Romantismo: guia definitivo do movimento literário

Movimento marcado pelo sentimentalismo, pela idealização amorosa e pela fuga da realidade, o Romantismo teve como primeira obra “Os sofrimentos do Jovem Werther”, de Goethe (1749-1832). Embora tenha surgido na Alemanha, o movimento espalhou-se por toda a Europa, tendo destaque em outros países. 

Em Portugal, por exemplo, obras como “Amor de perdição”, de Camilo Castelo Branco, e “As pupilas do Senhor Reitor”, de Júlio Dinis, tiveram um grande destaque. Já no Brasil, “A viuvinha”, de José de Alencar, e “A moreninha”, de Joaquim Manuel de Macedo, são alguns dos clássicos mais populares desse estilo.

Evidenciado pela Revolução Francesa, o movimento foi complexo e definido como a arte da nova burguesia. Continue a leitura e conheça mais detalhes e características do romantismo.

A figura mostar várias imagens relacionadas ao romantismo

Resumo sobre romantismo

  • O romantismo surgiu na Alemanha em 1774, com a obra “Os sofrimentos do Jovem Werther”, de Goethe.
  • Na Europa, o marco histórico para o surgimento do movimento foi a Revolução Francesa. No Brasil, foi chegada da Família Real portuguesa ao país
  • As principais características são a oposição ao classicismo, o excesso sentimental, o nacionalismo, o indianismo, a valorização do “eu” e o uso de versos livres.
  • Em Portugal, seus principais autores são Almeida Garrett, Camilo Castelo Branco e Júlio Dinis.
  • No Brasil, Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Castro Alves e José de Alencar são importantes nomes do romantismo.

Origem e conceito do romantismo

O romantismo surgiu nas últimas décadas do século XVIII, na Europa, e durou até o início do realismo no século XIX. 

No entanto, o movimento europeu alcançou mais países e inspirou outros campos além da literatura, como a pintura, a escultura, a arquitetura e a música. Além disso, influenciou o pensamento político e a filosofia da época.

Durante esse período, houve uma visão de mundo centrada no indivíduo, chamada de “espírito romântico”. O seu objetivo era se diferenciar do pensamento iluminista, o qual colocava a razão no centro de tudo. 

Assim, o romantismo produziu diversas teorias filosóficas e obras artísticas muito subjetivas. Os autores do movimento retratavam o drama humano e as mais diferentes emoções vivenciadas pela sociedade.

No Brasil, o movimento se iniciou em meados do século XIX, com a obra “Suspiros e Saudades”, de Gonçalves de Magalhães. 

Contexto histórico do romantismo

Como já mencionado, o principal fato histórico associado ao romantismo foi a Revolução Francesa. Assim, o movimento nasceu em um período de transformações políticas e sociais, quando a burguesia entrava em ascensão. Em outras palavras, o romantismo seguia os valores burgueses, indo contra a visão do iluminismo.

Desse modo, enquanto o iluminismo enfatizava a razão, o progresso e o universalismo, o romantismo valorizava a emoção e o subjetivismo. Os autores do movimento defendiam a expressão das emoções e o individualismo, com foco na originalidade e na liberdade criativa.

Inclusive, o lema da revolução, “Liberdade, igualdade e fraternidade”, inspirou os românticos a enaltecer a liberdade de pensamento e comportamento. A busca pelo “eu” interior tornou-se central, e temas como a solidão, o amor, a melancolia e a morte foram demasiadamente explorados na literatura e nas artes visuais. 

Além disso, durante o período romântico muitos países passaram a valorizar sua cultura e tradições populares, como lendas, mitos e folclore. O nacionalismo foi uma característica fundamental do romantismo, especialmente na Alemanha, Itália e Espanha que estavam em busca de sua nacionalidade e autenticidade cultural.

Contexto histórico do romantismo no Brasil

No Brasil, o fato histórico que permeia o movimento romântico é a chegada da família real portuguesa ao país, em 1808. Como consequência da chegada do monarca, o Brasil deixa de ser uma colônia de exploração e passa a ser a sede do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.

Essa mudança trouxe uma onda de modernização para país, com fundação de instituições importantes, como o Banco do Brasil, a Imprensa Nacional e Museus Nacional. Ademais, há também uma ampliação no investimento na cultura e também a chegada de influências de movimentos artísticos e literários que vinham da Europa.

