Com um enredo curto e poucos personagens, o conto é um gênero que centraliza em um único problema ou situação, explorada em uma breve narrativa. Autores como Machado de Assis e Mário de Andrade são considerados grandes contistas brasileiros.

Inclusive, diante da importância do gênero no país, os vestibulares costumam cobrar esse tipo de produção textual em suas provas. Nesse sentido, vale destacar que a sua construção dispõe de características próprias e segue uma estrutura organizada.

Quer saber mais detalhes sobre as características e estrutura do conto? Continue a leitura deste artigo!

O que é um conto?

O conto é um gênero literário curto, geralmente ficcional, no qual o narrador conta uma história com um enredo compacto. Normalmente, esse tipo de narrativa se concentra em um único protagonista ou incidente. 

Por se tratar de uma leitura breve, há poucos personagens e cenários. Melhor dizendo, o conto foca em um único acontecimento ou uma pequena série de eventos, por intermédio de uma estrutura de quatro partes: introdução, desenvolvimento, clímax e desfecho

Tipos de conto

Vale dizer que existem vários tipos de contos, dentre eles:

  • contos realistas: exploram histórias verossímeis, focando em personagens que refletem a realidade cotidiana. Esse tipo é muito explorado por Machado de Assis, por exemplo.
  • contos de terror: apresentam um enredo que tem como objetivo gerar medo ou suspense no leitor. Eles lançam mão, em geral, de seres sobrenaturais, como bruxas e mostros. Stephen King e Edgar Alan Poe são referências neste tipo de conto.
  • contos populares: são histórias transmitidas oralmente, normalmente com origem folclórica. Eles estão baseados em tradições culturais, mitos e lendas. Alguns exemplos são alguns contos coletados e organizados pelos Irmãos Grimm.
  • contos infantis: são historietas curtas e com linguagens simples voltadas para as crianças. Em geral, trazem uma lição de moral.
  • contos de fadas: são histórias que envolvem seres mágicos, como fadas, bruxas, magos, feras, entre outros. Exemplos clássicos são os filmes da Disney.
  • contos fantásticos: exploram o inexplicável e o surreal, misturando cenas do cotidiano com elementos extradordinários ou bizzaros. Exemplo de autores que exploram esse tipo são Gabriel García Márquez e Jorge Luis Borges.

Vale dizer que além desses existem os minicontos, também chamados de microcontos ou nanocontos. Eles são ainda menores que os contos comuns, ocupando uma página ou até mesmo algumas linhas. 

No entanto, esse tipo de conto não compartilha a estrutura apresentada aqui. Ele é desenvolvido conforme a criatividade de cada escritor. 

Elementos do conto

Assim como qualquer outro gênero, o conto também possui seus elementos. São eles:

  • espaço;
  • tempo;
  • narrador;
  • personagens;
  • enredo.

Espaço 

O espaço é o local no qual se passa a narrativa, isto é, onde ocorre a ação do enredo. No entanto, ao falarmos de conto, é importante destacarmos que se trata de um espaço delimitado. Isso porque, por ser uma narrativa breve, não é possível retratar diversos lugares ao mesmo tempo. 

Normalmente, esse espaço é apresentado por intermédio de recursos descritivos e pode fazer referência a um espaço físico, social ou psicológico. 

  • espaço físico: representa uma rua, uma praça, uma avenida e assim por diante;
  • espaço social: diz respeito às condições socioeconômicas do personagem;
  • espaço psicológico: retrata o estado de espírito ou emoção do personagem. 

Tempo

O tempo marca o momento em que a história acontece. Ele possui três classificações:

  • tempo cronológico: se trata do tempo medido em horas, dias, meses, anos e séculos;
  • tempo psicológico: é o tempo que ocorre no interior do personagem/narrador, ou seja, na imaginação ou na memória. Normalmente, esse tempo não é linear, uma vez que os acontecimentos não ocorrem respeitando uma cronologia;
  • técnica do flashback: consiste no narrador ou personagem voltar no tempo da narrativa, compartilhando um fato relembrado. 

Narrador 

O narrador é quem conta a história. Ele pode ser:

  • narrador personagem: conta a história em primeira pessoa, pois é um personagem dela;
  • narrador observador: conhece a história, mas não faz parte dela;
  • narrador onisciente: conhece a história profundamente, inclusive as emoções e pensamentos dos personagens. 

Personagens

O conto tem poucos ou apenas um personagem. Isso porque, como se trata de uma narrativa breve, não é possível explorar muitos participantes na história. 

