Semântica é um ramo da linguística que trata da significação das palavras, as quais podem estar isoladas ou contextualizadas. Trata-se de um campo de estudo vasto e com diferentes vertentes.
Neste artigo, vamos conferir como esse tópico aparece em provas de concursos públicos. Veremos os assuntos mais cobrados e também exemplos de questões. Confira!
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ToggleComo semântica é cobrada nos concursos?
De acordo com um levantamento feito no site Tec Concursos, com 15.395 questões das cinco maiores bancas de concursos do Brasil (Cespe/Cebraspe, FGV, FCC, Vunesp e Cesgranrio) nos últimos cinco anos, semântica responde por 7.98% das questões de língua portuguesa.
Dentro desse total, os principais tópicos cobrados são:
- Significação de Vocábulo e Expressões.
- Denotação e Conotação;
- Sinônimos e Antônimos.
A distribuição das questões por cada tema pode ser vista no gráfico abaixo:
Dentro do grupo “outros tópicos de semântica”, podemos destacar três assuntos: homônimos e parônimos, polissemia, hipônimos e hiperônimos.
Agora vamos mergulhar um pouco mais em cada um dos principais temas!
Significação de Vocábulo e Expressões
A pesquisadora Márcia Cançado, em seu Manual de Semântica (p.21), explica que “cada palavra e cada sentença estão convencionalmente associadas a, pelo menosm um significado. Desse modo, uma teoria semântica deve, em relação a qualquer língua, ser capaz de atribuir a cada palavra e a cada sentença o significado (ou significados) que lhe(s) é (são) associado(s)”.
Nesse contexto, vale dizer que as palavras e frases variam de sentido de acordo com o contexto ou com a ordem em que são combinadas e conectadas. E é isso que é cobrado em questões sobre a significação de vocábulos e expressões.
Para deixar mais claro, vamos conferir uma questão:
FGV – 2024 – Residente (TJ RJ)/Tecnologia da Informação
Nas frases a seguir há expressões populares sublinhadas. Assinale a frase em que o significado de uma expressão foi corretamente indicado.
a) Cada vez que o Brasil tira a cabeça fora d’água e mostra que é competitivo, vem bomba. / passa a ver melhor as coisas.
b) Os estrangeiros terão de comer muito feijão para chegar à posição de maior banco do mundo. / terão de trabalhar muito.
c) Se abrirmos a porteira, passa uma boiada e o país pode quebrar. / deixarmos de progredir.
d) Se sinto que estou deixando o sucesso subir à cabeça, vou ao banheiro, pego minha cueca e lavo; enxáguo e deixo lá secando. / atingir o seu ponto máximo.
e) Tem-se que dar muito murro para chegar a comprar um casarão na Flórida. / superar obstáculos.
Resposta: Letra B.
Comentário: A expressão “comer muito feijão” tem o mesmo valor semântico de “trabalhar muito”. Para entender o sentido dessa construção popular, é preciso avaliar o significado dentro do contexto da frase.
Denotação e Conotação
Os gramáticos Paschoalin e Spadoto (p.352) explicam que denotação “é o uso da palavra com seu sentido original, convencional ou usual”. Dito de outra forma, é o significado primário termo.
– Ganhei um cachorro lindo dos meus pais. (cachorro = animal)
– A massa do bolo ficou muito mole. (mole = flácida)
Por sua vez, a conotação é o oposto de denotação e trata dos sentidos secundários da palavra. Como explicam os estudiosos, “é o uso da palavra com um significado novo, diferente do original ou do convencional, criado pelo contexto”.
– Ele está matando cachorro a grito. (matar cachorro a grito = situação desesperadora)
– Era uma pessoa de coração mole. (mole = sensível)
Agora que conhecemos os conceitos, vamos ver como eles são cobrados em concursos:
FGV – 2024 – Técnico Judiciário (TRF 1ª Região)/Administrativa/Agente da Policia Judicial
A frase em que as palavras sublinhadas repetidas mostram significados diferentes é:
a) No Brasil é igual lá em casa: quem fala não manda e quem manda não fala;
b) Uma batalha perdida é uma batalha que se crê perdida;
c) A guerra é a guerra dos homens; a paz é a guerra das ideias;
d) Nas crises políticas, para o homem honrado, o mais difícil não é cumprir o seu dever e sim saber qual é esse dever;
e) Um refugiado africano precisa de menos calorias e menos roupas do que um refugiado de Kosovo?
Resposta: Letra C.
Comentário: Na primeira menção, o substantivo “guerra” é usado com sentido denotativo, literal. Ele representa a batalha entre os homens. Já na segunda menção, o substantivo é utilizado no sentido conotativo, para expressar a controvérsia entre diferentes linhas de pensamento.
Sinônimos e Antônimos
De acordo com Napoleão Mendes de Almeida (p.370), sinônimos “são palavras diferentes na forma, mas iguais ou semelhantes na significação; se a significação é igual, os sinônimos dizem-se perfeitos (o que é raro); se semelhante, imperfeitos”. Nesse sentido, vejamos alguns exemplos de sinônimos:
– bonito e belo
– gigante e enorme
– humilde e modesto
– excelente e maravilhoso
Já antônimos, segundo o gramático, “são palavras diferentes na forma e opostas na significação”. Vamos conferir exemplos de antônimos:
– bem e mal
– bom e ruim
– longe e perto
– amigo e inimigo
Para compreender como esse tópico cai nas provas de concurso, vamos conferir uma questão:
VUNESP – 2024 – Analista (Osasco)/Negócios
Considere as frases do primeiro parágrafo.