Principais características do romantismo

O romantismo foi um movimento de fortes emoções e sentimentalismo exagerado. Além disso, outras características desse estilo na literatura são:

  • liberdade de expressão e criação;
  • valorização do “eu”, o indivíduo;
  • nacionalismo;
  • religiosidade e cristianismo;
  • valorização da natureza;
  • estrutura do texto em prosa;
  • uso de versos livres e versos brancos;
  • narrativa ampla refletindo uma sequência de tempo;
  • uso intenso de exclamações;
  • idealização do homem e da mulher;
  • subjetivismo e egocentrismo;
  • criação de um herói nacional;
  • fuga da realidade;
  • oposição ao classicismo.

Vale destacar que o classicismo foi um movimento que ocorreu na Europa no século XVI. No entanto, embora apresente valores opostos ao romantismo, possui alguns atributos em comum.

Confira abaixo, as principais diferenças entre os dois movimentos:

ROMANTISMOCLASSICISMO
Não tem um padrãoSegue um modelo único
IndividualUniversal
Pessoal e subjetivoImpessoal e objetivo
SentimentalismoRacionalismo
ExageroEquilíbrio
ImaginaçãoInteligência
SensibilidadeRazão
FolcloreErudição
Imagem sentimental e subjetiva do homem e da mulherImagem racional do homem e da mulher 
Versos livres e versos brancosPerfeccionismo da forma 
CristianismoPaganismo

No entanto, conforme mencionado, o romantismo e o classicismo têm características em comum, como o bucolismo e a idealização do amor e da mulher. 

Romantismo em Portugal

Em Portugal, o romantismo começou na mesma época em que Dom Pedro renunciava ao seu poder no Brasil e lutava pelo trono de Portugal. Esse fato intensificou as lutas civis entre os liberais e os conservadores. 

O marco inicial do movimento foi a publicação do poema “Camões”, escrito por Almeida Garrett enquanto estava exilado em Paris, em 1825. Vale dizer também que o romantismo em Portugal teve duas fases:

  • Primeira fase (1825-1840): marcada pelo nacionalismo.
  • Segunda fase (1840-1860): definida pelo caráter ultrarromântico, com melancolia, pessimismo e sentimentalismo.
  • Terceira fase (1860-1870): caracterizada por uma menor idealização e maior ênfase em temáticas sociais e críticas sociopolíticas.

Principais autores do romantismo em Portugal

Os principais autores do romantismo em Portugal marcaram a fase literária com temas repletos de sentimentalismo, nacionalismo e valorização do individualismo. Entre os mais destacados, podemos citar:

  • Almeida Garrett (1799-1854): poeta, dramaturgo, romancista e político;
  • António Feliciano de Castilho (1800-1875): poeta e tradutor;
  • Alexandre Herculano (1810-1877): historiador e romancista;
  • Camilo Castelo Branco (1825-1890): dramaturgo, cronista, romancista e crítico literário;
  • Soares de Passos (1826-1860): poeta, advogado e jornalista;
  • João de Deus (1830-1896): poeta e pedagogo;
  • Júlio Dinis (1839-1871): escritor e médico;
  • Antero de Quental (1842-1891): escritor, advogado e poeta. 

Obras do romantismo em Portugal

Assim como os autores, algumas obras do romantismo em Portugal se destacam. São elas:

  • “Camões” (1825) – Almeida Garrett
  • “Amor e Melancolia” (1828) – Antônio Feliciano de Castilho
  • “O Presbítero” (1844) – Alexandre Herculano
  • “Amor de perdição” (1862) – Camilo Castelo Branco
  • “Despedidas de verão” (1880) – João de Deus
  • “As pupilas do Senhor Heitor” (1866) – Júlio Dinis
  • “Poesia” (1856) – Soares de Passos

Romantismo no Brasil

O romantismo no Brasil se iniciou no século XIX, por meio de uma literatura marcada pelo indianismo e pelo culto à nossa flora e fauna. Os autores brasileiros se concentravam em personagens do interior e seus costumes locais. 

A literatura romântica retratava lutas políticas e sociais, como o movimento abolicionista, o poder agrário e a relação entre indústrias e operários. Além disso, assim como em Portugal, o romantismo brasileiro teve três fases:

  • Primeira geração (1836-1853): marcada pelo indianismo e nacionalismo (geração nacionalista-indianista).
  • Segunda geração (1853-1870): ultrarromantismo definido pelo pessimismo (geração ultrarromântica).
  • Terceira geração: (1870-1881): reconhecida pela crítica sociopolítica e por uma visão menos idealizada da realidade (geração condoreira).
Mapa mental sobre as gerações do romantismo brasileiro

Principais autores do romantismo no Brasil

Os principais autores do romantismo brasileiro marcaram de forma profunda a literatura nacional. O movimento foi caracterizado pela valorização dos sentimentos, da natureza, do nacionalismo e de temas sociais, como o indígena idealizado. Alguns dos mais populares escritores incluem:

  • Gonçalves de Magalhães (1811-1882): escritor, médico, deputado e diplomata;
  • Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882): médico, jornalista, escritor, professor, romancista, poeta, literato, teatrólogo, memorialista e político;
  • Maria Firmina dos Reis (1822-1917): escritora e educadora;
  • Gonçalves Dias (1823-1864): poeta, professor, jornalista e teatrólogo;
  • Bernardo Guimarães (1825-1884): escritor, poeta, jornalista, professor, juiz e advogado;
  • José de Alencar (1829-1877): escritor, político, jornalista, advogado, crítico, dramaturgo e poeta;
  • Manuel Antônio de Almeida (1830-1861): escritor, jornalista, cronista, crítico literário e professor;
  • Álvares de Azevedo (1831-1852): poeta, escritor e contista;
  • Sousândrade (1833-1902): escritor e professor;
  • Casimiro de Abreu (1839-1860): escritor e poeta;
  • Castro Alves (1847-1871): escritor e poeta.
  • Visconde de Taunay (1843-1899): escritor, músico, professor, engenheiro militar, político, historiador e sociólogo. 

Principais obras do romantismo no Brasil

Entre tantas obras de destaque no romantismo brasileiro, podemos mencionar: 

  • “Suspiros poéticos e saudades” (1836) – Gonçalves de Magalhães
  • “A moreninha” (1844) – Joaquim Manuel de Macedo
  • “Úrsula” (1859) – Maria Firmina dos Reis
  • “Canção do exílio” (1843) – Gonçalves Dias
  • “A escrava Isaura” (1875) – Bernardo Guimarães
  • “A Viuvinha” (1857) – José de Alencar
  • “Memórias de um sargento de milícias” (1854) – Manuel Antônio de Almeida
  • “Noite na taverna” (1855) – Álvares de Azevedo
  • “Harpas Selvagens” (1857) – Sousândrade
  • “As primaveras” (1859) – Casimiro de Abreu
  • “O Navio Negreiro” (1869) – Castro Alves
  • “Inocência” (1872) – Visconde de Taunay

Prosa romântica

Os textos em prosa do romantismo apresentavam, em geral, enredos sobre amor e aventura, sempre pautados pelos valores burgueses.

As obras eram marcadas por uma narrativa previsiva e maniqueísta, na qual o antagonista era visto como mau por natureza e o protagonista como fonte de virtude e coragem. Nesse sentido, a maioria dos romances seguia uma estrutura lienar e apresentava um desfecho feliz.

Em síntese, o núcleo da maioria das histórias era composto por um casal apaixonado que enfrenta obstáculos sociais e morais para concretizar seu amor idealizado.

Tipos de romances

Nesse contexto, os romances podem ser divididos em quatro tipos principais: indianistas, regionalistas, históricos e urbanos. Vejamos as principais características de cada grupo:

  • Romances Indianistas: retrata a vida e os costumes dos povos indígenas. Nesse sentido, o indígena era visto como herói nacional, descrito como corajoso, forte e gentil. Ademais, há também uma exaltação da natureza do Brasil. Exemplos deste tipo de romance são os livros “Iracema“, “O Guarani” e “Ubirajara”, de José de Alencar.
  • Romances Regionalistas: exalta a cultura sertaneja do campo e do ambiente rural. Nesse ínterim, ressalta o sentimento de pertencimento que o protagonista tem em relação à sua terra, lutando bravamente para valorizá-la e protegê-la. Não há, contudo, uma exposição de tensões sociais. Trata-se de um relato mais ameno e idealizado da cultura regional. Exemplos deste tipo de romance são os livros “Inocência”, de Visconde de Taunay, “O Tronco do Ipê” e “Til e O Gaúcho”, de José de Alencar e “A Escrava Isaura”, de Bernardo Guimarães.
  • Romances Históricos: faz relatos sobre uma época passada, mesclando realidade com ficção e dando destaque para personagens históricos. Livros como “As Minas de Prata” e “A Guerra dos Mascates”, ambos de José de Alencar, são exemplos deste tipo de romance.
  • Romances Urbanos: é o tipo mais popular de romance. Funcionam como narrativa de costumes e retratam histórias que ocorrem nas capitais e na alta sociedade. Em geral, os protagonistas tinham que superar várias barreiras em busca da felicidade, da realização do amor e do casamento

Poesia romântica

A poesia no romantismo brasileiro apresenta diferentes características de acordo com o período em que foi escrita. Vejamos os principais aspectos da produção poética de cada geração do movimento romântico:

Caraterísticas da poesia romântica da Primeira Geração:

  • Nacionalismo
  • Exaltação dos povos indígenas (indianismo)
  • Valorização da natureza
  • Saudosismo (idealização do passado)

Caraterísticas da poesia romântica da Segunda Geração:

  • Individualismo e egocentrismo
  • Pessimismo
  • Temas de amor, morte, medo.
  • Fuga da realidade

Caraterísticas da poesia romântica da Terceira Geração:

  • Poesia social e libertária
  • Inclusão de elementos eróticos e pecaminosos
  • Oposição ao amor platônico

Questões sobre romantismo

Para fechar este guia completo sobre o romantismo vamos conferir três questões sobre o movimento:

Questão 1 (IBMEC – RJ)

SABIÁ -Tom Jobim  e Chico Buarque
Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Para o meu lugar
Foi lá e é ainda lá
Que eu hei de ouvir
Uma sabiá

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Vou deitar à sombra de uma palmeira
Que já não há
Colher a flor que já não dá
E algum amor talvez possa espantar
As noites que eu não queria
E anunciar o dia

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Não vai ser em vão
Que fiz tantos planos de me enganar
Como fiz enganos de me encontrar
Como fiz estradas de me perder
Fiz de tudo e nada de te esquecer (…)

A canção “Sabiá” é apenas uma das inúmeras releituras e citações que o poema de Gonçalves Dias, “Canção do Exílio” recebeu a partir do Modernismo. Esse poeta pertenceu à 1ª geração do Romantismo Brasileiro. Nas opções abaixo, assinale a única que não apresenta características desse estilo de época.

a) Nacionalismo, onde a exaltação da pátria somente enaltece as qualidades.
b) Exaltação da natureza.
c) Sentimentalismo e religiosidade.
d) Indianismo.
e) Conceptismo (jogo de ideias) e cultismo (jogo de palavras).

Questão 2. (FUVEST)

Poderíamos sintetizar uma das características do Romantismo pela seguinte aproximação de opostos:

a) Aparentemente idealista, foi, na realidade, o primeiro momento do Naturalismo Literário.
b) Cultivando o passado, procurou formas de compreender e explicar o presente.
c) Pregando a liberdade formal, manteve-se preso aos modelos legados pelos clássicos.
d) Embora marcado por tendências liberais, opôs-se ao nacionalismo político.
e) Voltado para temas nacionalistas, desinteressou-se do elemento exótico, incompatível com a exaltação da pátria.

Questão 3. (PUC-MG)

Os fragmentos abaixo, retirados de obras da Literatura Brasileira, caracterizam a ideologia criada pelo Indianismo, exceto:
a) “(…) No “O Guarani” o selvagem é um ideal, que o escritor intenta poetizar, despindo-o da crosta grosseira de que o envolveram os cronistas…”
b) “(…) Os tupis desceram para serem absorvidos. Para se diluírem no sangue da gente nova. Para viver subjetivamente e transformar numa prodigiosa força a bondade do brasileiro e o seu grande sentimento de humanidade.”
c) “(…) Criaturas de Deus, de bons corpos e bom espírito, ainda sem religião e educáveis no bem ou no mal. Seria fácil trazê-las de sua virtude natural à virtude consciente do Cristianismo, para sua eterna salvação.”
d) “(…) Era Peri. Altivo, nobre, radiante da coragem invencível e do sublime heroísmo de que já dera tantos exemplos, o índio se apresentava só em face de duzentos inimigos fortes e sequiosos de vingança.”
e) “(…) contra o índio de tocheiro. O índio filho de Maria, afilhado de Catarina de Médicis e genro de Antônio de Mariz.”

Gabarito comentado

  • Questão 1 – Resposta: Letra E. Como vimos, o romantismo no Brasil, principalmente na 1ª geração, era marcado pelo marcada pelo indianismo e nacionalismo. Ademais, havia também fortes traços de sentimentalismo e idealização do amor romântico e também uma exaltação da natureza, muito comum principalmente em romances e poesias indianistas.
  • Questão 2 – Resposta: Letra B. De fato, o romantismo exaltou muito o passado, como pode ser visto, por exemplos, nos romances históricos. Essa exaltação, contudo, não era apenas saudosismo, mas tinha como objetivo trazer elementos de épocas pretéritas para a pauta do dia a dia da sociedade. Por isso, é correto dizer que o movimento, cultivando o passado, procurou formas de compreender e explicar o presente.
  • Questão 3 – Resposta: Letra E. O indígena, na obras do romantismo, era visto de forma idealizada, como fonte de bravura, pureza e brasilidade. Em todas as alternativas, há elementos dessa ode aos povos originários, exceto na letra E, que traz apenas um trecho descritivo do romance.

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