Alguma Poesia, de Carlos Drummond de Andrade: análise da obra

O livro “Alguma Poesia”, de Carlos Drummond de Andrade, foi publicado em 1930, marcando o início de uma grande produção literária poética no período. Nessa época, o autor tinha apenas 28 anos e a obra em questão foi sua primeira publicação. 

A produção faz parte do Modernismo brasileiro, sendo Drummond o representante da segunda fase desse movimento. A coletânea com 49 poemas falam, principalmente, sobre infância, família e paixões da juventude. 

Personagens de “Alguma Poesia”

Os personagens de “Alguma Poesia” são as vozes poéticas que afloram sobre os versos do autor. Assim, cada poema apresenta uma pessoa, sendo esta, até mesmo, uma representação do próprio autor, ou a personificação de um sentimento, uma ideia ou determinada situação.

Como já mencionado, entre essas pessoas, está o próprio Carlos Drummond de Andrade, que se revela em algumas poesias de forma sutil. Além dele, há personagens que fazem referência à figura materna, ao amor, à terra natal, e assim por diante. 

Resumo de “Alguma Poesia”

A obra “Alguma Poesia” não conta apenas uma história de forma tradicional. Ela abrange uma série de temas que se encontram de forma única e pessoal. Em outras palavras, cada poesia contempla uma história diferente, entre elas: um amor não correspondido, uma pessoa que reflete sobre a própria morte e uma mãe que se despede de seu filho. 

Assim, há um mosaico de histórias que se completam, formando um retrato imenso e profundo das experiências humanas. Nesse sentido, cada fragmento é uma cena que compreende o cotidiano e o transmite em forma de poesia. 

Por intermédio do olhar e da linguagem única do poeta, o leitor consegue visualizar o dia a dia em reflexões sobre a condição humana. 

Estilo literário de “Alguma Poesia”

Assim como em outras obras de Drummond, em “Alguma Poesia”, o autor oferece um estilo poético único que une o lirismo com a linguagem acessível do cotidiano. A obra em questão destaca essa particularidade de maneira evidente. 

Além disso, cada uma das poesias carrega simplicidade e profundidade, por meio de versos que retratam a experiência humana. Seu estilo poético espelha uma visão de mundo realista e lírica, refletindo, simultaneamente, a parte boa e ruim do dia a dia.  

Vale dizer que o poeta faz o uso de diferentes recursos estilísticos e formas poéticas, nas quais incluem:

  • ritmo;
  • rima;
  • aliteração;
  • metáfora.

Esse domínio de linguagem é o que traz para “Alguma Poesia” a profundidade e a beleza dos temas retratados. 

Contexto histórico de “Alguma Poesia”

A coletânea contida em “Alguma Poesia” foi escrita na década de 1920, isto é, época que não havia guerras e o Brasil ainda não era governado por Getúlio Vargas. Assim, o contexto histórico por trás da obra representa a vida de Drummond que, em 1924, conheceu Oswald e Mário de Andrade.

Carlos Drummond de Andrade se tornou muito amigo de Mário de Andrade e os dois se falavam por cartas. Nesse período ele foi muito influenciado pelo movimento e se tornou o principal autor do modernismo em Minas Gerais. No entanto, o autor, apesar de ter esperança, acreditava que não poderia viver da escrita. 

Assim, publicava crônicas e outros tipos de textos em revistas e jornais, enquanto mantinha seu diploma de farmacêutico engavetado. Porém, desacreditado da profissão, passou a administrar uma das fazendas de seu pai. 

Nesse cenário, é possível comparar o contexto de “Alguma Poesia” com a vida do autor, podendo, assim, compreender os textos da coletânea. Isso porque, em cada fragmento, o leitor irá se deparar com Drummond dividido pelas ambições e pela sua realidade de vida.

Análise literária de “Alguma Poesia”

“Alguma Poesia” são textos curtos, com temáticas prosaicas. A sua linguagem é simples e acessível a todos, o que revela a marca do modernismo em oposição ao parnasianismo.

É importante mencionar que “prosaicos” significa “corriqueiro ou comum”, ou seja, a obra “Alguma Poesia”, traz temas do cotidiano que se aproximam da realidade dos leitores. Essa aproximação é intencional, uma vez que é uma característica do movimento modernista.

Vale dizer que “Alguma Poesia” se destaca pela sua ausência de rimas e repetição de palavras, recursos que também fazem parte do modernismo. Esse é o caso de um texto muito polêmico de Drummond que aparece na coletânea. 

“No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

no meio do caminho tinha uma pedra.”

(No meio do caminho – Carlos Drummond de Andrade)

Contudo, além das características mencionadas acima, o leitor também encontra em “Alguma Poesia” os versos livros que não consentem com nenhum padrão de métrica definido. Além disso, algumas temáticas são focadas no “eu”, o que comprova a vivência do autor nas histórias, como em “Cidadezinha Qualquer”, que fala sobre a época em que Drummond cuidava da fazenda do pai.

“Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.

Devagar… as janelas olham.

Eta vida besta, meu Deus.”

(Cidadezinha Qualquer – Carlos Drummond de Andrade)

Sobre o autor Carlos Drummond de Andrade 

Nascido em 31 de outubro de 1902, em Itabira, Minas Gerais, Carlos Drummond de Andrade é filho de fazendeiro e tem mais oito irmãos. Em 1910, o autor iniciou seus estudos de alfabetização e em 1916 passou a estudar no Colégio Arnaldo, em Belo Horizonte.

Dois anos depois, mudou para o Colégio Anchieta em Nova Friburgo, do qual foi expulso devido a uma discussão com seu professor de Português. No ano seguinte, voltou com a sua família para Belo Horizonte.

Em 1921, Drummond publica alguns de seus textos no Diário de Minas e em 1922 vence um concurso literário. No entanto, no ano seguinte, o autor inicia seus estudos em Farmácia e se forma dois anos depois. 

Carlos Drummond de Andrade não chegou a exercer a profissão e após atuar como professor, passou a trabalhar como redator no Diário de Minas. Assim, dois anos depois, o autor publica seu poema mais famoso “No meio do Caminho”, o qual foi duramente criticado pela sua estética. 

Além da redação, em 1930, Drummond assume o cargo de oficial de gabinete no interior de Minas Gerais e se torna chefe de gabinete. Durante esse período, o autor não deixou de escrever e publicar periódicos em revistas e jornais. Assim, em 1945 deixa o cargo no gabinete e é contratado para dirigir o jornal Tribuna Popular. Em seguida, passa a trabalhar na Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DPHAN).

Em 1949, volta a escrever e se aposenta como chefe de seção da DPHAN. A partir de então, continua com seus periódicos e publica diversos livros.

O autor faleceu em 17 de agosto de 1987, com 85 anos, dias depois de sua filha Maria Julieta. Dentre as principais obras do autor, podemos destacar: 

  • Alguma Poesia – 1930.
  • Confissões de Minas – 1944.
  • A rosa do povo – 1948.
  • Poesia até agora – 1948.
  • Contos de Aprendiz – 1951.
  • Viola de Bolso – 1952.
  • Fala, amendoeira – 1957.
  • Ciclo – 1957.
  • Antologia Poética – 1962.
  • Obra completa – 1964.
  • Poemas – 1971.
  • A Visita – 1977.
  • Amar se aprende amando – 1985.

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