As palavras têm poder. Esse velho ditado representa bem o objetivo central da Comunicação Não Violenta. Essa metodologia visa estabelecer uma forma mais eficaz e empática de criar relações entre as pessoas.

O processo vem sendo estudado e difundido pelo pesquisador Marshall Rosenberg. Ele enfatiza a importância de estabelecer base de valores comuns para as ações.

Muitas vezes, duas pessoas podem entrar em conflito simplesmente por que sua forma de falar cria uma barreira, em vez de estabelecer um entendimento.

Nesse sentido, Rosenberg destaca três comportamentos que bloqueiam a compaixão na nossa comunicação. Vamos analisar cada um deles.

1) Julgamentos moralizadores

Muitas vezes, queremos submeter as outras pessoas às nossas necessidades e aos nossos valores. Dessa forma, passamos a medir o próximo com base na nossa régua. Começamos a julgar como errado tudo aquilo que diverge das nossas crenças.

Esse tipo de comportamento ficou bem evidente nos últimos anos, por conta dos diversos embates políticos que vivenciamos no Brasil. Amigos de longa data se afastaram apenas por não concordarem ideologicamente. Isso tudo é fruto dos famigerados julgamentos moralizadores.

Se eu defendo determinado campo político e você discorda dele, passo a te tratar como um inimigo e encho minha comunicação de violência.

A pergunta que fica é: como resolver esse problema? O caminho é observar sem julgar. É buscar compreender antes de classificar ou criticar. Também é importante ter consciência de que nossos valores não são absolutos e que outras pessoas podem ter crenças distintas das nossas.

2) Comparações

Rosenberg explica que as comparações nada mais são do que uma forma de julgamento. Cada indivíduo tem suas potencialidades e suas deficiências e isso não o faz alguém pior ou melhor que os outros.

É preciso analisar as situações dentro do contexto na qual estão inseridas e buscar o que cada um pode oferecer de melhor. Quando estabelecemos uma comunicação com compaixão, ambos os lados conseguem colaborar para o crescimento mútuo.

As comparações são mais cruéis quando ocorrem com crianças. É muito comum que os pais, na ansiedade de ver seus filhos se desenvolverem, pressionem os pequenos com comparações com outros coleguinhas. Esse tipo de comportamento gera somente sofrimento e frustração, tanto no adulto quanto na criança.

A melhor forma de ajudar uma pessoa a evoluir é demonstrar que tipo de sentimento as ações dela geram nos outros e qual a ação específica ela pode adotar para mudar. E esse feedback deve ser sempre individualizado e específico.

3) Negação de responsabilidade

Não assumir as responsabilidades pelos nossos sentimentos, pensamentos e atos é uma forma de violência. Quando fugimos da responsabilização, as consequências do que fazemos e falamos recaem sobre os outros.

Além disso, um ambiente em que todos tiram o corpo fora se torna altamente tóxico, pois se gera um clima permanente de desconfiança — o que destrói nossa capacidade de estabelecer laços verdadeiros.

Rosenberg mostra que negamos responsabilidade por nossos atos quando os atribuímos a:

  • forças impessoais (limpei o quarto, porque é minha obrigação);
  • nossa condição, diagnóstico, histórico pessoal ou psicológico (não arrumo a mesa, porque sou bagunceiro);
  • ações dos outros (gritei com a minha esposa, porque ela ficava me interrompendo toda hora);
  • ordens de autoridades (não ajudei a senhora, porque meu chefe não me autoriza a deixar minha mesa);
  • pressão do grupo (chego atrasado, porque ninguém na equipe é pontual);
  • políticas, regras e regulamentos institucionais (sei que você não fez isso por má fé, mas tenho que suspender você por conta do regulamento da empresa);
  • papeis determinados pelo sexo, idade e posição social (não fica bem um homem trocando fralda de neném);
  • impulsos incontroláveis (comi aquele chocolate por conta de um desejo imenso de comer doce).

Esse tipo de linguagem passa uma falsa impressão de que agimos como agimos por conta da falta de escolhas. Usamos esse tipo de artifício para podermos desfrutar do bônus de uma decisão, transferindo o ônus para os outros.

Por exemplo, muitas vezes reclamamos do nosso parceiro ou parceira e atribuímos a ele ou a ela toda a responsabilidade pelo sucesso do relacionamento. Isso sobrecarrega o outro e gera nele um sentimento de injustiça e incapacidade.

Em uma comunicação não violenta, Rosenberg aconselha substituir uma linguagem que implique falta de escolhas por outra que reconheça a possibilidade de escolha.

Princípios da comunicação não violenta

Para estabelecermos diálogos mais produtivos e amigáveis, é importante conhecermos e aplicarmos os 4 princípios da comunicação violenta:

  • Observar de maneira descritiva e não julgadora procure descrever atos sem apelar para extremismos ou juízos definitivos de valor;
  • Distinguir sentimentos de opiniões –  em vez de rebater um argumento agressivo com outro, busque explicar para a outra pessoa como aquelas palavras tem fazem sentir;
  • Distinguir necessidades, desejos e sentimentos de opiniões e julgamentos   comunique-se tendo como base algo que te afeta e explicando como isso ocorre. Tentar justificar atitudes com opiniões e julgamentos destrói a empatia e gera isolamento;
  • Fazer pedidos claros e específicos – seja claro no que você deseja da outra pessoa. Dessa forma, é possível sair do campo das expectativas e passar para a campo da realidade. Não utilize ameaças ou chantagens emocionais para conseguir o que quer, pois desgasta a relação com a outra pessoa.

Em um mundo mais compassivo, todos podem desenvolver ao máximo seus talentos e potencialidades. Afinal de contas, o sucesso, a inovação e os grandes projetos dependem de ecossistema que ofereça segurança psicológica e que possibilite uma comunicação não violenta e sincera.

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