Língua Portuguesa e Literatura para o Enem

Categoria: Literatura (Page 1 of 6)

Literatura no Enem: temas que mais caem

Uma das premissas para obter uma boa nota no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é estudar os conteúdos de Literatura que mais caem na prova. Isso porque essa disciplina é uma das que compõem a avaliação de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

As questões de Literatura abordam, normalmente, as escolas literárias, bem como suas principais obras e autores. No entanto, você não precisa estudar tudo o que diz respeito ao assunto em detalhes. Até porque, como sabemos, a prova do Enem é extensa e há muitas outras áreas e temas abordados. 

Para lhe ajudar, neste artigo, você terá acesso aos conteúdos de Literatura que mais caem no Enem. Dessa forma, poderá planejar os seus estudos, apostando nas temáticas que mais aparecem na avaliação. Acompanhe!

Literatura no Enem: guia dos temas mais cobrados

Quais são os conteúdos de Literatura que mais caem no Enem?

Os conteúdos de Literatura que mais caem no Enem são os relacionados às escolas literárias. Eles vão desde a interpretação de textos literários, até o reconhecimento de estilos da época.

Entretanto, é fundamental que você também estude estrutura textual, gêneros literários e figuras de linguagem, assuntos muito presentes na prova.

A seguir, falaremos sobre cada um deles, detalhadamente. Confira!

Escolas literárias

Como dito anteriormente, as escolas literárias fazem parte dos conteúdos de Literatura que mais caem no Enem. Dentre elas, podemos destacar:

É fundamental que você saiba os principais pontos de cada uma dessas escolas e conheça as suas particularidades. Isso porque as questões costumam pedir para que você identifique a qual escola determinado texto ou obra pertence. 

Exemplo de questão sobre escolas literárias

Para entender melhor como as escolas literárias são cobradas no Enem, vejamos uma questão do Enem de 2016 sobre esse tema:

Estas palavras ecoavam docemente pelos atentos ouvidos de Guaraciaba, e lhe ressoavam n’alma como um hino celestial. Ela sentia-se ao mesmo tempo enternecida e ufana por ouvir aquele altivo e indómito guerreiro pronunciar a seus pés palavras do mais submisso e mavioso amor, e respondeu-lhe cheia de emoção: — Itajiba, tuas falas são mais doces para minha alma que os favos da jataí, ou o suco delicioso do abacaxi. Elas fazem-me palpitar o coração como a flor que estremece ao bafejo perfumado das brisas da manhã. Tu me amas, bem o sei, e o amor que te consagro também não é para ti nenhum segredo, embora meus lábios não o tenham revelado. A flor, mesmo nas trevas, se trai pelo seu perfume; a fonte do deserto, escondida entre os rochedos, se revela por seu murmúrio ao caminhante sequioso. Desde os primeiros momentos tu viste meu coração abrir-se para ti, como a flor do manacá aos primeiros raios do sol.

GUIMARÃES, B. O ermitão de Muquém. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 out. 2015.

O texto de Bernardo Guimarães é representativo da estética romântica. Entre as marcas textuais que evidenciam a filiação a esse movimento literário está em destaque a

a) referência a elementos da natureza local.

b) exaltação de Itajiba como nobre guerreiro.

c) cumplicidade entre o narrador e a paisagem.

d) representação idealizada do cenário descrito.

e) expressão da desilusão amorosa de Guaraciaba.

Resposta: Letra A. Uma das princiapais característica do movimento literário chamado Romantismo é a exaltação do nacionalismo, da natureza e da pátria, como vemos no texto desta questão.

Interpretação de textos literários

Outro assunto que faz parte dos conteúdos de Literatura que mais caem no Enem é a interpretação de textos literários. A maioria das questões dessa área são desenvolvidas com o intuito de avaliar qual o seu nível de compreensão desse tipo de texto. 

É válido dizer que um conteúdo está interligado ao outro, ou seja, mesmo conhecendo todas as escolas literárias, é preciso também saber interpretar as obras de cada movimento. Normalmente, as questões trazem trechos de narrativas e poemas dos mais diversos períodos e você deve compreendê-los para identificar a qual escola pertencem.

Exemplo de questão sobre interpretação de textos literários

Para entender melhor como esse tema é cobrado nas provas do Enem, vejamos um exemplo de questão:

Sou um homem comum

brasileiro, maior, casado, reservista,

e não vejo na vida, amigo

nenhum sentido, senão

lutarmos juntos por um mundo melhor.

Poeta fui de rápido destino

Mas a poesia é rara e não comove

nem move o pau de arara.

Quero, por isso, falar com você

de homem para homem,

apoiar-me em você

oferecer-lhe meu braço

que o tempo é pouco

e o latifúndio está aí matando

[…]

Homem comum, igual

a você,

[…]

Mas somos muitos milhões de homens

comuns

e podemos formar uma muralha

com nossos corpos de sonhos e margaridas.

FERREIRA GULLAR. Dentro da noite veloz. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013 (fragmento).

No poema, ocorre uma aproximação entre a realidade social e o fazer poético, frequente no Modernismo. Nessa aproximação, o eu lírico atribui à poesia um caráter de

a) agregação construtiva e poder de intervenção na ordem instituída.

b) força emotiva e capacidade de preservação da memória social.

c) denúncia retórica e habilidade para sedimentar sonhos e utopias.

d) ampliação do universo cultural e intervenção nos valores humanos.

e) identificação com o discurso masculino e questionamento dos temas líricos.

Resposta: Letra A. Note que, para resolver essa questão, você não precisa necessariamente saber as características do movimento modernista, pois estamos diante de uma questão de interpretação de texto. Perceba que o poema fala sempre sobre a importância do trabalho em conjunto e do poder que ele tem para transformar a realidade (“Mas somos muitos milhões de homens comuns e podemos formar uma muralha com nossos corpos de sonhos e margaridas.”)

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Niketche – uma História de Poligamia, de Paulina Chiziane: análise da obra

A obra mais conhecida de Paulina Chiziane, “Niketche – uma História de Poligamia” foi publicada no ano de 2002, 10 anos depois da Guerra Civil que devastou Moçambique. O livro conta a história de Rami, mulher traída que se une às quatro amantes do marido, visando formar uma grande família. 

