumas palavras femininas podem ter conotações negativas em comparação às suas versões masculinas (por exemplo, “homem público” e “mulher pública” possuem significados bem diferentes).

Mas será que isso significa que a língua em si é machista? Ou será que esses aspectos refletem a cultura que a moldou?

A língua é reflexo da sociedade

Segundo o professor Cláudio Moreno, a língua portuguesa não pode ser considerada machista por si só. Ele argumenta que a língua é apenas um reflexo da sociedade que a usa. Se há machismo na forma como nos comunicamos, isso ocorre porque a sociedade que a criou e a desenvolve também tem valores patriarcais.

O professor explica que a predominância do masculino como forma genérica não é uma escolha consciente para inferiorizar o feminino, mas sim uma característica histórica da evolução linguística. Muitas línguas indo-europeias adotam o masculino para generalizações, sem que isso tenha sido decidido intencionalmente para suprimir a presença feminina.

Linguagem Neutra

Aqueles que defendem mudanças no português para torná-lo menos excludente argumentam que a língua não é estática e que deve se adaptar às transformações sociais. Por isso, propõem alternativas como:

  • Uso do “x” ou “@” para neutralizar o gênero: Exemplos: “todxs” ou “tod@s”.
  • Uso do “e” em vez de “o” e “a”: Exemplos: “amigue”, “todes”.
  • Evitar o uso do masculino genérico sempre que possível: Substituir “os alunos” por “o grupo de estudantes”.

Contudo, especialistas apontam desafios práticos para essas mudanças. O linguista Carlos Figueiredo argumenta que essas modificações criam dificuldades para a comunicação oral e escrita, além de não serem reconhecidas oficialmente pela gramática normativa.

Palavras e expressões machistas: mito ou realidade?

Outro ponto da discussão envolve o significado de palavras e expressões que, segundo algumas análises, reforçariam uma visão machista da sociedade. Por exemplo:

  • “Mulher da vida” (usado para se referir a prostitutas) x “Homem da vida” (inexistente).
  • “Mãe solteira” (com carga pejorativa) x “Pai solteiro” (raramente mencionado).
  • “Garanhão” (homem que se relaciona com muitas mulheres, com conotação positiva) x “Galinha” (mulher que se relaciona com muitos homens, com conotação negativa).

Embora esses exemplos sejam reais, especialistas lembram que a língua muda ao longo do tempo. Expressões antes comuns podem cair em desuso conforme a sociedade evolui, e novas formas de comunicação podem surgir para equilibrar essas discrepâncias.

A culpa é da língua ou da sociedade?

A análise dos diferentes artigos sobre o tema sugere que a língua portuguesa não é essencialmente machista, mas sim um reflexo da sociedade em que foi desenvolvida. As estruturas linguísticas que hoje são alvo de críticas surgiram em um contexto social que, de fato, possuía valores patriarcais mais rígidos.

No entanto, a língua é viva e está sempre se transformando. Mudanças na sociedade podem levar a mudanças na forma como nos expressamos, e o debate sobre a linguagem inclusiva faz parte desse processo. O mais importante é que as pessoas estejam cientes dessas questões e possam decidir conscientemente como desejam se comunicar.

E você, o que pensa sobre essa questão?

Outros artigos relacionados ao tema