As falácias são erros de raciocínio que tornam uma argumentação inválida ou inconsistente. Apesar disso, muitas vezes elas aparentam estar corretas, confundindo até mesmo os mais atentos. Neste artigo, vamos mostrar os principais tipos e também analisar como tema é cobrado em provas de concursos públicos. Vale destacar que esse é um tema recorrente principalmente me provas da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Confira!
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ToggleO que são falácias?
As falácias são erros lógicos que comprometem a validade de um argumento, seja de forma consciente ou inconsciente. Nesse sentido, elas são utilizadas, muitas vezes, para enganar, formar juízos equivocados ou influenciar opiniões, especialmente em contextos como discursos religiosos, políticos e na mídia.
Quando baseamos nosso raciocínio em falácias, corremos o risco de desenvolver conceitos distorcidos, estereótipos ou tomar decisões inadequadas.
Muitos argumentos falaciosos parecem convincentes, especialmente porque frequentemente apelam às emoções e manipulam psicologicamente o receptor. Isso pode dificultar a identificação do erro lógico, especialmente para pessoas menos atentas ou que não estão familiarizadas com o conceito de falácia.
Tipos de falácias e exemplos
1. Generalização Excessiva
A generalização excessiva é uma das falácias mais comuns. É o ato de tomar um caso isolado ou uma evidência insuficiente como base para criar uma regra geral, aplicável a todos os casos semelhantes.
Exemplo: “Vi um motorista de Uber fazer barbeiragem. Logo, todos os motoristas de Uber são barbeiros.”
Perceba que o argumento utiliza a experiência pontual com um único motorista para estabelecer uma conclusão que afeta toda a categoria. Trata-se, assim, de uma extrapolação injustificada, já que a experiência de um caso individual não é suficiente para caracterizar um grupo tão diverso.
2. Simplificação Exagerada
A simplificação exagerada, também conhecida como redução simplista, ocorre quando se tenta explicar um problema complexo por meio de uma solução ou causa excessivamente simples. Esse tipo de falácia ignora a multiplicidade de fatores envolvidos em questões multifacetadas, oferecendo explicações que podem parecer convincentes, mas que desconsideram nuances importantes.
Exemplo: “O Império Romano caiu por causa das invasões bárbaras.”
Esse argumento apresenta uma visão simplista de um dos eventos mais complexos da história. Afinal, o colapso do Império Romano foi resultado de uma série de fatores interconectados, como:
- Crises econômicas e fiscais, que enfraqueceram o governo;
- Instabilidade política, com sucessivas disputas pelo poder;
- Declínio militar, incluindo a dificuldade de manter e sustentar legiões;
- Transformações sociais e culturais, como a ascensão do cristianismo e mudanças no modelo de cidadania;
- E, claro, as chamadas invasões bárbaras, que foram apenas um dos elementos finais desse processo.
Ao ignorar essa complexidade, a explicação simplista reduz um fenômeno multifatorial a uma única causa, tornando o argumento inválido.
3. Ad Hominem (Ataque à Pessoa)
O ad hominem é uma falácia que ocorre quando o foco do argumento é desviado das ideias ou proposições apresentadas para o caráter, atributos pessoais ou ações de quem as expressa.
É o ato de atacar o indivíduo ao invés de refutar o argumento apresentado. Nesse sentido, esse tipo de falácia é bastante comum, pois explora aspectos emocionais ou morais, que frequentemente têm grande impacto no julgamento do ouvinte.
Exemplo: “Você não pode confiar nesse projeto porque o autor traiu a esposa.”
A frase desvia o foco do argumento principal — a confiabilidade ou qualidade do projeto — para um aspecto pessoal e irrelevante sobre o autor. Afinal, traições conjugais não têm relação com a competência do indivíduo para criar um bom projeto, tornando o ataque infundado.
4. Apelo à Emoção
O apelo à emoção é uma falácia que ocorre quando um argumento se baseia exclusivamente em sentimentos, como medo, amor, culpa ou compaixão, para convencer o ouvinte, em vez de apresentar razões lógicas e evidências sólidas.
É a tentativa de persuadir utilizando sentimentos como principal recurso, deixando de lado uma análise racional e objetiva.
Exemplo: “Se você ama seu estado, não deve se mudar.”
O argumento apela para o sentimento de amor como justificativa, mas falha ao ignorar que é perfeitamente possível uma pessoa amar sua terra natal e, ao mesmo tempo, decidir se mudar por motivos como trabalho, estudo ou qualidade de vida. Nesse contexto, a frase tenta associar a mudança à falta de amor, criando uma dicotomia falsa e apelativa.