O livro é narrado pela própria protagonista e marcado por seus fluxos de consciência ao avaliar o seu lugar de mulher na sociedade moçambicana. “Niketche” é vencedora do prêmio Camões em 2021, e se trata de uma história que questiona as condições do público feminino na sociedade. 

Personagens principais de “Niketche – uma História de Poligamia”

Os personagens principais de “Niketche – uma História de Poligamia”, são:

  • Rami ou Rosa Maria: é a protagonista casada com Tony. Narradora da própria história. 
  • Tony ou António Tomás: é o marido de Rami que a trai com quatro outras mulheres. 
  • Julieta: é a segunda mulher de Tony.
  • Luísa: é a terceira mulher de Tony.
  • Saly: é a quarta mulher de Tony.
  • Mauá: é a quinta mulher de Tony.
  • Levy: é o irmão de Tony.
  • Maria: é a tia de Rami.
  • Vito: é o amante de Luísa e Rami.

Resumo de “Niketche – uma História de Poligamia”

Em “Niketche – uma História de Poligamia”, é contada a história de Rami, por meio da narração da própria protagonista, ou seja, se trata de uma narradora-personagem. É importante destacar que a palavra “Niketche” faz referência a uma dança tradicional do norte de Moçambique. Essa dança é um ritual realizado por mulheres quando entram na vida matrimonial.

O enredo gira em torno da protagonista que descobre, após 20 anos de casamento, que o seu marido, Tony, está sendo infiel. No entanto, em um primeiro momento, ela se culpa diante do espelho pela ausência e desinteresse de seu esposo. Porém, após esse fato, ela decide procurar pela amante do marido, a Julieta, com quem ele também tem filhos. 

Contudo, ao fazer isso, as duas saem no tapa e acabam sendo feridas e em um cenário inesperado, Julieta cuida das feridas de Rami. Atitude que provoca na esposa um espanto e, consequentemente, a quebra da raiva que sentia. Assim, as duas conversam e a amante confessa que não vê Tony há sete meses, o que provoca uma estranha empatia em Rami.

Entretanto, se Tony não está com uma e nem com a outra, as duas entendem que há uma terceira. Em razão disso, Rami vai em busca de respostas e conhece Luísa, outra esposa de seu marido. Ao confrontá-la, assim como ocorreu com Julieta, as duas acabam em uma luta física. Porém, no fim, também se tornam amigas. 

O fato é que a história não acaba por aí. O Tony, além de Julieta e Luísa, também tem um relacionamento com Saly e Mauá, o que faz com que a protagonista comece a se questionar sobre a poligamia. 

Assim, ela reúne todas as mulheres e o marido, para propor que se tornem uma única família. Visto que, ela não aceita perder o esposo e sabe que ele não deixará de ter relações extraconjugais. No entanto, Tony fica envergonhado diante da “grande família” e acaba fugindo da situação. 

Diante disso, as mulheres decidem fazer uma espécie de “escala conjugal”, na qual o marido possa passar uma semana com cada uma delas. Porém, Tony começa a se envolver com uma sexta mulher, deixando as outras cinco preocupadas. 

Nesse meio tempo, Rami, que já é super amiga das amantes, é convidada para uma festa na casa de Luísa e acaba se envolvendo com Vito, o amante dela. Assim, mais uma vez, as duas passam a dividir o mesmo homem. 

Durante o enredo, Rami começa a mudar a sua postura. Ela percebe as injustiças que rodeiam as mulheres de Moçambique, especialmente no que diz respeito às relações. Contudo, uma notícia muda tudo: Tony é atropelado e supostamente morre. Isso porque, o corpo do falecido fica irreconhecido, dando margem ao erro. 

Assim, Rami acaba assumindo um relacionamento com Levy, irmão de seu marido. Porém, tempos depois, Tony volta e descobre que foi dado como morto. Nesse ínterim, Luísa deixa Tony e se casa com Vito, convidando Rami para ser a segunda esposa. 

As outras três mulheres seguem com Tony e ainda procuram outra esposa para ocupar o lugar vago, mas Tony não quer mais se envolver com ninguém, encerrando assim a dança de Niketche. 

Contexto histórico de “Niketche – uma História de Poligamia”

A obra “Niketche – uma História de Poligamia”, tem como pano de fundo a instabilidade política e social, gerada pelo Acordo Geral de Paz, assinado em 1992, em Moçambique. Apesar da diminuição de conflitos entre a Resistência Nacional Moçambicana e o governo da Frente de Libertação de Moçambique, a paz ainda era ameaçada.

É neste contexto que a história de poligamia se desenvolve. Assim como em outras obras criadas no período da pós-independência, Niketche também valoriza a diversidade cultural para aumentar a união do país. 

Análise literária de “Niketche – uma História de Poligamia”

Dividida em 43 capítulos, “Niketche – uma História de Poligamia” é contada pela narradora-personagem, Rami. A protagonista analisa, durante o enredo, a sua condição e das demais mulheres vinculadas à tradição de Moçambique. Desta forma, o leitor consegue entender qual a realidade feminina da época, marcada pela submissão ao homem. 

O tempo da narrativa não é revelado, porém, é notório que a história ocorre em uma época posterior à Guerra Civil Moçambicana, ou seja, após 1992. Além disso, a ambientação é do sul de Moçambique, porém outras localidades são citadas, como Zambézia e Cabo Delgado.

A história começa com uma traição, na qual a esposa se sente culpada, por se olhar no espelho e não se achar mais atraente. Entretanto, no decorrer da narrativa, a mulher traída faz amizade com as amantes do marido e até propõe que se tornem uma única família. 

Neste cenário, nota-se que a autora sobressai a voz feminina, a partir do momento em que as amantes começam a ter empatia uma pela outra, deixando a rivalidade de lado. Contudo, também é possível notar que há uma crítica de costumes por trás do enredo, no qual as mulheres devem ser sempre submissas ao homem. 

Isso porque, Paulina Chiziane aborda a mulher na sociedade patriarcal, destacando as responsabilidades da esposa de Tony, enquanto ele está sempre ausente. Nesse sentido, a esposa cuida da casa e dos filhos, sendo essas as suas responsabilidades familiares. 

Até a finalização da obra, o leitor consegue ver Rami em um processo de autodescoberta e evolução, aprendendo a não se culpabilizar pelos erros que não partiram dela. Além de visualizar a sororidade entre as personagens. 

