Sim, podemos! Não há nada de errado em começar frase com “mas“. Neste artigo, vamos derrubar de vez esse mito gramatical e trazer o posicionamento de vários estudiosos da língua portuguesa que validam esse uso. Também apresentaremos exemplos de autores consagrados do nosso idioma que iniciam frases com essa conjunção. Confira!

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ToggleFunção da conjunção “mas”
Em geral, “mas” exerce a função de conjunção adversativa. Nesse sentido, como explica o gramático Rocha Lima, o termo liga pensamentos contrastantes.
Segundo a professora Maria Helena de Moura Neves, o “mas” pode ligar:
a) Sintagmas (termos)
- Ele vive bem mas modestamente.
- Maria riu tímida mas sinceramente.
b) Orações
- Ela saiu bem cedo, mas não conseguiu fugir do engarrafamento.
- Rafael brigou com o irmão, mas logo se arrependeu.
c) Enunciados (bloco discursivo mais amplo)
- Se se come bem aqui não sei. Mas que se bebe bem, bebe-se!”
- Pelo menos nos últimos meses, não me acontecera nada além de fantasias. Mas a música que ressoava em algum porão da memória era antiga como um bolero… (Angela Abreu)
Preste atenção especial a esse último item, pois ele é essencial para entendermos quando “mas” pode iniciar frases.
Quando usar “mas” no início das frases?
O linguista Sírio Possenti explica que “mas” é um conectivo que faz coesão entre partes de textos. Assim, ele não é apenas uma conjunção que constrói períodos compostos.
E o que isso quer dizer?
Quer dizer que “mas” pode também relacionar grandes blocos de textos, como parágrafos, por exemplo. Nesse caso, como bem pontua o professor José Maria da Costa, é totalmente legítimo utilizar a conjunção no início da frase.
Palavra denotativa
A professora Amini Hauy traz outro caso em que podemos utilizar “mas” no início de sentenças. Isso ocorre quando o termo funciona como palavra denotativa. O que raios é isso, mestre? Trata-se de um termo que não tem função gramatical, mas é utilizado para dar um sentido especial a uma frase.
O gramático Domingos Paschoal Cegalla traz dois exemplos interessantes em seu Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa:
- Mas como ele conseguiu dominar a rebelião?
- Mas que crimes cometera ela para ser tão odiada?
Em linha com os dois estudiosos, Evanildo Bechara registra que “a língua coloquial emprega ‘mas‘ no início do período, sem nenhuma ideia de oposição, para chamar a atenção do ouvinte”.
Uso de “mas” no início de frases na literatura
Há diversos registros de autores consagrados da língua portuguesa que utilizaram o “mas” no começo de sentenças. Vamos conferir alguns:
- Toca em pontos nevrálgicos de nossa alma. Mas nem por isso é áspero ou grosseiro. (Machado de Assis)
- Mas um terror antigo, que insepulto trago no coração […] (Fernando Pessoa)
- Mas não foi preciso pôr na carta, a vizinhança concluiu logo que o major aprendia a tocar violão. Mas que cousa? Um homem tão sério metido nessas malandragens. (Lima Barreto)
- Mas desconfio que toda essa conversa é feita apenas para adiar a pobreza da história, pois estou com medo. (Clarice Lispector)
- Mas aceitar que esta cidade cheira a pêssego, exorbita. (Lygia Fagundes Telles)
Conclusão
Portanto, não há motivo para não começar frases com “mas”. Como vimos ao longo deste artigo, essa prática é respaldada por estudiosos renomados da língua portuguesa e amplamente empregada por grandes nomes da nossa literatura.
Quando usado com intenção e clareza, essa conjunção pode conectar ideias, marcar transições discursivas e até mesmo introduzir nuances de sentido.
Em vez de tratar essa construção como erro, o mais sensato é reconhecer sua riqueza expressiva e funcionalidade dentro do texto.