A Educação é um direito fundamental de todo brasileiro, e a alfabetização inclusiva é uma expressão dessa cidadania. No entanto, o país continua tendo muita dificuldade em universalizar o acesso a escolas de pessoas com deficiências.

Por isso, mais do que um gesto de afeto e empatia, educar com didáticas que atendam às necessidades de estudantes com algum tipo de deficiência, e assim garantir uma educação mais inclusiva a eles, é essencial.

Há alguns avanços a serem comemorados. A alfabetização inclusiva já é realidade em algumas escolas brasileiras e destaque internacional pela atuação de profissionais dedicados a apoiar estudantes com necessidades especiais. É o caso da professora de português e libras Doani Bertan, de Campinas (SP), que foi finalista do Prêmio Global Teacher Prize 2020, considerado o Nobel da Educação.

Além disso, muitas políticas públicas têm sido implementadas. Por força de lei ou por iniciativas individuais, várias ações vêm promovendo a alfabetização inclusiva na escola, considerando as diferenças do aprender.

Por mais autonomia

Um dos grandes desafios de quem vai alfabetizar uma criança com deficiência é dar a ela o máximo de autonomia por meio de uma ação educativa crítica e reflexiva, voltada para uma prática com compromisso.

O maior ensinamento sobre isso vem do educador Paulo Freire, em “Pedagogia da autonomia” (1996), que diz: “Ninguém é autônomo primeiro para depois decidir. A autonomia vai se construindo na experiência de várias, inúmeras decisões, que vão sendo tomadas”.

Mas como fazer da escola um ambiente inclusivo, se esse espaço tem sido historicamente pensado para dar conta da universalização do ensino, voltado para a grande massa?

A resposta não deixa de ser simples: o ato de aprender deve se tornar de todos, respeitando as limitações e especificidades dos estudantes. As intervenções da escola devem favorecer o desenvolvimento do aluno com deficiência, oferecendo a ele a oportunidade de criar autonomia.

O processo de inclusão, portanto, depende muito da qualificação do educador: ele precisa ser capaz de promover o desenvolvimento do estudante com deficiência em pé de igualdade com os demais, respeitando a diversidade cultural e a realidade do aluno. Até porque só uma inclusão bem resolvida fará o sucesso da aprendizagem.

Dessa forma, não basta que a criança esteja presente na sala de aula. A escola deve assumir seu papel de assegurar a formação profissional dos docentes (e dos funcionários, evidentemente), a qualidade do ensino e a permanência do aluno.

Contextos inclusivos de alfabetização

Bons instrumentos de aprendizagem, sobretudo nessa fase de alfabetização, são as várias situações de jogos e brincadeiras. Em especial aquelas que ajudam os alunos a refletirem sobre o sistema da escrita, fazendo contrapontos ao lúdico.

Nesse sentido, muito mais do que conhecer a fundo cada uma das possíveis deficiências dos alunos, o professor precisa desenvolver a capacidade de analisar os domínios de conhecimentos desses estudantes e as necessidades específicas demandadas no processo de aprendizagem.

Assim, ele pode elaborar atividades, adaptar ou criar materiais e formas de avaliação. De pouco ajuda ser especialista em Síndrome de Down ou no espectro autista, se o educador não compreender como gerar experiências interessantes para a classe como um todo.

Vale ressaltar que os jogos e brincadeiras são um excelente recurso didático porque priorizam o envolvimento entre todos os alunos de uma sala de aula regular, sem que o ensino se torne automático e descolado da realidade.

Algumas ideias

Aproveitar as ideias que já se mostraram eficazes pode acelerar a evolução de um ambiente inclusivo nas salas de alfabetização. Entre os jogos que as escolas brasileiras estão usando está a Roleta Silábica, que permite impulsionar a alfabetização e o aprendizado de todos por meio de uma atividade que usa as sílabas como matéria-prima. Nela, o professor usa uma roleta com sílabas aleatórias e cartões com palavras cujas sílabas estão faltando O desafio é completar a palavra com a sílaba certa.

O Painel de Adivinhação é uma placa de MDF com botões, desenvolvido para tornar a contação de histórias mais lúdica e divertida. O Caminho Sustentável, por sua vez, é composto por dois caminhões miniatura de lixo e uma guarita com cancela. O material trabalha com as crianças conteúdos de sustentabilidade, como a geração de resíduos e a reciclagem.

É possível ainda usar a Lousa Interativa, uma caixa sonora de MDF com botões que reproduzem sons de animais. Associada a uma lousa, o material estimula a alfabetização e impulsiona conteúdos curriculares de ciências.

A lousa segue a mesma lógica da Cartola Mágica, que desenvolve o protagonismo por meio da oralidade e a criatividade, com um teatrinho de fantoches que completa a atividade com um trabalho colaborativo. A atividade também amplia o vocabulário das crianças e rompe barreira da timidez.

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Gostou do artigo? Então, vale a pena aprofundar seus conhecimentos com o Guia da Alfabetização.