Sobre a autora Paulina Chiziane

Paulina Chiziane nasceu em Moçambique, cidade de Manjacaze, em 1955. Embora filha de pai protestante, Chiziane cursou o primário em uma instituição católica. No entanto, se formou na Escola Comercial de Maputo e estudou linguística na Universidade Eduardo Mondlane.  

A autora se envolveu com a Frente de Libertação de Moçambique e trabalhou junto à Cruz Vermelha, no período da Guerra Civil. Além disso, Chiziane integrou o Núcleo das Associações Femininas da Zambezia (Nafeza). 

Com o seu romance “Niketche – uma História de Poligamia”, a escritora conquistou o Prêmio Camões, em 2021.

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Olhos d’água, de Conceição Evaristo: análise e resumo da obra

Lançado em 2014, o livro “Olhos d’água” é uma coletânea de contos escritos por Conceição Evaristo. A autora aborda temas associados às experiências do cotidiano de pessoas negras, especialmente as mulheres. 

Os 15 contos que compõem a obra são apresentados de forma real, ou seja, sem nenhum tipo de cortes ou cenas fantasiosas. A autora retrata fielmente como é o dia a dia de uma pessoa negra no Brasil. 

As narrativas são curtas e falam sobre crianças, homens e, principalmente, mulheres, sendo elas: mães, domésticas, idosas, ex-prostitutas e tantas outras esferas. Os contos abordam o racismo, bem como as imposições acerca da cor de pele e gênero dos personagens. 

“Olhos d’água” conquistou o 3.º lugar do prêmio Jabuti, pela categoria de Contos e Crônicas, no ano de 2015.

Personagens de “Olhos d’água”

Os personagens da obra “Olhos d’água” são homens, crianças e, sobretudo, mulheres marcadas pelas submissão e violência devido à cor de pele e outras questões sociais e de gênero. 

Alguns contos levam o nome das personagens, como os títulos: Ana Davenga, Ayoluwa e Natalina. Mulheres que vivenciaram diferentes tipos de violência, mas decidiram continuar vivendo, sonhando e ansiando por dias melhores. 

Além disso, as pessoas da narrativa trazem a identidade afro-brasileira e relembram o sofrimento, bem como a resiliência de seus ascendentes.

Resumo de “Olhos d’água”

A obra “Olhos d’água” é composta por 15 diferentes contos que se mesclam. Eles narram histórias de pessoas negras que sofreram os mais diversos tipos de violência e depreciação durante a vida. 

Contudo, o leitor consegue notar, desde o primeiro conto, o qual possui o mesmo título do livro, que a autora vai além do sofrimento. Seu objetivo é mostrar a ancestralidade e identidade afro-brasileira, destacando a dura realidade, bem como o acalento a esses personagens. 

Os nove primeiros contos da obra têm mulheres como protagonistas, enquanto os quatro seguintes, contam a histórias de homens que morrem devido à marginalização social. Os títulos, em sua maioria, são construídos pelo nome dos personagens principais, como: “Maria”, “Luamanda” e “Lumbiá”, por exemplo. 

Vale dizer que, já no prefácio, o livro sinaliza que a escrita é a forma que a autora tem de retratar as suas experiências e escancarar o que há de errado na realidade: 

“…escrever é, certamente,“uma maneira de sangrar”; mas também de invocar e evocar

vidas costuradas “com fios de ferro” – porém aqui preservadas com a persistente costura

dos fios da ficção, em que também se almeja e se combina, incansavelmente, não

decerto a imortalidade, mas a tenaz vitória humana, a cada geração, sobre a morte.

A partir daí, o leitor consegue se identificar imediatamente por meio das narrativas compartilhadas. Narrativas estas, recheadas de ancestralidade, fé, lágrimas, violência e sentimentos. As vozes não se calam devido aos acontecimentos expostos e por essa razão, a obra comove com sua dor poética.

Contexto histórico de “Olhos d’água”

O contexto histórico em “Olhos d’água” é histórico e, ao mesmo tempo, contemporâneo. Isso porque, ainda que aborde temas muito atuais por meio de sua publicação de 2014, ele é um retrato de situações que ocorrem desde que “o mundo é mundo”. 

Assim, a obra representa a voz dos negros e de toda uma sociedade que, há muitas décadas, tenta ser silenciada. 

Análise literária de “Olhos d’água”

Em “Olhos d’água”, a desigualdade social é o ponto central. As situações retratadas, infelizmente, não são ficções, mas sim a dura realidade do cotidiano de muitas pessoas. Entre os destaques de cada conto, a autora menciona o desespero, a miséria e a fome. Além de retratar episódios como assaltos, balas perdidas, a vida de um morador de rua e assim por diante. 

Temas como esses não são novos, bem como o retrato de uma realidade perfeita que homens brancos costumam pintar. Por essas razões, Conceição decidiu retratar de forma clara a realidade do mundo do crime, as desigualdades e, especialmente, a violência contra negros e mulheres. 

No entanto, a autora consegue mostrar os personagens não apenas como vítimas de um sistema falho, mas sim, como protagonistas de suas próprias histórias. Ao combinar diálogos e pensamentos, a autora transmite a complexidade do “existir”. Isso porque, cada uma das pessoas retratadas tem sonhos, medos, amores, raivas, assim como qualquer ser-humano. 

Além disso, “Olhos d’água” também escancara a sexualidade em um período no qual a sociedade tenta impor padrões aceitáveis, oprimindo quem os “desacata”.

Adaptação no teatro da obra “Olhos d’água”

O livro “Olhos d’água” deu origem ao espetáculo: “Olhos d’água ou Nas Pedras Nasciam Asas”, que estreou no Rio de Janeiro em novembro de 2019. A obra cênica é assinada por Cássio Duque, com a adaptação do conto “Olhos d’água” de Conceição Evaristo. A direção é de Juracy de Oliveira, Shirlene Paixão e Sol Miranda. 

Sobre a autora Conceição Evaristo

Nascida em uma favela de Belo Horizonte, em 29 de novembro de 1946, a autora Conceição Evaristo é graduada em Letras pela UFRJ, mestre em Literatura Brasileira pela PUC do Rio de Janeiro, e doutora em Literatura Comparada na Universidade Federal Fluminense. 

