“Corroborar algo” ou “Corroborar com algo”: qual a regência correta?

Observe a seguinte frase: “O depoimento da testemunha parece corroborar com a tese da acusação.”

Apesar de, para muita gente, a sentença acima soar correta, ela apresenta um erro de regência. Afinal, o verbo corroborar sempre pede um complemento direto, ou seja, sem preposição.

Neste artigo, vamos fazer uma análise completa desse verbo e mostrar a forma correta de utilizá-lo. Confira!

"Corroborar algo" ou "Corroborar com algo": qual a regência correta?

Regência do verbo corroborar

A maioria dos estudiosos da Língua Portuguesa – como Pasquale Cipro Neto e Domingos Paschoal Cegalla – e dos dicionários – como Houaiss, Priberam e Aulete – classifica o verbo corroborar como transitivo direto ou transitivo direto pronominal.

Celso Pedro Luft, em seu Dicionário Prático de Regência Verbal, registra também que o verbo pode ser transitivo direto e indireto. Essa, porém, parece ser uma posição minoritária.

Note, contudo, que, em nenhum dos casos, corroborar pode ser usado apenas como transitivo indireto – como ocorre na frase que abre este artigo.

Vamos conferir agora cada uma dessas possibilidades.

Verbo corroborar como transitivo direto

Quando usado como transitivo direto, corroborar apresenta um complemento não preposicionado. Nesse contexto, ele tem o sentido de “confirmar”, “reforçar” ou “ratificar”. Vejamos alguns exemplos:

  • A pesquisa recente corrobora a teoria de que o sono afeta diretamente o desempenho cognitivo.
  • Os dados estatísticos corroboram as alegações feitas pelo especialista durante a entrevista.
  • Seu depoimento corroborou a versão apresentada pela defesa.

Verbo corroborar como transitivo direto pronominal

Como mostra o dicionário Houaiss, o verbo corroborar-se (sempre utilizado com a partícula “se”) é sinônimo de “fortificar-se”, “fortalecer-se”, “robustecer-se”. Para entender melhor, vamos conferir alguns casos de uso:

  • Com o tempo e a prática constante, ele corroborou-se diante das dificuldades do ofício.
  • A fé do povo corroborava-se a cada vitória conquistada com esforço e união.
  • O movimento social corroborou-se após os sucessivos apoios vindos de diferentes setores da sociedade.

Verbo corroborar como transitivo direto e indireto

Celso Pedro Luft, em posição não abonada por grande parte dos estudiosos da língua, admite a classificação de corroborar como transitivo direto e indireto. Nessa situação, o verbo teria um objeto indireto regido pela preposição “com”, conforme o exemplo abaixo:

  • A base do governo corroborou a fala do Presidente da República com novos argumentos.

Nesse caso, de acordo com a visão de Luft, “a fala” seria o objeto direto e “com novos argumentos” o objeto indireto.

Entretanto, como dito acima, essa é uma posição minoritária. Para a maioria dos pesquisadores do nosso idioma, corroborar não pode ter um objeto indireto.

Nesse sentido, na frase acima, a expressão “com novos argumentos” é, na verdade, um adjunto adverbial de meio, e não um complemento indireto.

Cruzamento sintático: por que dizemos “corroborar com”?

Na Língua Portuguesa, existe um fenômeno chamado cruzamento sintático. Ele ocorre quando duas estruturas semelhantes se confundem e dão origem a uma nova forma, que em geral não está de acordo com as normas gramaticais.

É exatamente no caso que estamos vendo neste artigo. Por conta de uma analogia com o verbo concordar – que é transitivo indireto e pede a preposição “com” – muita gente se confunde com a regência do verbo corroborar, que não pede a preposição.

Por fim, vale destacar que, segundo os dicionários Houaiss, Priberam e Aulete, corroborar não é sinônimo de concordar.

Resumo

Para ajudá-lo a fixar o que tratamos aqui, preparamos a tabela-resumo abaixo:

RegênciaExemploObservação
Transitivo diretoA pesquisa corrobora a teoria.Não exige preposição.
Transitivo direto pronominal (corroborar-se)O movimento social corroborou-se após os apoios.Significa fortalecer-se.
Transitivo direto e indireto (minoritário)A base corroborou a fala com novos argumentos.Interpretação contestada; “com” pode introduzir adjunto adverbial.
Uso incorreto (erro comum)O depoimento corroborou com a tese da acusação.Erro por analogia com o verbo concordar.

Conclusão

Em resumo, embora seja comum encontrarmos o uso do verbo corroborar com a preposição “com”, essa construção está em desacordo com a norma culta da língua.

Entender corretamente a regência desse verbo é fundamental para quem deseja escrever com precisão e evitar vícios de linguagem decorrentes de cruzamentos sintáticos.


Confira uma versão resumida do tema debatido neste artigo no vídeo abaixo:

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