5. Falsa Relação de Causa e Consequência
A falsa relação de causa e consequência é uma falácia que ocorre quando se presume que um evento é a causa de outro sem que haja evidências suficientes para sustentar essa relação. Dessa forma, esse tipo de erro lógico ignora fatores externos ou distintos que podem influenciar o resultado, levando a conclusões precipitadas e incorretas.
Exemplo: “Os Estados Unidos venceram a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais; logo, vencerão a próxima.”
O argumento assume que o sucesso em um evento (as duas Guerras Mundiais) implica sucesso automático em outro (uma possível próxima guerra). No entanto, essa conclusão ignora os múltiplos fatores que diferenciam os dois eventos, como mudanças nas condições econômicas, políticas, militares e sociais dos Estados Unidos entre diferentes períodos períodos.
Outras falácias comuns
Falácia | Definição | Exemplo |
---|---|---|
Falso Dilema | Reduzir a questão a apenas duas opções, ignorando alternativas. | “Se você não apoia X, então você é contra tudo o que ele defende.” |
Espantalho | Distorcer a ideia do oponente para torná-la mais fácil de atacar. | “A teoria da evolução é falsa porque nunca vi um macaco virar homem.” |
Apelo à Antiguidade | Defender algo por ser tradicional. | “Sempre fizemos assim, então é a melhor maneira.” |
Petição de Princípio | Repetir a conclusão como premissa (argumento circular). | “O alpinismo é perigoso porque é arriscado.” |
Apelo à Ignorância | Assumir que algo é verdadeiro por não haver provas do contrário. | “Se ninguém provou que extraterrestres não existem, então eles existem.” |
Ad Populum | Presumir que algo é verdadeiro porque a maioria acredita. | “Milhões de pessoas acreditam nisso, então deve ser verdade.” |
Questão de concurso sobre falácias
Para finalizar este artigo, vamos analisar uma questão da FGV sobre falácias.
FGV – 2024 – Analista Judiciário (TRF 1ª Região)/Administrativa/Inspetor da Polícia Judicial
A frase abaixo que apresenta um exemplo de má argumentação, apoiado numa generalização excessiva, é:
a) Esse homem, acusado de furto no supermercado, é pai de cinco filhos e funcionário público da Prefeitura.
b) A turma visitou a fábrica de sorvetes e Marta voltou gripada, o que mostra irresponsabilidade dos diretores.
c) Se todos os empregados chegassem na hora, a produção da fábrica seria mais alta e de preço mais baixo.
d) Como alguns livros ensinam a viver, nada mais justo que ler mais.
e) Os cariocas não gostam de trabalhar: basta ver a praias cheias de gente em dias úteis.
Resposta: Letra E
Comentário da Questão
Chamamos os erros de raciocínio de falácias. Essa questão explora a falácia da generalização excessiva, um erro que ocorre quando um caso isolado ou evidências insuficientes são usadas para justificar uma conclusão ampla e abrangente.
Nesse contexto, vamos analisar cada uma das alternativas:
- Alternativa A: não apresenta generalização excessiva. Aqui temos um exemplo de apelo à emoção, no qual o enunciador tenta influenciar a percepção do público com base em fatores emocionais, como o fato de o homem ser pai de cinco filhos e funcionário público.
- Alternativa B: não configura generalização excessiva. Trata-se de uma falácia falsa relação de causa e consequênica, pois associa o fato de Marta ter ficado gripada à visita à fábrica de sorvetes, sem evidências que provem essa relação de causa e efeito.
- Alternativa C: não apresenta generalização excessiva. O erro aqui é uma simplificação exagerada, já que associa a produção e os preços da fábrica apenas à pontualidade dos empregados, ignorando outros fatores, como insumos, eficiência das máquinas e gestão.
- Alternativa D: não contém generalização excessiva. Essa alternativa apresenta uma falácia de falsa relação de causa e consequênica: a justificativa para incentivar a leitura é baseada no fato de que “alguns livros” ensinam a viver, mas isso não sustenta a ideia de que se deve ler indiscriminadamente.
- Alternativa E (Correta): aqui temos um exemplo clássico de generalização excessiva. O fato de as praias do Rio de Janeiro estarem cheias em dias úteis é usado para concluir que “os cariocas não gostam de trabalhar”. Essa conclusão ignora variáveis importantes, como a presença de turistas, cariocas que trabalham em outros turnos ou que estão de férias. Além disso, extrapola o comportamento de um grupo específico para toda a população carioca, configurando a falácia.