Sua carreira literária iniciou por meio de publicações em “Cadernos Negros”, do Grupo Quilombhoje, de São Paulo, no qual Conceição escrevia contos e poesias. Assim, foi construindo sua produção textual e sendo reconhecida como uma mulher que representava o seu povo.

São os sentimentos e experiências de homens e mulheres negras que compõem os seus livros de dores e sensações. Além de “Olhos d’água”, a autora também escreveu outros livros como: “Ponciá Vicêncio”, que foi publicado nos Estados Unidos em uma tradução para a Língua Inglesa. 

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Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles: análise da obra

Livro de Cecília Meireles que relata fatos sobre a Inconfidência Mineira, “Romanceiro da Inconfidência” traz diferentes personagens históricos para a ficção. A obra, dividida em cinco partes, foi publicada pela primeira vez no ano de 1953 e possui 85 poemas ou romances narrados. 

Assim, personagens como Cláudio Manuel da Costa, Chica da Silva, Marília de Dirceu, Tiradentes e Tomás Antônio Gonzaga aparecem nos versos do livro. A autora consegue mostrar ao leitor dois lados de uma mesma história, isto é, a versão de quem conta e a de quem vive. 

“Romanceiro da Inconfidência” é uma obra que pertence à segunda fase do modernismo brasileiro. 

Personagens de “Romanceiro da Inconfidência”

Na obra “Romanceiro da Inconfidência”, Cecília Meireles traz personagens históricos para a ficção e também dá voz a pessoas comuns que viveram na época. Nomes como Tiradentes e Tomás de Antônio Gonzaga são referenciados com grande empatia e sensibilidade. 

Entretanto, a autora não se limita apenas aos mais notáveis que viveram a Inconfidência Mineira. Ela também destaca aqueles deixados de fora da história, como os escravos e as mulheres, por exemplo. 

Confira, abaixo, alguns dos personagens mais importantes do livro:

  • Chico Rei: é considerado um personagem lendário que descobriu, por meio de uma visão religiosa, ouro em abundância em Minas Gerais.
  • Chica da Silva: é uma famosa escrava que conquistou sua alforria e ainda se envolveu com um dos homens mais ricos do Brasil.
  • Tiradentes: é o herói da Inconfidência Mineira, um dos únicos envolvidos condenado à morte. 
  • Cláudio Manuel da Costa: é um poeta brasileiro que participou do contexto da Inconfidência Mineira.
  • Tomás Antônio Gonzaga: é um famoso autor do Brasil que teve uma parte de sua história durante a Inconfidência. 

Resumo de “Romanceiro da Inconfidência”

Em “Romanceiro da Inconfidência”, Cecília Meireles convida o leitor a acompanhar diferentes fatos que ocorreram na época da Inconfidência Mineira (1789). 

Na primeira parte do livro, publicada em 1953, a autora lança uma reflexão sobre a trajetória do ouro na história do Brasil. Nesse sentido, ela aborda todas as questões acerca do assunto, ou seja, o fato do ouro ter causado riqueza, tanto quanto gerou destruição. 

Desta forma, a primeira parte da obra retrata os dois lados: a felicidade e a tristeza, bem como as conquistas e as derrotas. Inclusive, fatos como a morte do revolucionário Filipe dos Santos tem muito destaque. Assim como, é relatada a situação dos negros escravizados por meio da lenda Chico-Rei e há diversas menções sobre Chica da Silva.

Já na segunda parte, o foco é a Inconfidência Mineira em si, ocorrida em 1789. Em outras palavras, Cecília Meireles fala sobre os diferentes fatos ocorridos na época, desde a construção dessa história, até a sua associação com a Revolução Francesa. Vale destacar que as duas coisas foram influenciadas pelo Iluminismo no Brasil. 

O protagonista da segunda parte da obra é Tiradentes, que é mostrado de forma heroica, tido como traidor. Além disso, são mencionados inconfidentes menos populares como Francisco Antônio, Vitoriano Veloso e ainda Padre Rolim, perseguido por fazer parte de uma conspiração.

Na terceira parte do livro, Cláudio Manuel da Costa é o grande destaque. Sua história sobre o suposto suicídio é o que define a narrativa. Entretanto, também é narrado as sentenças dos diversos inconfidentes acusados.

A quarta parte da obra se concentra em Tomás Antônio Gonzaga, escritor do Arcadismo. O autor é muito conhecido por sua obra “Marília de Dirceu”, a qual também é uma personagem em destaque nessa fase do livro. 

Por fim, a quinta parte fala sobre a morte de Maria I, a rainha louca, e finaliza a narrativa com uma espécie de moral da história. Nela, é feita uma reflexão sobre qual lugar o leitor gostaria de ocupar na história. Em outras palavras, duas hipóteses são dadas: ser lembrado por atitudes certas ou erradas?

Contexto histórico de “Romanceiro da Inconfidência”

O contexto histórico de “Romanceiro da Inconfidência” é, obviamente, a Inconfidência Mineira de 1789. Participaram da conspiração militares, intelectuais e até mesmo alguns padres que estavam insatisfeitos com a dominação portuguesa. A inconfidência foi inspirada por ideias iluministas e o desejo de que Minas Gerais se tornasse uma república independente. 

Estilo literário de “Romanceiro da Inconfidência”

“Romanceiro da Inconfidência” dispõe de prosa poética, e ainda é composto por imagens e musicalidade. Cecília Meireles consegue criar um cenário repleto de emoção e lirismo, por meio do ritmo equilibrado dos seus versos e rimas. 

No entanto, a autora também faz uso de recursos estilísticos, como a assonância, aliteração e repetição que, juntas, criam uma sonoridade envolvente. A obra combina poesia com prosa e encanta os leitores das mais diferentes épocas. 

Análise literária de “Romanceiro da Inconfidência”

Por meio de um narrador onisciente, que conhece até os pensamentos dos personagens, “Romanceiro da Inconfidência”, se passa especialmente no fim do século XVIII, durante a Inconfidência Mineira. Contudo, a obra também relata histórias anteriores a esse acontecimento. 

A narrativa é ambientada em Minas Gerais e destaca cidades como Ouro Preto e Diamantina. Trata-se de um livro que pertence ao segundo momento do modernismo brasileiro e conta com cinco partes e 85 romances. 

