Nada leva a crer que uma das grandes mazelas do Brasil, o analfabetismo funcional, esteja hoje melhor que em 2018, quando foram divulgados os dados do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf). Naquele ano, a parcela de brasileiros classificados como analfabetos funcionais era de 29%, uma queda de dez pontos percentuais na comparação com o ano de 2001. O Inaf também revelou a redução no número de analfabetos: de 12% para 8%.

No Brasil, o analfabetismo funcional é atribuído aos indivíduos com mais de 20 anos que não completaram quatro anos de estudo formal. Quem é analfabeto funcional lê, mas não consegue extrair sentido das palavras. Também não é capaz de se expressar pela escrita. No fundo, nisso tudo ele se assemelha muito a quem não foi alfabetizado.

O resultado do Inaf é alarmante, e a baixa qualidade do ensino parece ser o principal entrave para a erradicação do analfabetismo no país. Indício forte disso é que, dos 71% de brasileiros funcionalmente alfabetizados, apenas 12% são considerados proficientes em português e matemática.

A dificuldade de compreensão dos gêneros textuais, mesmos os mais simples e mais cotidianos, bloqueia o desenvolvimento intelectual, pessoal e profissional do indivíduo. Por isso é triste constatar a enorme parcela de indivíduos tecnicamente alfabetizados que ainda enfrentam dificuldades na compreensão de textos e na resolução de problemas simples matemáticos.

Classificações de proficiência da alfabetização

O Instituto Paulo Montenegro, responsável pelo Inaf, separa a alfabetização em dois grandes grupos: o de analfabetos funcionais e os de indivíduos funcionalmente alfabetizados.

O grupo de analfabetos funcionais divide-se também em dois:

  • analfabetos;
  • rudimentares.

O primeiro é formado por quem não consegue realizar atividades simples que envolvam a leitura de palavras e frases curtas. No segundo estão os que entendem as informações explícitas de um texto curto, como bilhetes e anotações, lê números simples e usuais e realiza operações matemáticas simples, como contar o troco.

Os funcionalmente alfabetizados dividem-se em três:

  • elementares;
  • intermediários;
  • proficientes.

O elementar está só um passo à frente do analfabeto rudimentar por conseguir ler e compreender textos de tamanho médio e resolver problemas matemáticos que contenham sequências, gráficos e tabelas simples.

Só é classificado como proficiente quem lê textos complexos, faz análises das partes do texto com conhecimentos cotidianos ou de maior especificidade, compara informações e distingue os diferentes tipos de texto e formas de escrita. Este também é capaz de diferenciar fatos de opiniões. Em matemática, os proficientes sabem interpretar gráficos e tabelas com muitas variáveis, compreendem escalas e projeções.

O problema é que, conforme o Inaf, o domínio pleno da leitura vem sofrendo queda no Brasil, mesmo entre os que concluíram o Ensino Fundamental ou o Ensino Superior, o que desfaz o mito de que o problema estaria restrito à baixa escolaridade e às camadas de baixa renda.

De acordo com os especialistas, a solução para erradicar o analfabetismo funcional passa pela adoção de métodos de letramento e do esforço conjunto de pais e escola, até porque o letramento é conquistado na prática cotidiana, que envolve não só a leitura de textos, mas também a crescimento de uma visão crítica.

De onde vem o termo

De acordo com o que destacou Vera Masagão Ribeiro, em sua tese “Alfabetismo funcional: referências conceituais e metodológicas para a pesquisa”, o termo alfabetismo funcional foi cunhado nos Estados Unidos na década de 1930 e utilizado pelo exército norte-americano durante a Segunda Guerra.

O conceito indicava a capacidade de entender instruções escritas necessárias para a realização de tarefas militares. Já o analfabetismo funcional, por sua vez, “foi utilizado para designar um meio termo entre o analfabetismo absoluto e o domínio pleno e versátil da leitura e da escrita, ou um nível de habilidades restrito às tarefas mais rudimentares referentes à ‘sobrevivência’ nas sociedades industriais”.

Segundo Vera Ribeiro, a ampla disseminação do termo analfabetismo funcional em âmbito mundial “deveu-se basicamente à ação da Unesco, que adotou o termo na definição de alfabetização que propôs, em 1978, visando padronizar as estatísticas educacionais e influenciar as políticas educativas dos países-membros”.

Segundo a Declaração Mundial sobre Educação para Todos, mais de 960 milhões de adultos são analfabetos. A declaração considera o analfabetismo funcional um problema significativo em todos os países industrializados ou em desenvolvimento.

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