O processo de alfabetização é a etapa mais importante do desenvolvimento infantil. É por meio dela que a criança cria a habilidade da leitura e da escrita e passa a se expressar através de textos e frases, no entanto, a metodologia nem sempre é igual para todos, e a alfabetização de crianças autistas pode e deve ocorrer de maneira diferenciada.

Neste artigo, vamos falar sobre os desafios e métodos da alfabetização de crianças autistas. Confira!

Como se dá a alfabetização de crianças autistas?

As crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) têm características individuais e percebem o mundo de maneira diferente. Por esse motivo, é importante que os educadores investiguem as principais dificuldades e o desenvolvimento linguístico de cada uma delas.

É fundamental que os pais e profissionais da educação trabalhem em conjunto para que seja feita uma avaliação completa de cognição e psicomotricidade da criança com autismo, a fim de se criar métodos de alfabetização que se adequem às necessidades dela.

Para que a criança autista seja capaz de assimilar as habilidades necessárias para o processo de alfabetização, é imprescindível que se ocorra uma estimulação adequada, isto é, uma técnica que auxilie no processo de aprendizagem, como é o caso da metodologia fônica, que ensina os sons das letras antes da pronúncia de cada palavra.

Apresentar aos alunos com TEA o som das letras é uma tática que visa mapear a fala, tornando o método de alfabetização mais compreensível e concreto.

A maioria das crianças com autismo possui dificuldades no momento do aprendizado, entre elas, a organização e compreensão da linguagem, o bloqueio da atenção e a falta de entendimento dos sentimentos do outro. Por essa razão, é fundamental que as estratégias respeitem a forma como o cérebro da criança se comporta. 

Logo, trabalhar a sonorização das letras é uma maneira de fazer com que o cérebro assimile o som, antes mesmo de a criança conseguir pronunciar a palavra. Dessa forma, o aspecto cognitivo é beneficiado e os resultados tendem a ser satisfatórios. 

Métodos de alfabetização para crianças autistas

Além do método fônico, é viável utilizar a parte visual para que as crianças com TEA consigam visualizar a formação das letras e palavras. Também é possível implementar o verbalizar, ou seja, o falar e compreender, fazendo com que a criança tenha acesso a um maior número de palavras e a compreensão de que elas podem ser divididas em sílabas e sons.

Na alfabetização das crianças autistas, contamos também com outros métodos de intervenção que agregam no ensino aprendizagem desses alunos. Conheça alguns deles:

Método PECS

O PECS (Sistema de Comunicação por Troca de Figuras) é a prática responsável por auxiliar os alunos que não conseguem se expressar por meio da fala, ou que possuem a dicção limitada.

É realizada por intermédio de pastas de comunicação, as quais os alunos são ensinados a compartilhar e carregar por todos os lugares. Dentro dessas pastas, são colocadas figuras que serão responsáveis por ajudar na comunicação, através da troca com um parceiro, ou seja, funciona como um ticket, auxiliando na verbalização.

Cada vez que o aluno precisar dialogar, ele utilizará as figuras como opção de fala, isto é, usará a comunicação funcional. 

Método TEACCH

O TEACCH (Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Déficits Relacionados com a Comunicação) tem como objetivo auxiliar o autista a ter mais autonomia, por meio das imagens.

Levando em consideração que os autistas são mais visuais, os profissionais da educação, por intermédio do método TEACCH, conseguem adaptar o ensino usando fotografias, ícones e sinalizadores de ambiente. 

Dessa forma, trabalham a linguagem receptiva e expressiva, proporcionando maior estímulo visual e fazendo com que as habilidades de comunicação melhorem.

Método Montessori

O Método Montessori tem o propósito de alfabetizar a criança autista por meio de materiais sensoriais, ou seja, estimulando-a a executar as atividades do dia a dia, como folhear um livro, escrever um texto ou, até mesmo, amarrar os sapatos e regar as plantas, dando mais autonomia ao educando. 

Através desse método, os alunos podem ser alfabetizados, enquanto aperfeiçoam o equilíbrio da convivência e melhoram a comunicação com as outras pessoas. 

Método ABA

O método ABA (Análise do Comportamento Aplicada) consiste no ensino de habilidades que tornarão a criança com TEA mais independente e com maior facilidade de comunicação.

Entre as atividades inseridas, estão contato visual e comunicação funcional, o que auxilia a leitura, a escrita e o trabalho com números. Na execução dessas atividades, o professor dá instruções e dicas para apoiar o estudante. Por esse motivo, essa prática também pode é chamada de “aprendizagem sem erro”, pois as ações são realizadas até se obter um resultado positivo. 

Desafios da alfabetização no autismo

Ainda que tenhamos métodos e práticas que auxiliem no desenvolvimento da alfabetização de crianças autistas, alguns desafios certamente surgirão durante o processo. 

Apesar de contarmos com técnicas bastante precisas, nem sempre as crianças irão se desenvolver de forma idêntica, ou seja, as habilidades de leitura e de escrita podem aparecer fora da ordem ou do tempo estipulado, e isso é algo muito comum.

As crianças com autismo podem ter um desenvolvimento atípico, isto é, ter o conhecimento das palavras, mas não entender o seu significado, assim como dominar as letras do alfabeto, mas não conseguir organizá-las no papel. Outras podem não compreender as ações e intenções dos personagens de uma história, por exemplo.

Alguns erros comuns que podem ocorrer quando os profissionais da educação tentam auxiliar em um processo de alfabetização de crianças autistas são:

  • Não trabalhar o processo de ensino-aprendizagem quando a criança ainda não fala: a alfabetização deve ser iniciada mesmo se o aluno ainda não desenvolveu a dicção;
  • Deter-se apenas na prática de uma metodologia, descartando as demais: ainda que uma tática esteja dando certo, é fundamental que se explorem mais métodos, a fim de identificar o que melhor se encaixa a cada aluno;
  • Sempre fazer exercícios com a criança, não permitindo que ela trabalhe sozinha: é extremamente importante mostrar para as crianças com TEA que elas são capazes de se ambientar e contar com diversas ferramentas à sua volta para se desenvolver melhor;
  • Compartilhar apenas materiais de leitura tradicional com a criança: um erro muito comum, o aluno com TEA deve ter acesso a todo o tipo de livro e material de leitura, não apenas aos de histórias. É importante que ele possa acessar todo o tipo de leitura e ter a permissão de escolher os assuntos que mais lhe interessam. 

Esses são erros bem comuns que surgem durante o processo de alfabetização de crianças autistas e, por essa razão, é fundamental que pais, professores, psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos e médicos formem uma rede de apoio e trabalhem em grupo para evitá-los. 

Considerações finais

Atualmente dispomos de diversos métodos e práticas que auxiliam na alfabetização de crianças autistas, porém, para se obter sucesso, além de ser necessário respeitar o tempo e o desenvolvimento de cada criança, também é fundamental que exista paciência, dedicação e qualificação profissional. 

Criatividade, paciência e dedicação são os maiores pilares para uma alfabetização de sucesso.

*

Gostou do artigo? Então, vale a pena aprofundar seus conhecimentos com o Guia da Alfabetização.