Vale dizer que a segunda geração modernista não fazia quebras radicais com as artes tradicionais. Assim, todos os autores dessa época podiam produzir versos livres ou regulares. Em “Romanceira da Inconfidência”, nos deparamos com versos regulares, metrificados e com rimas, além de decassílabos e redondilhas. 

Adaptação no cinema da obra “Romanceiro da Inconfidência”

“Romanceiro da Inconfidência” foi adaptado em 1972 para os cinemas com o título de “Os Inconfidentes”. Uma co-produção brasileira e italiana que teve Cecília Meireles como uma das roteiristas e Joaquim Pedro de Andrade como diretor. 

De gênero drama histórico, o filme entrou para a lista dos 100 melhores filmes brasileiros, feita pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine), em novembro de 2015.

O filme, versão cinematográfica da Inconfidência Mineira, tem grandes atores em seu elenco, como José Wilker na pele de Tiradentes e Luiz Linhares como Tomás Antônio Gonzaga. 

Sobre a autora Cecília Meireles

Nascida em 7 de novembro de 1901, no Rio de Janeiro, Cecília Benevides de Carvalho Meireles foi criada pela avó materna, pois ficou órfã ainda criança. 

Em 1917, se formou no magistério e em 1919 publicou seu primeiro livro de poesias, intitulado de “Espectros”. No entanto, a autora alcançou a maturidade literária inspirada pelo simbolismo, com obras como “Viagem”, publicada em 1939 e “Vaga Música” de 1942.

Contudo, devido ao seu estilo pessoal, seus livros nunca puderam ser classificados em uma escola literária única. Assim, em 1953, a escritora lançou o “Romanceiro da Inconfidência”, um dos maiores destaques na literatura social brasileira. 

Cecília morreu em 9 de novembro de 1964, no Rio de Janeiro, vítima de câncer no estômago. Dentre as suas principais obras, destacam-se:

  • Espectros – 1919.
  • Viagem – 1939.
  • Vaga música – 1942.
  • Mar absoluto – 1945.
  • Retrato natural – 1949.
  • Romanceiro da Inconfidência – 1953.
  • Metal Rosicler – 1960.
  • Ou isto, ou aquilo – 1964.

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Alguma Poesia, de Carlos Drummond de Andrade: análise da obra

O livro “Alguma Poesia”, de Carlos Drummond de Andrade, foi publicado em 1930, marcando o início de uma grande produção literária poética no período. Nessa época, o autor tinha apenas 28 anos e a obra em questão foi sua primeira publicação. 

A produção faz parte do Modernismo brasileiro, sendo Drummond o representante da segunda fase desse movimento. A coletânea com 49 poemas falam, principalmente, sobre infância, família e paixões da juventude. 

Personagens de “Alguma Poesia”

Os personagens de “Alguma Poesia” são as vozes poéticas que afloram sobre os versos do autor. Assim, cada poema apresenta uma pessoa, sendo esta, até mesmo, uma representação do próprio autor, ou a personificação de um sentimento, uma ideia ou determinada situação.

Como já mencionado, entre essas pessoas, está o próprio Carlos Drummond de Andrade, que se revela em algumas poesias de forma sutil. Além dele, há personagens que fazem referência à figura materna, ao amor, à terra natal, e assim por diante. 

Resumo de “Alguma Poesia”

A obra “Alguma Poesia” não conta apenas uma história de forma tradicional. Ela abrange uma série de temas que se encontram de forma única e pessoal. Em outras palavras, cada poesia contempla uma história diferente, entre elas: um amor não correspondido, uma pessoa que reflete sobre a própria morte e uma mãe que se despede de seu filho. 

Assim, há um mosaico de histórias que se completam, formando um retrato imenso e profundo das experiências humanas. Nesse sentido, cada fragmento é uma cena que compreende o cotidiano e o transmite em forma de poesia. 

Por intermédio do olhar e da linguagem única do poeta, o leitor consegue visualizar o dia a dia em reflexões sobre a condição humana. 

Estilo literário de “Alguma Poesia”

Assim como em outras obras de Drummond, em “Alguma Poesia”, o autor oferece um estilo poético único que une o lirismo com a linguagem acessível do cotidiano. A obra em questão destaca essa particularidade de maneira evidente. 

Além disso, cada uma das poesias carrega simplicidade e profundidade, por meio de versos que retratam a experiência humana. Seu estilo poético espelha uma visão de mundo realista e lírica, refletindo, simultaneamente, a parte boa e ruim do dia a dia.  

Vale dizer que o poeta faz o uso de diferentes recursos estilísticos e formas poéticas, nas quais incluem:

  • ritmo;
  • rima;
  • aliteração;
  • metáfora.

Esse domínio de linguagem é o que traz para “Alguma Poesia” a profundidade e a beleza dos temas retratados. 

Contexto histórico de “Alguma Poesia”

A coletânea contida em “Alguma Poesia” foi escrita na década de 1920, isto é, época que não havia guerras e o Brasil ainda não era governado por Getúlio Vargas. Assim, o contexto histórico por trás da obra representa a vida de Drummond que, em 1924, conheceu Oswald e Mário de Andrade.

Carlos Drummond de Andrade se tornou muito amigo de Mário de Andrade e os dois se falavam por cartas. Nesse período ele foi muito influenciado pelo movimento e se tornou o principal autor do modernismo em Minas Gerais. No entanto, o autor, apesar de ter esperança, acreditava que não poderia viver da escrita. 

Assim, publicava crônicas e outros tipos de textos em revistas e jornais, enquanto mantinha seu diploma de farmacêutico engavetado. Porém, desacreditado da profissão, passou a administrar uma das fazendas de seu pai. 

Nesse cenário, é possível comparar o contexto de “Alguma Poesia” com a vida do autor, podendo, assim, compreender os textos da coletânea. Isso porque, em cada fragmento, o leitor irá se deparar com Drummond dividido pelas ambições e pela sua realidade de vida.

Análise literária de “Alguma Poesia”

“Alguma Poesia” são textos curtos, com temáticas prosaicas. A sua linguagem é simples e acessível a todos, o que revela a marca do modernismo em oposição ao parnasianismo.

É importante mencionar que “prosaicos” significa “corriqueiro ou comum”, ou seja, a obra “Alguma Poesia”, traz temas do cotidiano que se aproximam da realidade dos leitores. Essa aproximação é intencional, uma vez que é uma característica do movimento modernista.

