Naturalismo: conceito, contexto, autores e questões

O Naturalismo foi uma tendência estética e literária surgida na Europa, na segunda metade do século XIX. Confira o guia completo!

O Naturalismo foi uma tendência estética e literária surgida na Europa, na segunda metade do século XIX. No entanto, o movimento também era chamado de realismo-naturalismo por ser visto pelos mais diversos críticos como uma corrente excessiva do realismo. 

As características que mais destacaram o Naturalismo foram a zoomorfização e o determinismo, atributos que, inclusive, diferenciavam os dois estilos. Contudo, ambos apresentavam crítica social e linguagem objetiva em suas produções. 

No Brasil, Aluísio Azevedo, Raul Pompéia e Adolfo Caminha são os autores principais do movimento. Neste artigo, você conhece o conceito, as características e outros detalhes do Naturalismo. Acompanhe a leitura!

Naturalismo: conceito, contexto, autores e questões

Origem do termo e conceito de Naturalismo 

A origem do termo “Naturalismo” se deu no ano de 1880, após a publicação do livro “O Romance Experimental” de Émile Zola (1840-1902). Melhor dizendo, foi Zola quem usou a expressão pela primeira vez em sua obra. 

O conceito, segundo o próprio autor e os demais naturalistas, era o de valorizar a humanidade e a racionalidade. Em outras palavras, eram contra a ideia de que Deus era o centro de tudo, isto é, eram contra o teocentrismo. 

Contexto histórico do Naturalismo

Quando o Naturalismo surgiu, a Europa passava por diversas transformações econômicas, políticas e sociais, devido à Revolução Industrial e Revolução Francesa. Além disso, na época, também ocorriam mudanças no capitalismo financeiro e nasciam os primeiros centros urbanos. 

A burguesia era a classe dominante, enquanto o proletariado tinha de enfrentar as degradantes condições de trabalho. Neste contexto, Karl Marx (1818-1883) desenvolveu teorias socialistas e comunistas que influenciaram muito a estética naturalista. 

Inclusive, além dele, a doutrina de Auguste Comte (1798-1857) defendia que a única maneira de alcançar a verdade era por intermédio da investigação científica. Em outras palavras, a ciência era vista como a principal maneira de entender a realidade. 

Outro ponto importante da época foram as considerações de Charles Darwin (1809-1882), publicadas em 1859. Em uma obra revolucionária, o biólogo britânico comprovou que os animais evoluíam e se adaptavam ao mundo sem nenhuma interferência divina. 

A oposição ao teocentrismo fez com que surgisse um novo olhar sobre a ciência, o qual acabou sendo inspiração para o Naturalismo. 

Características do Naturalismo

O Naturalismo possui diversas características, as principais são:

  • zoomorfização: figura de linguagem que compara o comportamento do homem com o dos animais;
  • determinismo: princípio que trata o indivíduo como um figurante da história, defendendo que as escolhas humanas não são fruto do livre-arbítrio, e sim das influências do meio em que se vive;
  • cientificismo: doutrina filosófica que coloca a ciência como ferramenta preponderante para compreender a realidade;
  • patologias sociais: as obras do Naturalismo evidenciam os temas que mostram situações negativas como doenças, vícios e adultério;
  • temas cotidianos: os temas retratados, normalmente, falavam sobre a vivência das classes consideradas “baixas”.

Além das características acima, o movimento trazia objetividade, porém impessoalidade narrativa, ou seja, quando o autor não se envolve emocionalmente com seus personagens. 

É importante destacar que o Naturalismo da época era considerado imoral, por mostrar de forma explícita a sexualidade dos personagens. Inclusive, a zoomorfização era atribuída somente aos pertencentes à classe operária, as pessoas negras eram mostradas como inferiores e a homossexualidade tratada como doença. 

Principais autores estrangeiros do Naturalismo

Os principais autores estrangeiros do Naturalismo foram:

  • Émile Zola (1840-1902) – escritor francês, idealizador do termo “Naturalismo”.
  • Thomas Hardy (1840-1928) – novelista e poeta inglês.
  • Eça de Queirós (1845-1900) – escritor português.
  • Guy de Maupassant (1850-1893) – escritor e poeta francês.
  • Fialho de Almeida (1857-1911) – escritor português.
  • Arthur Schnitzler (1862-1931) – médico e escritor austríaco.
  • Gerhart Hauptmann (1862-1946) – romancista e dramaturgo alemão.
  • Stephen Crane (1871-1900) – romancista, poeta e jornalista estado-unidense.

Naturalismo no Brasil 

O Naturalismo no Brasil surgiu em 1888, com a publicação do romance “O Mulato” de Aluísio Azevedo (1857-1913). Contudo, foi a obra “O Cortiço” que deu destaque ao movimento. 

Assim como o Naturalismo europeu, as características do estilo no Brasil abrangiam zoomorfização, cientificismo, objetividade e determinismo. Os romances como “Bom-Crioulo” de Adolfo Caminha (1867-1897) e “O Ateneu” de Raul Pompéia (1863-1895) foram destaques no movimento. 

Principais autores brasileiros do Naturalismo

Dentre os principais autores brasileiros do Naturalismo, podemos destacar:

  • Júlio Ribeiro (1845-1890) – escritor e gramático.
  • Aluísio Azevedo (1857-1913) – caricaturista, jornalista, romancista e diplomata.
  • Júlia Lopes de Almeida (1862-1934) – escritora, cronista, teatróloga e abolicionista. 
  • Raul Pompéia (1863-1895) – escritor, professor e diretor de biblioteca.
  • Adolfo Caminha (1867-1897) – escritor. 

