Os poemas de forma fixa são aqueles que se submetem a regras determinadas de combinação de versos, rimas e estrofes. Em outras palavras, são poemas que apresentam estrutura pré-definida.

Dentro do contexto dos gêneros literários, esses tipos de poema pertencem à categoria do gênero lírico. Além disso, em oposição aos poemas de forma fixa temos os poemas de forma livre, os quais apresentam versos livres e versos brancos.

Tipos e exemplos de poemas de forma fixa

Há uma grande variedade de poemas de forma fixa. Veja as principais a seguir.

Soneto

O soneto é o tipo de poema que merece destaque por sua importância em várias literaturas, inclusive na portuguesa e na brasileira. Foi criado no século XIV e apresenta duas variedades: o soneto italiano e o soneto inglês.

  1. Soneto italiano: é composto de quatorze versos, usualmente decassílabos ou alexandrinos, organizados em dois quartetos e dois tercetos. Como exemplo, podemos citar o soneto Remissão, de Carlos Drummond de Andrade:

Tua memória, pasto de poesia,

tua poesia, pasto dos vulgares,

vão se engastando numa coisa fria

a que tu chamas: vida, e seus pesares.

Mas, pesares de quê? perguntaria,

se esse travo de angústia nos cantares,

se o que dorme na base da elegia

vai correndo e secando pelos ares,

e nada resta, mesmo, do que escreves

e te forçou ao exílio das palavras,

senão contentamento de escrever,

enquanto o tempo, e suas formas breves

ou longas, que sutil interpretavas,

se evapora no fundo do teu ser?

  1. Soneto inglês: também é composto de quatorze versos, no entanto, eles são organizados em três quartetos e um dístico final, sendo escritos sem espaçamento. Para exemplificar, temos o Soneto Inglês n° 2, de Manuel Bandeira:

Aceitar o castigo imerecido,

Não por fraqueza, mas por altivez.

No tormento mais fundo o teu gemido

Trocar num grito de ódio a quem o fez.

As delícias da carne e pensamento

Com que o instinto da espécie nos engana,

Sobpor ao generoso sentimento

De uma afeição mais simplesmente humana.

Não tremer de esperança e nem de espanto.

Nada pedir nem desejar, senão

A coragem de ser um novo santo

Sem fé num mundo além do mundo. E então

Morrer sem uma lágrima, que a vida

Não vale a pena e a dor de ser vivida.

Trova

A trova é um poema de uma única estrofe, sendo composta por quatro versos heptassílabos (redondilha maior). Por isso, também é chamada de “quadra” ou “quadrinha”. Além disso, a trova não admite sequer um título, como a que temos a seguir, do poeta carioca Luiz Otávio.

Às vezes o mar bravio

dá-nos lição engenhosa:

afunda um grande navio,

deixa boiar uma rosa!

Balada

Com origem na França medieval do século XIV, a balada apresenta três oitavas e uma quadra, sendo os seus versos octossílabos. Tomemos como exemplo a balada romântica Branca…, de Olavo Bilac:

Vi-te pequena: ias rezando
Para a primeira comunhão:
Toda de branco, murmurando,
Na fronte o véu, rosas na mão.
Não ias só: grande era o bando…
Mas entre todas te escolhi:
Minh’alma foi te acompanhando,
A vez primeira em que te vi.

Tão branca e moça! o olhar tão brando!
Tão inocente o coração!
Toda de branco, fulgurando,
Mulher em flor! flor em botão!
Inda, ao lembrá-lo, a mágoa abrando,
Esqueço o mal que vem de ti,
E, o meu rancor estrangulando,
Bendigo o dia em que te vi!

Rosas na mão, brancas… E, quando
Te vi passar, branca visão,
Vi, com espanto, palpitando
Dentro de mim, esta paixão…
O coração pus ao teu mando…
E, porque escravo me rendi,
Ando gemendo, aos gritos ando,
– Porque te amei! porque – te vi!

Depois fugiste… E, inda te amando,
Nem te odiei, nem te esqueci:
– Toda de branco… Ias rezando…
Maldito o dia em que te vi!

Rondó

O rondó, também de origem francesa, apresenta três variações:

  1. Rondó francês: poema de quinze versos distribuídos em três estrofes, sendo uma quintilha, um terceto e outra quintilha. Normalmente apresenta versos octassílabos. Abaixo, temos o rondó francês de Goulart de Andrade:

De amor e ciúmes desatino,

Porque te amar é meu destino,

– Causa de gozo e de sofrer! –

Se vivo é para te querer,

Mulher, fulgor, perfume ou hino!