Vale dizer que “Alguma Poesia” se destaca pela sua ausência de rimas e repetição de palavras, recursos que também fazem parte do modernismo. Esse é o caso de um texto muito polêmico de Drummond que aparece na coletânea. 

“No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

no meio do caminho tinha uma pedra.”

(No meio do caminho – Carlos Drummond de Andrade)

Contudo, além das características mencionadas acima, o leitor também encontra em “Alguma Poesia” os versos livros que não consentem com nenhum padrão de métrica definido. Além disso, algumas temáticas são focadas no “eu”, o que comprova a vivência do autor nas histórias, como em “Cidadezinha Qualquer”, que fala sobre a época em que Drummond cuidava da fazenda do pai.

“Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.

Devagar… as janelas olham.

Eta vida besta, meu Deus.”

(Cidadezinha Qualquer – Carlos Drummond de Andrade)

Sobre o autor Carlos Drummond de Andrade 

Nascido em 31 de outubro de 1902, em Itabira, Minas Gerais, Carlos Drummond de Andrade é filho de fazendeiro e tem mais oito irmãos. Em 1910, o autor iniciou seus estudos de alfabetização e em 1916 passou a estudar no Colégio Arnaldo, em Belo Horizonte.

Dois anos depois, mudou para o Colégio Anchieta em Nova Friburgo, do qual foi expulso devido a uma discussão com seu professor de Português. No ano seguinte, voltou com a sua família para Belo Horizonte.

Em 1921, Drummond publica alguns de seus textos no Diário de Minas e em 1922 vence um concurso literário. No entanto, no ano seguinte, o autor inicia seus estudos em Farmácia e se forma dois anos depois. 

Carlos Drummond de Andrade não chegou a exercer a profissão e após atuar como professor, passou a trabalhar como redator no Diário de Minas. Assim, dois anos depois, o autor publica seu poema mais famoso “No meio do Caminho”, o qual foi duramente criticado pela sua estética. 

Além da redação, em 1930, Drummond assume o cargo de oficial de gabinete no interior de Minas Gerais e se torna chefe de gabinete. Durante esse período, o autor não deixou de escrever e publicar periódicos em revistas e jornais. Assim, em 1945 deixa o cargo no gabinete e é contratado para dirigir o jornal Tribuna Popular. Em seguida, passa a trabalhar na Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DPHAN).

Em 1949, volta a escrever e se aposenta como chefe de seção da DPHAN. A partir de então, continua com seus periódicos e publica diversos livros.

O autor faleceu em 17 de agosto de 1987, com 85 anos, dias depois de sua filha Maria Julieta. Dentre as principais obras do autor, podemos destacar: 

  • Alguma Poesia – 1930.
  • Confissões de Minas – 1944.
  • A rosa do povo – 1948.
  • Poesia até agora – 1948.
  • Contos de Aprendiz – 1951.
  • Viola de Bolso – 1952.
  • Fala, amendoeira – 1957.
  • Ciclo – 1957.
  • Antologia Poética – 1962.
  • Obra completa – 1964.
  • Poemas – 1971.
  • A Visita – 1977.
  • Amar se aprende amando – 1985.

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Dois irmãos, de Milton Hatoum: análise da obra

Após 11 anos de seu último romance, “Relato de um certo oriente”, o autor Milton Hatoum presenteou os seus leitores com “Dois irmãos”, livro publicado em 2000. A obra em questão foi traduzida para diversos países e ainda ganhou, em 2001, o Prêmio Jabuti com a história dos gêmeos Yaqub e Omar. 

Hatoum traz um enredo com doses de amor, conflitos, e diferenças sociais. Inclusive, por mais enxuto que o livro seja, se comparado ao seu romance anterior, ele também é repleto de sutilezas e nuances. 

Personagens principais da obra “Dois irmãos”

Os personagens principais da obra “Dois irmãos” são:

  • Yaqub e Omar: são os gêmeos, protagonistas da história.
  • Halim: é o pai dos gêmeos, marido de Zana.
  • Zana: é a mulher de Halim, mãe dos gêmeos. 
  • Rânia: irmã dos gêmeos.
  • Lívia: é a paixão em comum de Yaqub e Omar.
  • Domingas: é a empregada dos gêmeos.
  • Nael: é o filho da empregada, narrador-personagem. 

Resumo da obra “Dois irmãos”

A obra “Dois irmãos” conta a história de Yaqub e Omar, gêmeos que não se dão bem desde criança. Eles vivem em Manaus com seus pais, sua irmã Rânia e a empregada da casa que também tem um filho. 

Durante o enredo, conhecemos diferentes situações vivenciadas pela família, desde momentos bons até os ruins. Tudo isso narrado pelo personagem Nael, o filho da empregada. 

A narrativa é detalhada, e destaca tudo e mais um pouco. É o tipo de história que descreve todos os pontos, desde o nome da rua, até o alimento ingerido pelos personagens. Inclusive, conseguimos ter acesso a toda a cultura local de Manaus. 

A trama gira em torno da relação dos gêmeos que, devido a personalidades opostas, vivem em conflito. A criação dos pais também é algo que interfere bastante na trajetória dos dois.

Omar, o caçula, visto que nasceu após Yaqub, é um garoto mimado, ingrato e muito agressivo, já Yaqub é totalmente diferente. 

No entanto, desde o início da narrativa, ele demonstra sentir uma raiva profunda do irmão por algo feito na infância. Isso é explicado posteriormente, e se deu pelo fato de ambos se apaixonarem pela mesma mulher, Lívia. O que fez com que Omar cortasse o rosto de Yaqub com uma garrafa. 

O pai dos meninos, Halim, deixa claro que nunca quis ter filhos, porém passou por cima de sua decisão em nome do amor que sentia por Zana, sua esposa, que é uma mãe superprotetora e excessiva. Já a irmã, é uma mulher sensual que rejeita constantemente os pretendentes que a cercam. Isso porque, seu sonho era encontrar um homem que tivesse a personalidade de seus irmãos. 

Em paralelo à família, o leitor conhece a história de Domingas, a empregada vendida para a família. Todos os seus desejos foram perdidos devido à vida cansativa que ela levava como doméstica. 