Principais obras do Naturalismo no Brasil

Dentre as obras de referência do movimento naturalista brasileiro, podemos ressaltar:

  • O mulato (1881), de Aluísio Azevedo.
  • O Ateneu (1888), de Raul Pompeia.
  • A carne (1888), de Júlio Ribeiro.
  • O cortiço (1890), de Aluísio Azevedo.
  • Bom-Crioulo (1895), de Adolfo Caminha.
  • A falência (1901), de Júlia Lopes de Almeida.

Naturalismo e Realismo: diferenças e pontos em comum 

O Naturalismo também era chamado de naturalismo-realismo, isso porque muitos críticos o associavam a uma corrente mais radical do movimento realista. No entanto, os dois estilos tinham características em comum, como:

  • objetividade;
  • impessoalidade;
  • retrato fiel da realidade;
  • uso de cenas cotidianas;
  • desprezo pelas criações românticas;
  • crítica da moralidade burguesa. 

Contudo, há diferenças entre as duas correntes literárias, uma vez que no Naturalismo evidencia o homem biológico, enquanto o realismo retrata o psicológico.

Assim, o realismo descreve o ser-humano de maneira realista, sendo um fruto do meio em que vive. Já o naturalismo inclui o fator biológico em suas características.

Questões sobre Naturalismo 

Para finalizar este artigo, vamos conferir duas questõesdo Enem, com gabaritos comentados, sobre o Naturalismo.

Questão 1 – Enem 2022

A senhora manifestava-se por atos, por gestos, e sobretudo por um certo silêncio, que amargava, que esfolava. Porém desmoralizar escancaradamente o marido, não era com ela.[..] As negras receberam ordem para meter no serviço a gente do tal compadre Silveira as cunhadas, ao fuso: os cunhados, ao campo, tratar do gado com os vaqueiros; a mulher e as irmãs, que se ocupassem da ninhada. Margarida não tivera filhos, e como os desejasse com a força de suas vontades tratava sempre bem aos pequenitos às mães que os estava criando. Não era isso. Uma sentimentalidade cristã, uma ternura, era o egoísta e cru instinto da maternidade, obrando por mera simpatia carnal. Quanto ao pai do lote (refere-se ao Antônio) esse que fosse ajudar ao vaqueiro das bestas.

Ordens dadas, o Quinquim referendava. Cada um moralizava o outro, para moralizar-se.

PAIVA, M. O. Dona Guidinha do Poço. Rio de Janeiro, Tecnoprint, s/d. No trecho do romance naturalista, a forma como o narrador julga comportamentos e emoções das personagens femininas revele influência do pensamento.

a) capitalista, marcado pela distribuição funcional do trabalho.
b) liberal, buscando a igualdade entre escravizadas e livres.
c) científico, considerando o ser humano fenômeno biológico.
d) religioso, fundamentado na fé e na aceitação dos dogmas do cristianismo.
e) afetivo, manifesto na determinação de acolher familiares e no respeito mútuo.

Questão 2 – Enem 2022

O Bom-Crioulo

            Com efeito, Bom-Crioulo não era somente um homem robusto, uma dessas organizações privilegiadas que trazem no corpo a sobranceira resistência do bronze e que esmagam com o peso dos músculos. […] A chibata não lhe fazia mossa; tinha costas de ferro para resistir como um hércules ao pulso do guardião Agostinho. Já nem se lembrava do número das vezes que apanhara de chibata…

            […]

            Entretanto, já iam cinquenta chibatadas! Ninguém lhe ouvira um gemido, nem percebera uma contorção, um gesto qualquer de dor. Viam-se unicamente naquele costão negro as marcas do junco, umas sobre as outras, entrecruzando-se como uma grande teia de aranha, roxas e latejantes, cortando a pele em todos os sentidos.

            […]

            Marinheiros e oficiais, num silêncio concentrado, alongavam o olhar, cheios de interesse, a cada golpe.

            — Cento e cinquenta!

            Só então houve quem visse um ponto vermelho, uma gota rubra deslizar no espinhaço negro do marinheiro e logo este ponto vermelho se transformar numa fita de sangue.

CAMINHA, A. O Bom-Crioulo. São Paulo: Martin Claret, 2006.

A prosa naturalista incorpora concepções geradas pelo cientificismo e pelo determinismo. No fragmento, a cena de tortura a Bom-Crioulo reproduz essas concepções, expressas pela:

a) exaltação da resistência inata para legitimar a exploração de uma etnia. 
b) defesa do estoicismo individual como forma de superação das adversidades.
c) concepção do ser humano como uma espécie predadora e afeita à morbidez.
d) observação detalhada do corpo para a identificação de características de raça.
e) apologia à superioridade dos organismos saudáveis para a sobrevivência da espécie.

Gabarito comentado das questões

Questão 1 – Resposta: Letra C. Como vimos no artigo, uma das principais características do movimento naturalista era o cientificismo e a oposição ao teocentrismo. Isso fica claro no seguinte trecho do texto: “Uma sentimentalidade cristã, uma ternura, era o egoísta e cru instinto da maternidade, obrando por mera simpatia carnal.”

Questão 2 – Resposta: Letra A. O Enem é, antes de tudo, uma prova de enunciados. Perceba que a questão pede que idetifiquemos duas concepções: cientificismo e determinismo.

Nesse sentido, a única alternativa que abarca os dois conceito é a primeira. Ela aborda os aspectos científicos (resistência inata) e deterministas (legitimar a exploração de uma etnia).

A letra D também está em consonância com as características do Naturalismo. Contudo, ela trata somente da concepção do cientificismo, o que não contempla o que foi pedido no enunciado.

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