Paradoxo de Stockdale: disciplina e motivação para concurseiros

Na preparação para concursos públicos, manter a motivação e a disciplina são desafios constantes enfrentados por concurseiros em todo o Brasil. Nesta entrevista exclusiva, Thiago Melo, consultor da Câmara dos Deputados, mentor de concurseiros e autor do livro “Diário do Concurseiro“, compartilha sua história inspiradora de superação e oferece insights sobre os pilares que sustentam uma preparação bem-sucedida. 

Com experiência pessoal de quem começou como chapeiro e superou adversidades, incluindo a dislexia, Thiago destaca como a combinação de resiliência, disciplina e fé inabalável pode fazer a diferença no caminho para a aprovação.

No centro da filosofia de Thiago está o “Paradoxo de Stockdale“, um conceito que ele explora para lembrar os concurseiros da importância de aceitar as dificuldades da realidade enquanto mantém a esperança firme em um resultado positivo. 

Segundo ele, muitos iniciantes subestimam o esforço necessário, mas a verdadeira vitória é alcançada por aqueles que transformam o estudo em rotina, mantêm a motivação e não desistem frente aos desafios. Confira a entrevista completa!

Dicas práticas de motivação e disciplina para concursos com o consultor Thiago Melo.

De chapeiro a consultor da Câmara dos Deputados

Clube do Português: Você começou sua trajetória como chapeiro e alcançou um dos cargos mais almejados do serviço público. Quais foram os principais aprendizados nesse processo e como você manteve a motivação?

Thiago Melo: Meu primeiro emprego foi igual ao de milhares de jovens no Brasil. Eu era chapeiro no Mcdonald’s e trabalhava o mês inteiro para ganhar um salário mínimo. Na verdade, o meu primeiro salário, que está até hoje registrado na minha carteira de trabalho, nem era o mínimo. Eu ganhava por hora e comecei ganhando apenas 96 centavos por cada hora de trabalho. 

Era um salário muito baixo, mas eu nunca pensei que aquele seria o meu futuro. Eu entendia que era preciso começar pequeno. Há até uma frase de Cícero que confirma esse pensamento: “”Omnium rerum principia parva sunt” – “O princípio de todas as coisas é pequeno”. 

Eu comecei pequeno, como tantos jovens, mas tinha em meu coração a certeza de que eu podia muito mais. Morando em Brasília, os melhores empregos eram, sem dúvida, os empregos no serviço público e era com um cargo público que eu sempre sonhava. 

Foi uma trajetória muito difícil, mas eu acho que o principal aprendizado nessa longa história foi descobrir a força da minha fé e da minha determinação. Eu não tinha garantias de que conseguiria passar. Nenhum concurseiro tem. Para piorar um pouco, eu ainda havia repetido a 5ª série no ensino fundamental e tenho dislexia. 

Então, para resumir, eu era um chapeiro, repetente na escola e com dificuldades de aprendizado. Sem fé e determinação, eu provavelmente estaria na chapa até hoje.

Paradoxo de Stockdale: a importância da motivação no estudo para concursos

Clube do Português: No seu livro, você menciona o Paradoxo de Stockdale. Pode explicar melhor esse conceito e como ele impacta a preparação e a motivação dos concurseiros?

Thiago Melo: Eu diria que o Paradoxo de Stockdale, que menciono no meu livro, ensina uma lição fundamental para qualquer concurseiro: aceitar a dureza da realidade, mas manter uma fé inabalável no sucesso futuro. James Stockdale foi um militar americano que passou 7 anos como prisioneiro de guerra durante a Guerra do Vietnã.

 Quando foi libertado, ele explicou como conseguiu: “Mantenha a fé de que você vencerá ao final, apesar das dificuldades e, ao mesmo tempo, confronte os fatos mais brutais da sua realidade atual, sejam eles quais forem.” Essa é uma frase poderosa, mas que revela um paradoxo, nomeado em homenagem ao militar. Por mais contraintuitivo que pareça, “os otimistas desistem primeiro.” 

Muitos concurseiros iniciantes entram nesse mundo municiados apenas do seu otimismo raso. Eles acham que vão passar no primeiro concurso, ou que conseguem passar sem estudar. Eu já ouvi de um concurseiro a seguinte frase: “É claro que vou passar de primeira para Juiz, eu nem terminei a faculdade ainda e já passei na OAB!”. 

Você pode imaginar o que aconteceu com esse concurseiro, não é?

O concurseiro que vai efetivamente passar precisa manter uma fé inabalável na vitória final, mas sabendo resistir com coragem às muitas dificuldades do processo. Para um concurseiro, essa mentalidade é essencial, pois o processo é longo e desafiador. É importante acreditar que você será aprovado, mas também é vital não ignorar as dificuldades e a quantidade de esforço que a aprovação vai exigir de você. 