No desenrolar do enredo há muitos “vai e vem” e, em um desses, Yaqub reencontra com Lívia e se casa com ela. Contudo, quando Yaqub descobre, o ódio entre os dois só aumenta, o qual só termina com a prisão de Omar e a morte de Yaqub.

Essa rivalidade, no entanto, é contada pelo narrador-personagem, Nael, o filho da empregada, bem como todas as situações e particularidades da família. Este é um ponto muito importante de ser citado, uma vez que durante toda a narrativa, Nael tenta persuadir o leitor a acreditar em tudo o que ele revela.

Entretanto, o que Nael quer mesmo é saber quem é seu pai, uma vez que ele sabe que Domingas, sua mãe, foi violentada quando mais nova. Por fim, é revelado que o seu pai é Yaqub. 

Contexto histórico de “Dois Irmãos” 

O contexto histórico por trás do livro “Dois Irmãos” é o período da Segunda Guerra Mundial, até o golpe de 64, ou seja, são mais de 30 anos narrados em fragmentos. A época em que a história se passa é guiada pela memória dos personagens que relatam acontecimentos importantes do início do século XX. 

No entanto, a cidade de Manaus tem grande relevância dentro da história. Isso porque, ela está totalmente ligada aos personagens. Ao longo dos 30 anos de narrativa, o leitor acompanha a destruição e a reconstrução do lugar, narrado por Nael, que busca pela cidade de sua infância, mas destaca que ela já não existe mais. 

Análise literária da obra “Dois Irmãos”

A trama, que gira em torno da conturbada relação de dois irmãos gêmeos, carrega uma camada extra de complexidade: o narrador-personagem que precisa conhecer a sua identidade e entender onde ele se encaixa na família a qual sua mãe é empregada doméstica.

No entanto, esse mistério, é revelado aos poucos e até boa parte do livro o leitor sequer sabe quem é o narrador e qual o seu real papel no enredo. A história que ele narra, por um longo período, só destaca a relação conflituosa de Yaqub e Omar. 

A narrativa não dispõe de uma cronologia linear e apresenta avanços e recuos no tempo. Assim, as situações vão sendo reveladas ao leitor conforme a memória do narrador. Entretanto, além de contar a história dos protagonistas, outra questão bastante explorada é a vida social brasileira. 

Durante o enredo, o narrador também fala sobre o crescimento da cidade de Manaus, o qual se deu pela cobiça de dinheiro, e a falta de estrutura do lugar. Essas mudanças acarretaram uma série de problemas. Nesse sentido, o autor também faz uma crítica a respeito das diferenças sociais. 

A obra faz com que os leitores consigam se aproximar dos personagens e adentrar em suas angústias e conflitos, as quais fazem parte de questões que atingem todos os seres humanos. Assim, é possível repensar sobre as próprias identidades e origens, pois estão articuladas a questões históricas e sociais. 

Adaptação da obra “Dois irmãos”

“Dois irmãos” teve duas grandes adaptações: os quadrinhos e uma minissérie de dez capítulos na Rede Globo

Os quadrinhos foram desenvolvidos pelos quadrinistas brasileiros, Gabriel Bá e Fábio Moon e publicado pela Quadrinhos na Cia, no Brasil, e pela Dark Horse Comics, nos EUA. O livro ganhou o Troféu HQMix de melhor adaptação para quadrinhos e o Eisner Award por melhor adaptação de outro meio. 

Já a minissérie, foi produzida por Maria Camargo em parceria com o diretor Luiz Fernando Carvalho. De 2008 até o seu lançamento em 2017, a história passou por três ajustes e ainda uma interrupção no projeto. 

No entanto, segundo Maria Camargo e o autor da obra original, Hatoum, as pessoas que assistirem à série, encontrarão cenas idênticas ao livro, bem como adaptações e criações. A produção conta com um grande elenco da rede globo, entre os nomes estão: Cauã Reymond, Matheus Abreu e Juliana Paes.

Sobre o autor “Milton Hatoum”

Nascido em Manaus, em 19 de agosto de 1952, Milton Hatoum, filho de imigrantes libaneses, passou boa parte da vida em São Paulo. Na década de 1970, cursou arquitetura na USP e depois iniciou os seus estudos literários. 

Hatoum também morou na Espanha e na França, local onde fez sua pós-graduação. No entanto, foi em Manaus que ele lecionou língua e literatura francesa na UFAM (Universidade Federal do Amazonas. Milton também foi professor-visitante na Universidade da Califórnia nos EUA. 

Aos 37 anos, o autor publicou o seu primeiro romance intitulado de “Relato de um certo oriente” e voltou a morar em São Paulo, em 1998, onde fez doutorado em teoria literária, também na USP. 

Após um tempo, publicou “Dois Irmãos”, em 2000 e “Cinzas do Norte”, em 2005. Os seus três romances foram ganhadores do Prêmio Jabuti. Além disso, muitas de suas histórias fizeram sucesso fora do país. As principais são:

  • Relato de um certo oriente – 1989.
  • Dois irmãos – 2000.
  • Cinzas do Norte – 2005.
  • Órfãos do Eldorado – 2008.
  • A cidade ilhada – 2009.
  • Um solitário à espreita – 2013.
  • A noite da espera – 2017.
  • Pontos de fuga – 2019.

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Angústia, de Graciliano Ramos: análise e resumo da obra

Terceira obra publicada de Graciliano Ramos, “Angústia” foi escrita entre os anos de 1935 e 1936. Vencedor do Prêmio Lima Barreto, o livro foi eleito um dos melhores romances brasileiros, segundo críticos e escritores como: Lúcio Cardoso, Octávio de Farias e Jorge Amado. 

“Angústia” é marcada pela presença da psicologia e linguagem introspectiva. O autor faz o uso de uma escrita detalhada que conta a história de Luís, um funcionário público apaixonado. 

