Metonímia e Sinédoque: como diferenciar?

A diferença entre metonímia e sinédoque é bastante sutil. Por isso, por vezes, é difícil diferenciar essas duas figuras de linguagem. Neste artigo, vamos apresentar as definições desses dois conceitos e também caminhos práticos para distingui-los. Confira!

O que é metonímia?

De acordo com a professora Nilce Sant’Anna Martins, em seu livro Introdução à Estilística: A Expressividade na Língua Portuguesa, a metonímia é “a figura pela qual uma palavra que designa uma realidade A é substituída por outra que representa a realidade B, em virtude de uma relação de vizinhança, de coexistência, de interdependência, que une A e B, de fato ou no pensamento”.

Dito de outra forma, a metonímia acontece sempre que a gente usa uma palavra no lugar da outra, porque elas têm uma ligação — tipo serem vizinhas, andarem juntas ou dependerem uma da outra.

Essa relação entre os termos ocorre, como ensina o gramático Rocha Lima, de diferentes formas:

a) O efeito pela causa: Os cabelos brancos inspiram respeito. (a velhice)

b) O autor pela obra: Ler Machado de Assis é sempre um grande prazer.

c) O continente pelo conteúdo: Tomar uma xícara de chá ou uma garrafa de vinho.

d) O singular pelo plural: A mulher tem sempre rara intuição. (as mulheres em geral)

e) A matéria pela obra: Tangem os bronzes. (os sinos)

f) A parte pelo todo: Havia mais de cem velas no mar. (barcos)

Sinédoque

Esse último caso – a troca do todo pela parte – é o que caracteriza a sinédoque. Dessa forma, ela nada mais é do que um tipo específico de metonímia.

Aprofundando mais o tema, a professora Nilce explica que essa figura de linguagem consiste na “troca de palavras com significado de diferente extensão, havendo entre elas uma relação de inclusão“.

Assim, no caso do exemplo que trouxemos na letra “f”, a vela é parte do barco, ou seja, ela está inclusa na embarcação.

Causalidade x Contiguidade

O professor Othon M. Garcia traz uma visão interessante sobre o tema. Ao levantar a visão de diferentes estudiosos da língua sobre o tópico, ele explica que, para alguns, a relação entre os termos na metonímia é de contiguidade. Já na sinédoque, essa relação é de causalidade.

Contiguidade significa que duas coisas estão ligadas por estarem próximas, no espaço, no tempo ou na associação mental, mas sem uma relação de causa e efeito.

Nesse sentido, a metonímia trabalha exatamente com esse tipo de ligação: a palavra usada tem uma conexão com a ideia real, mas é uma conexão de vizinhança, associação habitual, proximidade simbólica, e não de geração de uma pela outra.

ex: Bebi dois copos de água.

Aqui representamos um elemento (“água”) por meio de um recipiente que é usado para consumi-lo (“copo”). Porém, um termo não causa nem é parte integrante do outro.

Causalidade, por outro lado, significa que uma coisa gera outra, ou é necessária para a outra acontecer.

A sinédoque opera sobre esse princípio: usa-se uma parte para se referir ao todo (ou vice-versa) porque há uma relação de dependência entre eles.

ex: Comprei dez cabeças de gado.

Nesse caso, a cabeça é parte da vaca ou do boi, ou seja, sem ela, o animal não existiria.

Othon explica ainda que, na metonímia, a relação é qualitativa, porque há uma relação entre características. Já na sinédoque, essa relação é quantitativa, porque há uma relação de fração e inteiro.

Conclusão

Em resumo, embora metonímia e sinédoque sejam figuras de linguagem próximas e muitas vezes confundidas, é possível distingui-las com atenção aos tipos de relação que estabelecem.

Enquanto a metonímia trabalha com associações de proximidade e convivência entre os termos, a sinédoque envolve uma conexão de dependência, em que parte e todo se implicam mutuamente.

Para ajudá-lo a fixar as distinções sobre os dois termos, preparamos a tabela abaixo:

ItemMetonímiaSinédoque
DefiniçãoSubstituição de um termo por outro por relação de vizinhança, coexistência ou associação mental.Substituição de um termo por outro havendo uma relação de parte e todo (ou vice-versa).
Tipo de relação principalContiguidade: proximidade no espaço, tempo ou pensamento.Causalidade: dependência ou geração entre os elementos.
Exemplos– Bebi dois copos (conteúdo pelo recipiente).
– Ler Machado de Assis (autor pela obra).
– Comprei dez cabeças de gado (parte pelo todo).
– Há no mar agora três velas (parte do barco).
Extensão da relaçãoQualitativa (associação de características).Quantitativa (parte e inteiro).
ObservaçãoRelação simbólica ou habitual, mas sem necessidade estrutural entre os termos.Relação de inclusão: um termo integra ou depende do outro para existir.

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