O Diário do Concurseiro reforça essa ideia diariamente nos leitores e também nos usuários do aplicativo do livro. O livro e o aplicativo oferecem reflexões, orientações e inspiração que lembram o leitor de manter a confiança na aprovação, mas sempre com os pés no chão, como Stockdale ensinou. O livro se torna, então, uma âncora que ajuda a balancear esperança e realismo, aspectos que considero fundamentais para quem está no meio da preparação.

Características dos aprovados em concursos públicos

Clube do Português: Na sua experiência com seus mentorados, quais características comuns entre aqueles que alcançam a aprovação?

Thiago Melo: A principal característica entre os meus mentorados que alcançaram o cargo dos sonhos é a determinação. Não é o QI, não é o acesso ao melhor material, não é nenhum outro fator. O fato é que você precisa querer. Querer de verdade. O concurseiro que vai passar é aquele que acorda de manhã determinado a fazer a melhor sessão de estudos da vida, todos os dias. 

Uma preparação para cargos de alto nível pode levar muitos meses e até muitos anos. Sem constância e uma forte motivação interna é impossível vencer essa luta. Ninguém passa em concursos de alto nível por acaso. 

No Diário do Concurseiro, busco reforçar essa mentalidade: cada página do livro é projetada para lembrar ao leitor, todos os dias, que a vitória é construída aos poucos e que as pequenas realizações diárias importam. Os concurseiros que realmente se destacam são aqueles que transformam o estudo em uma rotina, mantêm-se firmes nos dias difíceis e desenvolvem uma autoconfiança que os permite superar os altos e baixos dessa trajetória. Essas qualidades não são inatas. Elas são cultiváveis em todos aqueles dispostos a aprender e são um dos pontos centrais de reflexão ao longo do livro, para que os leitores possam aplicá-las em sua própria jornada.

Planejamento de estudos para concursos públicos

Clube do Português: Qual a melhor maneira de criar um planejamento de estudos?

Thiago Melo: A chave para um bom planejamento de estudos está em equilibrar metas ambiciosas com objetivos alcançáveis e se manter flexível diante dos desafios. No livro, compartilho algumas orientações sobre como o concurseiro pode criar um plano que seja realista e eficaz, sem perder a motivação. 

Eu recomendo um planejamento diário, em formato de ciclos de estudo, de modo a permitir que o candidato adapte o cronograma a sua realidade diária. O cronograma ideal deve manter ativo o estudo dos pontos fortes do candidato, como matérias que ele já domina, por exemplo, e dar mais atenção às áreas que ainda precisam ser desenvolvidas. Equilíbrio é a chave.

A prática constante de exercícios é fundamental, assim como saber revisar e aprimorar o plano sempre que necessário. 

Contudo, não adianta ter o melhor planejamento de estudos do mundo sem disciplina. A disciplina é o motor que mantém esse planejamento funcionando; ela é o que faz a diferença entre um plano de sucesso e um que nunca sai do papel. 

Concursos públicos são para todo mundo? Motivação para seguir em frente

Clube do Português: Concursos públicos são para todo mundo? Qualquer pessoa tem capacidade de passar?

Thiago Melo: Vou responder essa pergunta com uma mensagem retirada do livro: “Vencer não é para qualquer um, mas qualquer um pode vencer!”. Deixe-me explicar melhor.

A verdade é que nem todos estão dispostos a fazer o que é necessário para conquistar a vitória, seja em concursos públicos ou em outras áreas da vida. O caminho até o sucesso exige sacrifício, dedicação, foco e muita persistência. Não é qualquer um que consegue trilhar essa jornada até o fim, e é aí que está a diferença entre quem vence e quem fica pelo caminho. 

O ponto essencial é: apesar de vencer não ser para qualquer um, qualquer um pode vencer. A minha própria história ilustra isso. Quando disputei o cargo de Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados, eu concorri com doutores, com professores de cursinhos renomados, pessoas altamente qualificadas. 

Esse é um cargo desejado por todos. Eu não era o favorito, mas eu passei. Por quê? Porque me dediquei, persisti e nunca deixei de acreditar que eu também poderia vencer, mesmo competindo com gigantes. Eu não era só “mais um”.

Se o concurseiro se enxerga apenas como “mais um”, isso pode ser um obstáculo no caminho para a sua aprovação. Mas se ele decidir, a partir de hoje, que não será apenas mais um, que vai lutar como ninguém, que vai se dedicar além do que os outros estão dispostos a fazer, ele vai vencer. Vencer exige mais do que apenas boas notas ou um histórico impecável. Exige uma mentalidade de campeão, uma determinação que não cede às dificuldades.

Bons estudos!

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