Enredo

O enredo é a situação ou o problema que dá origem aos acontecimentos do conto. Ele pode ser:

  • linear: quando os fatos se apresentam em uma sequência lógica, ou seja, com início na introdução, depois, o desenvolvimento, o clímax e o desfecho;
  • não linear: quando os fatos não seguem uma ordem, começando pelo clímax e encerrando no que seria a introdução, por exemplo. 

Estrutura do conto

Além das características, o conto deve seguir uma estrutura dividida em quatro partes:

  • introdução: momento inicial no qual há uma breve apresentação do espaço, tempo, enredo, personagens e situação ou problema;
  • desenvolvimento: desenrolar dos acontecimentos da história associados com a situação ou problema apresentado na introdução;
  • clímax: parte de maior tensão da narrativa;
  • desfecho: encerramento da história com a solução da situação ou problema.

Exemplo de conto

Confira, abaixo, um exemplo de conto.

A Bela e a Fera

Era uma vez um rico negociante que vivia com os seus seis filhos. As suas filhas eram muito bonitas, a caçula principalmente despertava grande admiração. Quando era pequena, só a chamavam “a bela menina”. Assim foi que o nome Bela pegou – o que deixava as suas irmãs muito enciumadas.

Essa caçula, além de ser mais bela que as irmãs, era também melhor que elas. As duas mais velhas se orgulhavam muito de ser ricas, só gostavam da companhia de gente da nobreza e zombavam da caçula, que ocupava a maior parte de ser tempo lendo bons livros.

De repente, o negociante perdeu a sua fortuna. Só lhe restou uma pequena casa no campo, bem longe da cidade. E assim a família se mudou.

Já instalados em sua casa no campo, o negociante e as três filhas se ocupavam lavrando a terra. Bela levantava às quatro horas da madrugada e se apressava em limpar a casa e preparar o café da manhã para a família.

Depois de um ano levando essa vida, o negociante recebeu a notícia de que um navio trazia mercadorias suas e foi correndo para a cidade ver se conseguia fazer algum negócio. As filhas pediram da cidade presentes caros ao pai, Bela, no entanto, pediu que ele trouxesse apenas uma rosa.

No regresso à casa, o negociante sentiu fome, ficou preso numa nevasca e descobriu um grande palácio para se abrigar durante a noite. No jardim do palácio recolheu a rosa para levar para Bela. No dia a seguir, a Fera, uma criatura horrível dona do palácio, condenou o invasor à morte pelo furto da rosa.

Após descobrir que o negociante tinha filhas, a Fera propôs que uma delas trocasse de lugar com o pai e morresse em seu nome. Bela, quando soube dessa possibilidade, se voluntariou rapidamente para trocar de lugar com o pai.

Após muita relutância do pai, Bela ocupou o seu lugar. Fechada no palácio com a Fera, Bela foi conhecendo aquele monstro terrível e cada vez mais se afeiçoou a ele porque foi conhecendo o seu interior.

“Muitos homens são mais monstruosos e gosto mais do senhor com essa aparência que daqueles que, por trás de uma aparência de homens, escondem um coração falso, corrompido, ingrato”. Com o passar do tempo, Bela foi perdendo o medo que tinha e a Fera foi se aproximando da bela moça.

Bela começou a olhar para a Fera com outros olhos e concluiu que “não era a beleza, nem a inteligência de um marido que fazem uma mulher feliz. É o caráter, a virtude, a bondade. A Fera tem todas essas boas qualidades. Não o amo; mas tenho por ele estima, amizade e gratidão. Quero casar com ele para fazê-lo feliz.”

E foi assim que a Bela decidiu se casar com a Fera e, ao dizer o sim, a criatura terrível se transformou em um belo príncipe que, na verdade, estava preso em um corpo horrível graças a um encantamento de uma fada má.

Depois do casamento, ambos viveram felizes para sempre.

Contos de fadas: edição comentada e ilustrada (Clássicos da Zahar), edição, introdução e notas de Maria Tatar, publicado em 2013.

No exemplo acima, é possível perceber que se trata de um conto de fadas. Primeiramente, pela presença da clássica introdução: “Era uma vez”, depois, pelo enredo que gira em torno de uma princesa e uma fera. 

Nota-se claramente que o conto cumpriu com as principais características e estrutura. Começando pelo espaço físico e o tempo cronológico:

“Só lhe restou uma pequena casa no campo, bem longe da cidade.” 

Depois de um ano levando essa vida, o negociante recebeu a notícia de que um navio trazia mercadorias suas e foi correndo para a cidade ver se conseguia fazer algum negócio.”

O narrador onisciente se faz presente em alguns momentos e os personagens são limitados, focando na Bela, no pai dela, e na Fera. 

Bela começou a olhar para a Fera com outros olhos 

O enredo é linear, apresentando uma sequência lógica dos fatos. Melhor dizendo, há uma introdução, na qual se referencia a vida de um negociante rico, pai de seis filhos que perde a sua fortuna. 

