Temos  defendido que o “comportamento leitor nada mais é do que fazer da leitura um prazeroso costume”. Para começar a criar esse hábito, poucas coisas são tão ou mais prazerosas do que histórias em quadrinhos (HQ).

A seu favor, esse gênero textual costuma ser muito divertido, mais lúdico, e hoje é visto também como arte, assim como a literatura.

Da criança em fase de alfabetização aos jovens e adultos, as histórias em quadrinho colecionam fãs com sua proposta de serem mais despojadas na contação de uma história. Para o público mais “maduro”, por exemplo, o gênero oferece os graphic novels (romances gráficos, em português), que apresentam histórias longas e densas, elaboradas como os romances (um dos mais bem-sucedidos é a obra Maus, de Art Spiegelman, publicada em duas partes, em 1986 e 1991.

Características do gênero textual

A mensagem linguística das histórias em quadrinhos parte de aspectos narrativos (descreve o quadro, a situação e as ações) e dialógico (construído em uma linguagem carregada de convenções).

Em essência, uma HQ narra a história através de desenhos em sequência. Este é o lado não-verbal do gênero. O lado verbal se revela no texto que dá suporte às imagens. Via de regra, esse texto expõe os diálogos entre as personagens da narrativa e ajuda na evolução das “cenas”. A diferença disso em relação a um texto literário é o uso do recurso gráfico que todo mundo já conhece: os balões, que inserem as falas das personagens nos desenhos da história contada.

Ao longo da evolução do gênero, os formatos dos balões foram sendo diferenciados, como se fossem códigos específicos, para cada grupo de intenções das personagens. A fala é explicitada por um balão oval e contínuo; um pensamento, por um em forma de nuvens; um sussurro, por balões com linhas tracejadas; os gritos, por balões com traços pontiagudos.

As onomatopeias – palavras que imitam os sons – também aparecem com frequência: do “cabrum” do trovão ao “ploft” do tombo.

Como um gênero textual narrativo, o HQ também acompanha os fundamentos básicos de qualquer narrativa: enredo, tempo, lugar, personagens e desfecho.

Tipos de histórias em quadrinho

O gênero textual histórias em quadrinho tem várias formas de expressão, além dos graphic novels. Outros tipos interessantes são: 

  • charge (caracterizada pelo exagero, tendo como objetivo satirizar um acontecimento político ou social atual); 
  • cartum (também carregado de humor e crítica, é majoritariamente um texto visual atemporal); 
  • tirinha (sequência de poucos quadros, envolvendo personagens fictícias, geralmente com tom filosóficos, políticos e sociais ou apenas de entretenimento); e 
  • mangá (de origem japonesa, caracteriza-se pelo traço exagerado dos rostos das personagens com objetivo de atribuir-lhes mais expressividade).

Da arte rupestre ao impresso

Muitos acreditam que as histórias em quadrinhos remontam da pré-história, quando em sequência eram desenhadas nas paredes das cavernas. Se isso for correto, é possível passar pelas cenas desenhadas em vasos na Grécia Antiga, pelo Egito dos faraós e até pelas pinturas do século XIV nas igrejas católicas contando a via-sacra.

Fato é que a invenção da imprensa deu impulso às histórias em quadrinhos como as conhecemos hoje, e as popularizou em jornais, revistas e gibis.

A primeira história em quadrinhos com as características atuais foi publicada nos EUA, em 1894, na revista chamada Truth: a HQ de Richard Outcault “The Yellow Kid” narrava as peripécias de uma criança vestida com uma grande camisola amarela nos guetos de Nova Iorque. Meses mais tarde, o jornal New York World já a publicava oficialmente.

História em Quadrinhos no Brasil

No Brasil da primeira metade do século XIX, Manuel de Araújo Porto-Alegre foi o primeiro quadrinista do país. É dele também a primeira revista ilustrada de humor.

A primeira revista em quadrinhos do Brasil chegou em 1905. A Tico-Tico, desenhada por Renato de Castro, trazia personagens bem brasileiros – o mais popular era o garoto Chiquinho. 

E, depois de uma temporada dominada por HQs estrangeiros, o famoso cartunista brasileiro Ziraldo, criador do Menino Maluquinho, lançou a revista Turma do Pererê em 1960. Nesse mesmo ano, nasceram os primeiros personagens da Turma da Mônica, de Mauricio de Sousa, que domina o mercado até hoje.