Uniformidade de tratamento, segundo Celso Cunha e Lindley Cintra, em sua Nova gramática do português contemporâneo (p.282), consiste em manter a concordância dos pronomes e dos verbos com a pessoa gramatical escolhida para o texto.
Em outras palavras, isso significa que, se você optou por usar a 2ª pessoa do singular (tu), deve utilizar também pronomes oblíquos nessa pessoa (teu, tua, teus, tuas). Além disso, os verbos também devem ser conjugados na 2ª pessoa (fazes, quiseras, parte, etc.).
Neste artigo, vamos mostrar como esse tema é cobrado em porvas de concursos públicos e também quais os pontos mais recorrentes nas questões. Vamos lá!
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ToggleUniformidade de tratamento: três pontos de atenção
A maior parte das questões de concurso que aborda o tema da uniformidade de tratamento foca em três pontos: concordância com pronomes de tratamento, uso dos pronomes oblíquos e possessivos e conjugação do imperativo afirmativo.
Se você dominar esses tópicos, vai passar tranquilo por essa temática e vai garantir seus pontos na prova sem dor de cabeça. Vamos olhar cada um com calma.
Concordância com pronomes de tratamento
De acordo com o Manual de Redação da Presidência da República (p.24), “os pronomes de tratamento apresentam certas peculiaridades quanto às concordâncias verbal, nominal e pronominal. Embora se refiram à segunda pessoa gramatical (à pessoa com quem se fala), levam a concordância para a terceira pessoa”.
Por isso, quando utilizamos pronomes como você, Vossa Excelência, Vossa Senhoria, entre outros, devemos realizar a concordância sempre na 3ª pessoa do singular:
- Vossa Excelência realizou uma reunião com seus assessores.
- Tenha muito cuidado com suas escolhas. (verbo imperativo na 3ª pessoa para concordar com o pronome implícito “você”)
- Vossa Senhoria escolheu bem suas companhias.
As questões de concurso vão, normalmente, utilizar a concordância em 2ª pessoa para confundir os candidatos. Olho vivo nesse tipo de pegadinha!
Uso dos pronomes oblíquos e possessivos
Com relação ao uso dos pronomes oblíquos e possessivos, é fundamental prestar atenção dobrada nos pronomes utilizados com “você”:
PRONOME “VOCÊ” | |
Pronomes oblíquos | Pronomes possessivos |
“o”, “a”, “se” ou “lhe”. | “seu”, “sua”, “seus” ou “suas” |
Vale reforçar que a tabela acima se aplica a todos os pronomes de tratamento.
Conjugação do imperativo afirmativo
O imperativo afirmativo na 2ª pessoa do singular e do plural é formado por meio da extração da letra “s” das formas correlatas dessas pessoas no presente do indicativo:
Pessoa | Presente do indicativo | Imperativo afirmativo |
Tu | tens | tem |
Vós | tendes | tende |
Nesse contexto, as bancas de concurso costumam utilizar uma frase com o imperativo afirmativo na 2ª pessoa combinada com pronomes na 3ª pessoa. Então, fique sempre atento aos verbos no imperativo, pois eles escondem grandes perigos para sua aprovação.
Questão sobre uniformidade de tratamento
Para ilustrar melhor como o tema é cobrado em provas de concurso, vamos analisar uma questão da banca Fundação Getúlio Vargas (FGV).
FGV – 2015 – Câmara Municipal de Caruaru – PE – Analista Legislativo – Direito
Por razões históricas, alguns pronomes de segunda pessoa (a pessoa com quem se fala) levam as formas verbais para a terceira pessoa: “— Você sabe com quem está falando?”
Esse desencontro faz com que os usuários de Língua Portuguesa misturem constantemente formas de segunda e terceira pessoas, como acontece na seguinte frase:
A) “Se você deseja atendimento rápido, ligue para nossa central.”
B) “Clica aqui para receberes nossas ofertas!”
C) “Participe de nossas viagens e traga teus amigos!”
D) “Vossa Excelência e seus eleitores serão bem-vindos à festa!”
E) “Venha e compre seu mais novo carro!”
Análise e gabarito da questão
Agora vamos analisar cada uma das alternativas para encontrar a que apresenta uma quebra na uniformidade de tratamento.
- Letra A: Se você deseja atendimento rápido, ligue para nossa central.
Comentário: Aqui está tudo certo. Os dois verbos estão conjugados na 3ª pessoa do singular para concordar com o pronome de tratamento “você”. Nesse sentido, vale observar o uso do imperativo afirmativo na segunda oração. Não disse que as bancas gostam dele?
- Letra B: Clica aqui para receberes nossas ofertas!
Comentário: Mais uma vez, a banca lançou mão do imperativo afirmativo. Nesse caso, “clica” está conjugado na 2ª pessoa do singular (no presente do indicativo seria “clicas”). Por essa, razão, o segundo verbo também deve estar na mesma pessoa (“receberes”). Assim, não há erro nessa alternativa.
Vale dizer que a conjugação do verbo “clicar” no imperativo afirmativo da 3ª pessoa do singular é “clique”:
- Clique aqui para receber nossas ofertas.
- Letra C: “Participe de nossas viagens e traga teus amigos!”
Comentário: Temos aqui o nosso gabarito. Afinal, “participe” e “traga” são conjugações dos verbos “participar” e “trazer” na 3ª pessoa do singular do imperativo afirmativo. Logo, para manter a uniformidade de tratamento, deveríamos utilizar o pronome possessivo “seus”, e não “teus”.
Para preservar a uniformidade, poderíamos reescrever a frase de duas formas:
- Participa de nossas viagens e traz teus amigos!
- Participe de nossas viagens e traga seus amigos!
Assim, a resposta da questão é a letra C.
- Letra D: Vossa Excelência e seus eleitores serão bem-vindos à festa!
Comentário: Como vimos, a concordância com os pronomes de tratamento é feita sempre na 3ª pessoa. Por isso, o uso do pronome possessivo “seus” está corretísssimo!
- Letra E: Venha e compre seu mais novo carro!
Comentário: “Venha” e “compre” são conjugações dos verbos “vir” e “comprar” na 3ª pessoa do singular do imperativo afirmativo. Dessa forma, o uso do pronome possessivo “seu” está mais do que adequada! Sem erros nessa alternativa.
Referências
- Nova gramática do português contemporâneo, Celso Cunha e Lindley Cintra, página 282.
- Manual de Redação da Presidência da República, página 24