O meu desejo, astro divino,

Cerca-te o vulto airoso e fino,

Como a atmosfera, a te envolver,

de amor!

Ilha florida, eu te imagino,

E julgo o ciúme, agro e mofino,

Que me transforma todo o ser,

Um bravo mar sempre a gemer,

A uivar, num ímpeto tigrino

de amor!

  1. Rondó dobrado: apresenta seis quadras ou cinco quadras, estando a última unida a um terceto. Os dois primeiros versos se repetem no início de todas as quadras, como no clássico abaixo, Rondó dos Cavalinhos, de Manuel Bandeira:

Os cavalinhos correndo,

E nós, cavalões, comendo…

Tua beleza, Esmeralda,

Acabou me enlouquecendo.

Os cavalinhos correndo,

E nós, cavalões, comendo…

O sol tão claro lá fora

E em minh’alma — anoitecendo!

Os cavalinhos correndo,

E nós, cavalões, comendo…

Alfonso Reyes partindo,

E tanta gente ficando…

Os cavalinhos correndo,

E nós, cavalões, comendo…

A Itália falando grosso,

A Europa se avacalhando…

Os cavalinhos correndo,

E nós, cavalões, comendo…

O Brasil politicando,

Nossa! A poesia morrendo…

O sol tão claro lá fora,

O sol tão claro, Esmeralda,

E em minh’alma — anoitecendo!

  1. Rondó simples: apresenta três estrofes, sendo duas quadras e uma sextilha. O exemplo dessa modalidade também vem de Manuel Bandeira e se intitula Rondó de Colombina:

De Colombina o infantil borzeguim

Pierrot aperta a chorar de saudade.

O sonho passou. Traz magoado o rim,

Magoada a cabeça exposta à umidade.

Lavou o orvalho o alvaiade e o carmim.

A alva desponta. Dói-lhe a claridade

Nos olhos tristes. Que é dela?… Arlequim

Levou-a! e dobra o desejo à maldade

De Colombina.

O seu desencanto não tem um fim.

Pobre Pierrot! Não lhe queiras assim.

Que são teus amores?… — Ingenuidade

E o gosto de buscar a própria dor.

Ela é de dois?… Pois aceita a metade!

Que essa metade é talvez todo o amor

De Colombina…

Rondel

O rondel é composto por treze versos, os quais se dividem em três estrofes, sendo duas quadras seguidas de uma quintilha. Os dois primeiros versos da primeira quadra se repetem no final da segunda, e o primeiro verso da primeira quadra repete-se no final da quintilha. Também é de origem francesa e não apresenta esquema rígido de rimas e de métricas, porém é frequente o uso de duas rimas. Confira o exemplo abaixo, o poema Marinha, de Olavo Bilac.

Sobre as ondas oscila o batel docemente…

Sopra o vento a gemer. Treme enfunada a vela.

Na água mansa do mar passam tremulamente

Áureos traços de luz, brilhando esparsos nela.

Lá desponta o luar. Tu, palpitante e bela,

Canta! Chega-te a mim! Dá-me essa boca ardente!

Sobre as ondas oscila o batei docemente…

Sopra o vento a gemer. Treme enfunada a vela.

Vagas azuis, parai! Curvo céu transparente,

Nuvens de prata, ouvi! – Ouça na altura a estrela, 

Ouça de baixo o oceano, ouça o luar albente:

Ela canta! – e, embalado ao som do canto dela, 

Sobre as ondas oscila o batel docemente.

Sextina

A sextina é um poema composto por seis sextilhas (ou sexteto) e um terceto. Um bom exemplo é a Sextina, de Luís de Camões:

Foge-me pouco a pouco a curta vida

(se por caso é verdade que inda vivo);

vai-se-me o breve tempo d’ante os olhos;

choro pelo passado e quando falo,

se me passam os dias passo e passo,

vai-se-me, enfim, a idéia e fica a pena.

Que maneira tão áspera de pena!

Que nunca úa hora viu tão longa vida

em que possa do mal mover-se um passo.

Que mais me monta ser morto que vivo?

Para que choro, enfim? Para que falo,

se lograr-me não pude de meus olhos?

Ó fermosos, gentis e claros olhos,

cuja ausência me move a tanta pena

quanta se não compreende enquanto falo!

Se, no fim de tão longa e curta vida,

de vós m’inda inflamasse o raio vivo,

por bem teria tudo quanto passo.

Mas bem sei, que primeiro o extremo passo

me há-de vir a cerrar os tristes olhos

que Amor me mostre aqueles por que vivo.

