Uma das discussões mais recentes e polêmicas sobre a Língua Portuguesa refere-se à Linguagem Neutra.

Também conhecida como não-binária, compreende o uso de uma terceira letra além do A e do O no final das palavras para evitar a binaridade dos gêneros masculino e feminino.

No entanto, os debates no campo dos especialistas em linguagem circundam principalmente a seguinte questão: a Língua Portuguesa já não é neutra?

Neste artigo, abordaremos este e outros pontos relacionados à Linguagem Neutra para que você compreenda melhor o assunto e possa formar sua própria opinião. Acompanhe a leitura!

O que é Linguagem Neutra?

A Linguagem Neutra tem o propósito de incluir todos os grupos na comunicação e apresenta propostas de alteração do idioma, como novas grafias. Alguns exemplos são:

  • elu (ao invés de ele ou ela);
  • todes (ao invés de todos);
  • amigues (ao invés de amigos);
  • meninx (ao invés de menino ou menina).

Esses e outros termos são cada vez mais comuns nas redes sociais, sobretudo entre membros da comunidade LGBTQIA+. Contudo, essa questão divide opiniões entre os especialistas.

O que dizem os especialistas

Parte dos professores e gramáticos da Língua Portuguesa que discutem essa questão defendem que a variedade masculina dos pronomes e dos artigos já abrange a neutralidade.

Por exemplo, na frase “amanhã eles vão à praia bem cedo”, o pronome “eles” pode referir-se tanto a duas pessoas do gênero masculino quanto a uma pessoa do gênero masculino e outra do feminino.

Argumentos favoráveis à Linguagem Neutra

Os defensores do uso da Linguagem Neutra acreditam essa forma de expressão contribui para:

  • acolher, respeitar e valorizar a diversidade;
  • lutar contra a intolerância de gênero e o machismo;
  • identificar e visibilizar todos os gêneros, inclusive os neutros; 
  • não privilegiar um determinado grupo em detrimento de outros;
  • causar uma reflexão sobre desigualdade de gênero em outras áreas além da língua.
  • gerar reflexão sobre a desigualdade de gênero em outros âmbitos para além da linguagem.

Argumentos contrários à Linguagem Neutra

Um dos pontos levantados por quem é contra o uso da Linguagem Neutra é que as novas grafias tornam a comunicação repetitiva e longa. Dizer “todos e todas”, por exemplo, é redundante, visto que pode-se dizer apenas “todos”.

Outro ponto que recebe críticas são as mudanças de grafia com “x” ou “@”, que dificultam a leitura. Além disso, pessoas com deficiência visual que usam programas para ler textos seriam afetadas, pois os softwares não fazem a leitura de palavras escritas dessa forma.

Da mesma maneira, a compreensão das palavras também poderia ser comprometida com a utilização do sufixo “-e” ou dos pronomes citados no início deste artigo. Falas ou textos que fazem uso desses termos podem ser mais complicados ou confusos para pessoas que não estão acostumadas ou não têm conhecimento.

Em suma, os argumentos contrários têm como base o fato do gênero masculino ser considerado neutro pelos órgãos que regulam os idiomas, como a Real Academia Espanhola e Academia Brasileira de Letras.

Em outras palavras, como o masculino designa todos os gêneros, em teoria, nenhuma alteração seria necessária.

A Língua Portuguesa e a neutralidade

Embora hoje em dia o masculino cumpra a função de plural na Língua Portuguesa, nem foi sempre assim. Quando o Latim ainda era uma língua viva, existia um pronome neutro além do feminino e do masculino. 

“Isso mudou quando o latim virou o português arcaico. Decidiu-se pela abolição do neutro e adoção do masculino para o plural”, explica o professor de Língua Portuguesa e doutor em linguística, Jonathan Moura.

O especialista afirma não ser impossível que a Linguagem Neutra integre o idioma futuramente, porém ressalta que depende diretamente da adesão pública. Portanto, sem o reconhecimento da sociedade, para ele, não existe possibilidade disso acontecer.

“Ainda assim, pode ser agora ou daqui a 100 anos, pode ser este modo de linguagem neutra ou outro, mas pode acontecer. Mas pode ser também que isso caia no esquecimento e nunca venha a tona”, conclui.

O que diz a legislação 

No dia 28 de outubro de 2021, a Secretaria de Cultura publicou uma portaria que proíbe a utilização de linguagem neutra em projetos financiados pela Lei Rouanet.

Além disso, concursos públicos e vestibulares, que exigem a utilização da norma culta da Língua Portuguesa, também não permitem o uso da Linguagem Neutra.

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