Medo de escrever: dicas para superar o bloqueio na escrita

Você já perdeu uma oportunidade profissional por medo de escrever ou desistiu de prestar um concurso público porque tinha redação? Para a professora Dalva Corrêa, superar esse bloqueio é essencial para quem deseja avançar na carreira ou conquistar uma vaga em concursos. Ela explica que o medo de escrever pode, sim, ter um lado positivo, funcionando como um filtro saudável que nos ajuda a refletir e revisar o que escrevemos. No entanto, quando esse sentimento se torna paralisante, ele impede que a pessoa expresse suas ideias com clareza e confiança.

Dalva, fundadora do projeto Batida Perfeita e Top Voice no LinkedIn, acredita que, mais do que seguir regras gramaticais, o importante é conectar-se com o leitor de forma eficaz, transmitindo segurança e autenticidade. Nesse sentido, ela sugere que o hábito da leitura e o exercício contínuo da escrita são fundamentais para construir essa confiança, permitindo que cada pessoa encontre sua voz verdadeira. Confira abaixo a entrevista completa!

Entrevista sobre como superar o medo de escrever com a professora Dalva Corrêa.

Como superar o medo de escrever?

Clube do Português: Em uma de suas aulas, a senhora menciona que o medo de escrever é um filtro que nos ajuda a não cometer erros, mas que pode se tornar paralisante. Poderia aprofundar um pouco mais essa ideia e explicar como podemos encontrar esse equilíbrio entre a autocrítica e a liberdade de expressão na escrita?

Dalva Corrêa: Considero saudável o medo como filtro de avaliação na escrita. Nesse ponto, a revisão textual é levada a sério, o que demonstra cuidado com a mensagem a ser transmitida. O medo passa a ser nocivo quando impede a pessoa de escrever e compartilhar suas ideias com o mundo. Um pensamento que ajuda a destravar é “não se dê tanta importância”. O importante é escrever sobre o que acredita e deixar a mensagem alcançar as pessoas certas.

Eu não acredito em equilíbrio. Há dias em que a escrita flui naturalmente; em outros dias, parece que a criatividade saiu para passear e nunca mais voltou. Entender e aceitar a oscilação desse movimento é uma grande libertação para mim. 

Para se expressar livremente na escrita, ter autoconhecimento é ponto de partida básico. A necessidade de validação atrapalha o processo de criação, pois “envenena” a mensagem com falta de autenticidade. No fim das contas, é uma escolha: qual imagem a pessoa quer passar para o mundo?

Técnicas para superar o medo de escrever

Clube do Português: A senhora fala sobre a importância de se conhecer e de mergulhar no “mar de dentro” para entender a fonte de nossa insegurança. Quais exercícios ou técnicas a senhora recomenda para que os alunos possam fazer essa autoexploração e utilizá-la em seus textos?

Dalva Corrêa: Em primeiro lugar, eu recomendo fazer terapia. Do jeito que for possível, faça terapia.

Em segundo lugar, ler literatura (ficção). Ao conhecer a história e as tramas que envolvem os personagens, os leitores se conhecem também. Ler ficção estimula a criatividade, faz a mente “viajar”!

Por fim, escreva. Só se aprende a escrever, escrevendo. Treinar é a chave para sentir cada vez mais segurança na hora de criar textos.

Escrita e contexto

Clube do Português: Adaptar a linguagem a cada contexto social é fundamental para uma comunicação eficaz. Quais dicas a senhora daria para os alunos que têm dificuldade em encontrar o tom de voz adequado para diferentes tipos de texto?

Dalva Corrêa: O primeiro passo é identificar o público. “Para quem estou escrevendo?” “Crianças, jovens ou adultos?” “Tem classe social definida?” A partir das respostas a essas perguntas, a pessoa começa a escrever como se estivesse conversando com o público definido. 

O tom de voz usado para falar com crianças é diferente do tom de voz usado para falar com pessoas adultas. Antes de começar a escrever, é importante definir quem você quer que leia seus textos.

Por que fazer rascunho?

Clube do Português: A senhora mencionou a importância de fazer um rascunho antes de finalizar um texto. Qual a função desse rascunho no processo de escrita e como ele pode ajudar a melhorar a qualidade do texto final?

Dalva Corrêa: Rascunho é vida! Os textos bem escritos cumprem etapas de produção. O original é a primeira versão, o nascimento do texto com todas as ideias e a essência do autor. Ouro em pó!

No rascunho, as ideias podem estar desconexas; logo a etapa de lapidação do texto começa: dar coesão (correção gramatical) e coerência (organização das ideias) ao texto. Depois vem a revisão com o último olhar… A leitura em voz alta ajuda a perceber se o texto está fluido e pronto para ser publicado. 

Como desenvolver o hábito de escrever?

Clube do Português: Escrever com regularidade é essencial para desenvolver a habilidade de escrever. Quais estratégias a senhora sugere para que os alunos consigam manter uma rotina de escrita e não abandonarem essa prática?

Dalva Corrêa: Grandes ideias surgem em momentos inusitados, como na hora do banho, num papo descontraído com amigos ou até lavando louça. Para não perder a ideia, o movimento mais rápido pode ser gravá-la em áudio para si mesmo no WhatsApp, por exemplo.

Ter um bloco de notas físico ou digital como baú de ideias também ajuda a organizar o repertório cultural e vocabular.

Nem sempre sentar para escrever num horário predefinido é sinônimo de eficácia. Talvez não saia nada de bom naquele momento. Por isso sugiro ter atenção aos momentos em que as ideias fluem naturalmente e escreva.

Como superar os bloqueios na escrita?

Clube do Português: Na sua experiência como professora de português, quais são os maiores desafios que os alunos enfrentam para evoluir na escrita?

Dalva Corrêa: O maior desafio é acreditar que não sabem português, o que não é verdade. Todos nós sabemos português. A diferença está no repertório cultural, vocabular e de vida, ou melhor, de observação da vida. 

Como eu disse antes, é fundamental saber para quem você está escrevendo. Isso define o tipo de conhecimento que precisa ser adquirido e a linguagem a ser escolhida para a comunicação escrita. 

Não é uma questão de certo e errado, mas sim de adequação e inadequação a cada contexto.

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