Nos últimos 40 anos, não houve um nome de mais influência e legado para a alfabetização que o de Emilia Ferreiro, sociolinguista argentina. As obras da doutoranda de Jean Piaget (1986-1980) passaram a ser divulgadas no Brasil a partir dos anos 80 e foram responsáveis por grandes impactos na educação.
Embora os seus livros não apresentem nenhum tipo de método pedagógico, eles influenciaram, até mesmo, as normas do governo contidas nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Isso porque Emilia apresenta em suas pesquisas contextos sobre os processos de ensino-aprendizagem que questionam as abordagens tradicionais da alfabetização.
Para entender mais sobre as influências e legado de Emilia Ferreira para a alfabetização, continue a leitura deste artigo!
![Emilio Ferreiro: contribuições da socilinguística para a alfabetização no Brasil;](https://www.clubedoportugues.com.br/wp-content/uploads/2023/09/emilia-ferreiro-1024x576.png)
O que Emilia Ferreiro diz sobre alfabetização?
Nascida em 5 de maio de 1936, a sociolinguista Emilia Ferreira se tornou referência para o ensino brasileiro. Toda a sua influência para a alfabetização está diretamente associada ao construtivismo, campo de estudo do biólogo Jean Piaget (1896-1980), que aborda a maneira como as crianças aprendem. Sendo assim, tanto as descobertas de Emilia, quanto as de Piaget reforçam a ideia de que os alunos possuem um papel ativo no aprendizado.
![Livro Psicogênese da Língua, de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky](https://www.clubedoportugues.com.br/wp-content/uploads/2023/09/81-r2xak0cl-ac-uf10001000-ql80.jpg)
Em outras palavras, antes da influência de Emilia Ferreira, os educadores só viam problema com a aprendizagem, quando as crianças demonstravam não ter aprendido os conteúdos transmitidos. Entretanto, após o livro Psicogênese da Língua Escrita, publicado em 1979 em conjunto com Ana Teberosky, a visão sobre o ensino mudou.
Seguindo as constatações dessa obra, foi percebido que as crianças não deviam apenas repetir o que lhes era ensinado, era necessário que interpretassem também o mundo ao seu redor. Nesse sentido, Emilia afirma que a construção da leitura e da escrita tem uma ligação direta com a interação social dos alunos dentro e fora da escola.
Alfabetização e funções sociais da língua
Emilia apregoava que o processo de alfabetização deveria permitir que os estudantes entendessem e se apropriassem das funções sociais da língua, ou seja, que fossem capazes de utilizar seus conhecimentos linguísticos para agirem e refletirem sobre a sociedade.
Nesse sentido, uma das principais críticas de Emilia era que o processo de alfabetização tradicional é muito centrado em avaliações de percepção (capacidade de discriminar sons e sinais, por exemplo) e de motricidade (coordenação, orientação espacial, etc.).
Em outras palavras, dá-se um foco grande em aspectos externos da alfabetização, em detrimento de outras características conceituais importantes, como a compreensão da natureza da escrita e sua organização.
Por essa razão, a sociolinguista defendia que o processo de alfabetização deve ocorrer sem o uso de cartilhas, que trazem uma visão pré-moldada do mundo, mas sim com o auxílio de textos atuais e que fazem parte do cotidiano dos alunos. Dessa forma, cria-se um ambiente de aprendizado conectado com a realidade das crianças, o que torna o conhecimento mais significativo.
Níveis de escrita
Uma das grandes contribuições de Emilia Ferreiro é o conceito de níveis de escrita, também conhecidos como fases da alfabetização:
- Pré-silábico: uso de rabiscos e desenho de letras, mas sem conseguir relacionar letras e sons da língua.
- Silábico: início da organização da escrita e das noções sobre as letras, sobre como usá-las e como organizá-las para que possa dizer algo.
- Silábico-alfabético: relacionamento de letras com sílabas faladas
- Alfabético: reprodução de todos os fonemas de uma palavra e percepção do modo de construção do código da escrita.
Vale destacar que para a pesquisadora, durante toda a alfabetização, é fundamental que a criança passe por etapas até atingir os resultados esperados. Isso significa que ela pode avançar ou regredir em alguns momentos, seguindo o seu ritmo e tempo.
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