Personagens principais da obra “Angústia”, de Graciliano Ramos

Os personagens principais da obra “Angústia” – Graciliano Ramos, são:

  • Luís da Silva: narrador-personagem, é o protagonista da história, um funcionário público mal remunerado, de poucas palavras, que se apaixona por sua vizinha, Marina. 
  • Marina: vizinha de Luís que acaba se envolvendo com ele, porém o troca por Julião Tavares. Ela possui uma personalidade explosiva. 
  • Julião Tavares: rapaz rico que esbanja arrogância e desfruta de uma série de privilégios. Tem uma vida invejada por Luís da Silva. 
  • Dona Adélia: mãe de Marina que a defende de tudo e de todos. Para ela, a garota nunca está errada. 
  • Moisés: é de origem judaica e possui forte tendência socialista. É um dos amigos de Luís.
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Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa – análise e resumo da obra

Uma das obras mais representativas de Guimarães Rosa, “Grande Sertão: Veredas”, foi publicada em 1956 e faz parte do modernismo brasileiro. Traduzida para diversas línguas e ganhadora de muitos prêmios, inclusive o de Machado de Assis, o romance retrata as aventuras de Riobaldo e seu grande amor, Diadorim. 

Por intermédio de uma linguagem coloquial e regionalista, a história é ambientada em Goiás e nos Sertões da Bahia e Minas Gerais. Trata-se de uma obra extensa, com mais de 600 páginas, estrutura não linear e sem divisão de capítulos. 

Personagens principais de “Grande Sertão: Veredas”

Os personagens principais da obra “Grande Sertão: Veredas”, são:

  • Riobaldo: é o narrador-personagem, protagonista da obra. Um velho fazendeiro, ex-jagunço.  
  • Selorico Mendes: é o padrinho de Riobaldo que, na verdade, é seu verdadeiro pai.
  • Compadre Quelemém de Góis: é o melhor amigo de Riobaldo.
  • Diadorim: é o amor platônico de Riobaldo. 
  • Nhorinhá: é uma prostituta que representa o amor carnal de Riobaldo.
  • Otacília: é outra paixão de Riobaldo, a qual representa o amor verdadeiro.
  • Zé Bebelo: é um fazendeiro que pretende acabar com os jagunços do sertão mineiro, especialmente, o bando de Joca Ramiro, devido às suas pretensões políticas. 
  • Joca Ramiro: é o maior chefe dos jagunços e pai de Diadorim.
  • Ricardão e Hermógenes: assassinos de Joca Ramiro.
  • Medeiro Vaz: é também o chefe dos jagunços, o qual lidera a vingança contra Ricardão e Hermógenes.
  • Só Candelário: é um dos chefes dos jagunços, o qual se torna líder do bando de Hermógenes.

Resumo da obra “Grande Sertão: Veredas”

A obra “Grande Sertão: Veredas”, é narrada por Riobaldo, o protagonista da história, que relata fatos sobre a sua vida e apresenta as suas reflexões. O personagem também descreve os acontecimentos do sertão e da fazenda onde vive. Além disso, fala sobre um doutor que chegou ao local recentemente, pessoa a quem ele se refere como “Moço” ou “Senhor”. 

Após a morte de sua mãe, Riobaldo passa a viver com Selorico Mendes, seu padrinho, na fazenda de São Gregório. No entanto, o que ele não imaginava, é que Selorico, na verdade, era seu verdadeiro pai. 

Nessa fazenda, o protagonista conhece o bando de jagunços de Joca Ramiro e Reinaldo que, mais tarde, revela ser Diadorim, seu grande amor, embora platônico. Riobaldo, então, narra sobre esse amor impossível e também faz diversas reflexões sobre a existência de Deus e o Diabo. 

Por intermédio de uma narrativa não linear e labiríntica, o leitor se depara com diferentes divagações do narrador-personagem, as quais retrata as características e vida dos personagens da obra. Além de apresentar os conflitos entre os bandos de jagunços e o bando de Zé Bebelo, até a morte de Joca Ramiro. 

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Macunaíma, de Mário de Andrade: análise e resumo da obra

Macunaíma – um herói sem nenhum caráter, romance escrito por Mário de Andrade, é um dos livros mais importantes da literatura brasileira. Publicada em 1928, a obra é uma antologia do folclore brasileiro e conta a história de Macunaíma, um índio que vive grandes aventuras no Brasil, em busca de um amuleto perdido. 

Vale dizer que todo o enredo é uma reflexão do escritor sobre a cultura brasileira, mesclando os dialetos e costumes das mais diferentes regiões. Além disso, a história também aborda a desigualdade social. 

Personagens principais de “Macunaíma”

Os personagens principais da obra “Macunaíma”, são:

  • Macunaíma: é o personagem principal da história, isto é, “o herói sem nenhum caráter”.
  • Maanape: é o irmão de Macunaíma, o qual representa a figura do negro.
  • Jiguê: é o outro irmão de Macunaíma, o qual representa a figura do índio
  • Sofará: é a primeira esposa de Jiguê, que também se envolve com Macunaíma. 
  • Iriqui: é a segunda esposa de Jiguê.
  • Ci – Mãe do mato: é o único amor de Macunaíma, a quem o presenteou com o amuleto “muiraquitã”.
  • Capei: é a cobra com qual Macunaíma luta.
  • Piaimã: é o gigante que conquista o amuleto de Macunaíma.
  • Ceiuci: é a esposa do gigante Piaimã, a qual tentou devorar Macunaíma.
  • Vei – a sol: é a mulher que representa o Sol e tinha o desejo que Macunaíma casasse com uma de suas filhas.
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A Hora da Estrela, de Clarice Lispector – análise da obra

O último romance escrito por Clarice Lispector (1920-1977), “A hora da estrela” foi publicado no mesmo ano de sua morte. Nele, há o retrato de uma jovem nordestina que precisa sobreviver na cidade grande.

O livro, considerado um clássico da Literatura Nacional, faz parte da terceira geração modernista, ou pós-modernismo, como também é chamado. A sua estrutura conta com 3 grandes eixos narrativos, o que torna o enredo fragmentado. 

Personagens principais de “A hora da estrela”

Os personagens principais da obra “A hora da estrela”, são:

  • Rodrigo S.M: narrador do livro, que pode ser interpretado como uma representação de Clarice Lispector.
  • Macabéa: personagem principal da história, uma mulher sonhadora e ingênua.
  • Raimundo Silveira: chefe de Macabéa, o qual se mostra intolerante muitas vezes.
  • Olímpico de Jesus: primeiro e único namorado da protagonista, é também um nordestino muito ambicioso.
  • Glória: colega de trabalho de Macabéa, mulher que lhe rouba o namorado.
  • As quatro Marias: Maria da Penha, Maria José, Maria Aparecida e apenas Maria eram as quatro colegas de quarto de Macabéa. 
  • Madame Carlota: a cartomante. 
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