Testemunhas serão a tinta e pena,

que escreveram de tão molesta vida

o menos que passei e o mais que falo.

Oh! que não sei que escrevo, nem que falo!

Que se de um pensamento n’outro passo,

vejo tão triste gênero de vida

que, se não lhe não valerem tantos olhos,

não posso imaginar qual seja a pena

que traslade esta pena com que vivo.

N’alma tenho contino um fogo vivo,

que, se não respirasse no que falo,

estaria já feita cinza e pena;

mas, sobre a maior dor que sofro e passo,

me temperam as lágrimas dos olhos

com que, fugindo, não se acaba a vida.

Morrendo estou na vida, e em morte vivo;

vejo sem olhos, e sem língua falo;

e juntamente passo glória e pena.

Haicai

O haicai é um poema de origem japonesa e sua criação deu-se no século XVI. É formado por apenas três versos, sendo o primeiro verso pentassílabo; o segundo, heptassílabo; o terceiro, pentassílabo. No Brasil, o escritor responsável por fixar os haicais na literatura brasileira foi o poeta Guilherme de Almeida. Veja abaixo o seu haicai intitulado Rosa:

Rosa (que exibida!)

que posa assim toda prosa

é prova de vida.

Vilancete

O vilancete era um poema de forma fixa comum na Península Ibérica, na época da Renascença. Era composto por um mote curto, de dois ou três versos, e uma ou mais estrofes de sete versos. Um dos vilancetes mais conhecidos é do Cancioneiro Geral, de Garcia de Resende.

Meu bem, sem vos ver,

se vivo um dia,

viver não queria.

Calando e sofrendo

meu mal sem medida,

mil mortes na vida

sinto, não vos vendo.

E pois que, vivendo,

morro toda via,

viver não queria.

Pantum

O pantum é originário das canções nativas da Malásia. É composto por quadras com rimas entrecruzadas. Por regra, intercala os versos da seguinte forma: o segundo e o quarto versos de cada estrofe passam a ser o primeiro e o terceiro versos da estrofe seguinte, além de o primeiro verso do poema também ser o verso final. Um clássico exemplo desse tipo de poema de forma fixa é o Pantum, de Olavo Bilac:

Quando passaste, ao declinar do dia,

Soava na altura indefinido arpejo:

Pálido, o sol do céu se despedia,

Enviando à terra o derradeiro beijo.

Soava na altura indefinido arpejo…

Cantava perto um pássaro, em segredo;

E, enviando à terra o derradeiro beijo,

Esbatia-se a luz pelo arvoredo.

Cantava perto um pássaro em segredo;

Cortavam fitas de ouro o firmamento…

Esbatia-se a luz pelo arvoredo:

Caíra a tarde; sossegara o vento.

Cortavam fitas de ouro o firmamento…

Quedava imoto o coqueiral tranquilo…

Caíra a tarde. Sossegara o vento.

Que mágoa derramada em tudo aquilo!

Quedava imoto o coqueiral tranquilo…

Pisando a areia, que a teus pés falava,

(Que mágoa derramada em tudo aquilo!)

Vi lá embaixo o teu vulto que passava.

Pisando a areia, que a teus pés falava,

Entre as ramadas floridas seguiste.

Vi lá embaixo o teu vulto que passava…

Tão distraída! – nem sequer me viste!

Entre as ramadas floridas seguiste,

E eu tinha a vista de teu vulto cheia.

Tão distraída! – nem sequer me viste!

E eu contava os teus passos sobre a areia.

Eu tinha a vista de teu vulto cheia.

E, quando te sumiste ao fim da estrada,

Eu contava os teus passos sobre a areia:

Vinha a noite a descer, muda e pausada…

E, quando te sumiste ao fim da estrada,

Olhou-me do alto uma pequena estrela.

Vinha a noite, a descer, muda e pausada,

E outras estrelas se acendiam nela.

Olhou-me do alto uma pequena estrela,

Abrindo as áureas pálpebras luzentes:

E outras estrelas se acendiam nela,

Como pequenas lâmpadas trementes.

Abrindo as áureas pálpebras luzentes,

Clarearam a extensão dos largos campos;

Como pequenas lâmpadas trementes

Fosforeavam na relva os pirilampos.

Clarearam a extensão dos largos campos…

Vinha, entre nuvens, o luar nascendo…

Fosforeavam na relva os pirilampos…

E eu inda estava a tua imagem vendo.

Vinha, entre nuvens, o luar nascendo:

A terra toda em derredor dormia…

E eu inda estava a tua imagem vendo,

Quando passaste ao declinar do dia!

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