No desenvolvimento do enredo, é mostrado o quanto a filha caçula é diferente das demais. Inclusive, não se preocupa com dinheiro. Isso é enfatizado quando o pai vai à cidade e ela só lhe pede uma rosa de presente. 

Na ida à cidade, o pai fica preso em um castelo com uma fera que propõe a troca dele como presidiário por uma de suas filhas. Bela, então, assume a posição, gerando o momento de clímax e alta tensão da história.

Após o clima tenso da convivência entre Bela e a Fera, o desfecho é mostrado com a percepção da Bela em ver a Fera com bons olhos e entender que havia uma pessoa de bom coração atrás da terrível criatura. 

Questões sobre conto

Para finalizar este artigo, vamos conferir duas questões, com gabarito comentado, sobre o gênero conto.

Questão 1 (Instituto Consulplan – 2024)

Leia o texto abaixo para responder à questão:

O sonâmbulo

Certo indivíduo, conhecido como vivedor, aboletou-se no caminho de sua vida, no solar de um homem bonacheirão e abastado, que lhe abrira as portas para um descanso ligeiro.

Nos primeiros dias, o dono suportou galhardamente o hóspede, oferecendo-lhe a melhor cama, o melhor vinho, os melhores charutos. Passada, porém, a primeira quinzena, começou a pensar em um meio, que não fosse grosseiro, de livrar-se do importuno, e achou-o.

Tinham os dois acabado de almoçar e repousavam, lendo jornais e fumando “havanas”, à sombra das árvores. De repente, o hospedeiro recosta-se pesadamente na cadeira, cerra os olhos, deixa cair a folha e o charuto, simulando um sono profundo.

E, como em sonho, principia a falar:

– Vejam só: que maçada! Esse cavalheiro vem, aloja-se em minha casa, come, bebe, fuma, diverte-se, e nada de entender que sua presença já me está sendo desagradável. Será possível que ele não compreenda isso?

E, soltando um suspiro, pulou da cadeira, esfregando os olhos:

– Que diabo! É eu dormir depois do almoço, vêm-me logo os pesadelos. E que sonho mau tive eu! Parece até que falei alto, não?

E o outro, que de cenho cerrado prestava atenção a tudo:

– É exato: você esteve por aí falando; e eu, como vi que se tratava de coisas de sonhos, procurei não ouvir para não ser indiscreto. As palavras dos homens só têm valor, mesmo, quando eles as proferem acordados.

E o hóspede continuou na casa por mais três anos e quatro meses, isto é, até a transferência da propriedade, comendo do melhor prato, dormindo na melhor cama, bebendo do melhor vinho, fumando os melhores charutos.

(HUMBERTO DE CAMPOS. In: Cleófano de Oliveira. Flor do Lácio. 4ª. Edição, Saraiva, São Paulo, 1958.)

Considerando a tipologia narrativa do texto, é correto afirmar que se trata do gênero:

a) Romance, por se tratar de uma história completa cujo narrador narra um fato grandioso.

b) Crônica, pois é um texto curto, escrito a partir de fato verídico, com tema do cotidiano e linguagem coloquial.

c) Fábula, pois é composta por personagens simples, sem complexidade, com um cunho moral e didático no final da narrativa.

d) Conto, por ser uma narrativa breve em torno de um episódio da vida do personagem principal, o hospedeiro e explora um único conflito: um hóspede se instala em uma casa por tempo além do considerado normal.

Questão 2 (FGV – 2024)

Um conto moderno do escritor paranaense Dalton Trevisan começa com a seguinte frase:

“Primeira noite ele conheceu que Santina não era moça.”

A marca essencial desse segmento que o insere no conjunto dos textos literários de ficção e não entre os textos informativos, é:

a) a seleção vocabular de linguagem erudita;

b) a absoluta correção gramatical na estruturação das frases;

c) o emprego da linguagem popular como sinal de inclusão;

d) a presença inicial de termos sem referentes na realidade;

e) a necessidade de situar no tempo e no espaço o fato referido.

Gabarito comentado

Questão 1 – Letra D.

Comentário: Como vimos no artigo, o conto é um gênero literário curto, geralmente ficcional, no qual o narrador conta uma história focado em um ou em poucos personagens. É exatamente o que ocorre na história. Ela está centrada na curta relação entre um hóspede e seu hospedeiro.

Questões 2 – Letra D.

Comentário: Uma das princpais características dos textos literários de ficção é a utilização de elementos que não têm correspondência direta e imediata com a realidade. É isso que permite a criação de uma ambiente ficcional, deixando o enredo livre das amarras do cotidiano.