- Ainda não cheguei a esse estado de selvageria.
- Provavelmente é mais fácil pilotar um avião.
- Irredutível, o aparelho marca o tempo que considera adequado.
Supondo que o cronista quisesse dar sentido oposto às ideias expressas nas frases, os termos destacados deveriam ser substituídos, respectivamente, por:
a) estupidez; Indubitavelmente; Obstinado.
b) placidez; Certamente; Intransigente.
c) ferocidade; Categoricamente; Empático.
d) equilíbrio; Presumivelmente; Inflexível.
e) serenidade; Seguramente; Condescendente.
Resposta: Letra E.
Comentário: A questão está pedindo que encontremos os antônimos dos termos destacados, ou seja, vocábulos com sentido inverso. Note que as alternativas mesclam antônimos com sinônimos das palavras em negrito. Portanto, para resolver o exercício, é preciso compreender bem os conceitos.
Outros tópicos de semântica
Para fechar este artigo, vamos passar por alguns tópicos de semântica que, apesar de não serem recorrentes, vez ou outra aparecem nas provas:
Homonímia
Homonímia é o tema da semântica que trata de palavras iguais na pronúncia e/ou na grafia, mas com significados diferentes.
Como explica Evanildo Bechara (p.403), trata-se da “propriedade de duas ou mais formas, inteiramente distintas pela significação ou função, terem a mesma estrutura fonológica, os mesmos fonemas, dispostos da mesma ordem e subordinados ao mesmo tipo de acentuação”.
Nesse sentido, os homônimos podem ser classificados em:
a) homônimos homófonos: apresentam pronúncia igual e grafia diferente.
– bucho (estômago de animais) e buxo (tipo de arbusto)
– acender (iluminar) e ascender (elevar)
– concerto (show) e conserto (reparo)
– cerrar (fechar) e serrar (cortar)
b) homônimos perfeitos: apresentam grafia e pronúncia iguais.
– casa (moradia ou forma do verbo casar)
– mato (planta ou forma do verbo matar)
– manga (fruta, parte da camisa ou forma do verbo mangar)
– livre (liberto ou forma do verbo livrar)
Paronímia
Paronímia, de acordo com Bechara (p.405), “é o fato de haver palavras parecidas na forma e diferentes no significado”. Nesse contexto, vejamos alguns exemplos de parônimos:
– absolver (inocentar) e absorver (sorver, consumir)
– despercebido (sem ser notado) e desapercebido (distraído)
– emigrar (sair de um país) e imigrar (entrar em um país)
– flagrante (evidente) e fragrante (aromático)
Polissemia
Polissemia é a pluralidade de significação de um mesmo vocábulo. Nas palavras de Bechara (p.404), “é o fato de haver uma só forma (significante) com mais de um significado unitário pertencentes a campos semânticos diferentes”.
Dessa forma, uma palavra polissêmica é aquela que muda de sentido de acordo com o contexto, mas não muda de classe gramatical:
– Minha mão está doendo. (substantivo mão = parte do corpo humano)
– Depois do poste, pegue a mão direita. (substantivo mão = sentido em que o veículo deve transitar)
– Deu uma mão de tinta no quarto. (substantivo mão = demão)
Hiperonímia e Hiponímia
Hiperonímia trata de palavras de sentido mais genérico cuja significação abarca outras palavras de sentido mais específico. De acordo com Fernando Pestana (p.74), “o hiperônimo é uma palavra que se refere a todos os seres de uma ‘espécie’. Nesse sentido, vejamos alguns exemplos de hiperônimos:
– animal é hiperônimo de gato, cachorro, boi, vaca, peixe, coruja etc.
– fruta é hiperônimo de uva, melancia, maçã, laranja, banana etc.
Por sua vez, hiponímia é a subordinação de um termo de sentido mais restrito. Como explica Pestana (p.75), “o hipônimo é uma palavra de significação específica dentro de um campo de sentido”. Dessa forma, vamos conferir alguns exemplos de hipônimos:
– atum, bacalhau e cação são hipônimos de peixe;
– preto, branco e rosa são hipônimos de cor.
Meronímia e Holonímia
Segundo Pestana (p.75), o conceito de meronímia “trata de palavras que representam a parte de um todo, ou seja, a palavra pneu mantém relação de sentido com a palavra carro, pois aquele constitui este”. Assim, temos os seguintes exemplos de merônimos:
– unha é merônimo de dedo;
– volante é merônimo de carro.
Holonímia, por outro lado, “trata de palavras que apresentam uma ideia de todo em relação a suas partes”. Para deixar mais claro, vamos conferir alguns casos de holônimos:
– torneira é holônimo de pia;
– maçaneta é holônimo de porta.
Ambiguidade
Ambiguidade é também um tema da semântica e consiste na dupla possibilidade de interpretação de uma palavra, de uma expressão ou de todo um texto. Popularmente, recebe o nome de “duplo sentido” e pode ser causada de forma intencional ou não.
– Foi para a escola com o colega e depois saiu com sua namorada. (Namorada de quem?)
– Não saiu com o filho porque estava cansado. (Quem estava cansado?)
Referências
- Manual de Semântica, Márcia Cançado, página 21.
- Gramática Metódica da Língua Portuguesa, Napoleão Mendes de Almeida, página 370.
- Gramática: Teoria e Exercícios, Paschoalin e Spadoto, página 352.
- Moderna Gramática Portuguesa, Evanildo Bechara, páginas 403 a 405.
- A Gramática para Concursos Públicos, Fernando Pestana, páginas 74 e 75.