A literatura fantástica é um gênero literário cujo enredo é caracterizado pela transcendência do real, pois apresenta elementos sobrenaturais que se misturam à realidade.

Em sua origem, essa literatura explorava o medo e o susto por meio de monstros, fantasmas, entre outros, para causar espanto no leitor. A narrativa primava por acontecimentos surpreendentes, assustadores e emocionantes. 

Em contrapartida, a partir do último século, observa-se que o gênero tem sofrido diversas modificações. Muitos estudiosos abarcaram a literatura fantástica como objeto de estudo, proporcionando diferentes definições ao gênero fantástico.

O que é o fantástico?

Na obra O Fantástico, a professora Dra. Selma Calasans Rodrigues explica que: “o termo fantástico (do latim phantasticu, por sua vez do grego phantastikós, os dois oriundos de phantasia) refere-se ao que é criado pela imaginação, o que não existe na realidade, o imaginário, o fabuloso. Aplica-se, portanto, melhor a um fenômeno de caráter artístico, como é a literatura, cujo universo é sempre ficcional por excelência, por mais que se queira aproximá-la do real.” (RODRIGUES, 1988, p. 9)

Tzvetan Todorov, filósofo, linguista búlgaro e um dos mais conceituados críticos de literatura fantástica na contemporaneidade, em sua principal obra, Introdução à literatura fantástica, explica que o fantástico deve ser entendido como um gênero literário.

Para o filósofo, a narrativa fantástica consiste na interrupção, em nosso mundo, de um acontecimento que não pode ser explicado pelas leis racionais, causando assim o sentimento de dúvida no leitor. Essa dúvida é a sensação de que a fantasia se sobressai sobre o racional, e, para que isso ocorra, é necessária uma integração do leitor com o mundo das personagens, encarando-as como personagens vivas.

Ou seja, apesar de o fantástico estar naturalmente relacionado ao irreal e ao sobrenatural, não quer dizer que não tenha relação com a realidade e que não possa envolver o leitor a ponto de confundi-lo entre o que é real e o que é fantástico. Todo texto literário, inclusive o fantástico, é uma representação do mundo real, pois a literatura não nasce do nada, pelo contrário, ela é criada a partir da realidade.

Por isso, Todorov também afirma que a expressão “literatura fantástica” refere-se a um gênero literário que ocorre na incerteza se o que está sendo lido se trata de uma ilusão dos sentidos e as leis do mundo continuam a ser o que são; ou, então, o acontecimento realmente ocorreu e integra uma realidade regida por leis desconhecidas para nós.

Enfim, a discussão levou e ainda leva vários estudiosos a tentarem conceituar de forma mais precisa esse gênero literário. O próprio Todorov alerta para a inviabilidade de uma conceituação plena de uma ficção que é mutável, que ganha novas formas a cada novo século por ser a subversão do racional e porque a razão também passa por mudanças conceituais.

Ainda assim, em meio às várias definições, esses estudos refletem características em comum como:

– a fusão do real e do irreal;

– a presença do sobrenatural no cotidiano;

– a evocação de emoções no leitor por meio de fatos sobrenaturais.

A origem da literatura fantástica

Escritores como Louis Vax (1970), Marcel Schneider (1964), Emir Rodríguez Monegal (1980), entre outros, acreditam que toda literatura no seu princípio era fantástica. Esses estudiosos fazem parte da corrente que trata o fantástico como latu senso, a qual afirma que, antes do realismo estrito do século XIX, os textos não tinham compromisso em narrar histórias reais, comprometidas com o dia a dia, e que, sendo assim, a forma mais antiga de contar histórias é a forma fantástica.

No entanto, uma grande parte, ou até mesmo a maioria dos estudiosos, como Joseph Restinger (1973), Roger Caillois (1967) e Tzvetan Todorov (1970), concorda que o fantástico nasceu entre os séculos XVIII e XIX. Para essa corrente damos o nome de strictu senso, elaborada a partir da rejeição do pensamento teológico medieval.

A literatura fantástica no Brasil e no mundo

De modo geral, a produção de literatura fantástica na América Latina só se desenvolveu por volta dos anos 1940, após a publicação da História universal da infâmia, do escritor argentino Jorge Luis Borges, em 1935.

Contudo, no Brasil, ainda em 1881, Machado de Assis já utilizava elementos fantásticos em sua obra Memórias Póstumas de Brás Cubas. Por mais realista que seja o autor, não há como negar que a ideia de um defunto autor, como é o caso de Brás Cubas, transcende as lógicas do mundo real.

Mas a literatura fantástica só apareceu de forma mais concisa em terras brasileiras a partir do século XX, com Murilo Rubião, Moacyr Scliar e José J. Veiga. Desde então, as publicações buscam empregar elementos sobrenaturais no cotidiano das personagens.

Nos demais países latinos, além de Jorge Luis Borges, podemos mencionar Gabriel García Márquez, Isabel Allende, Julio Cortázar e Bioy Casares.

Na América do Norte, destacam-se os americanos H. P. Lovecraft e Edgar Allan Poe, o mexicano Juan Rulfo e o cubano Alejo Carpentier.

Na Europa, os grandes nomes da literatura fantástica são J. R. R. Tolkien, José Saramago, Franz Kafka, C. S. Lewis, Hans Christian Andersen, Lewis Carroll e Honoré de Balzac

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