Chamamos de métrica ou escansão o método utilizado na contagem de sílabas poéticas. Portanto, fazer a metrificação ou a escansão de um verso é determinar-lhe o tamanho.

No entanto, existem diferenças entre a contagem tradicional de sílabas, aquela que se aprende na alfabetização, para a metrificação de versos. Na contagem de sílabas poéticas, a sonoridade das palavras é o que mais importa, por isso recomenda-se conhecimento básico de fonologia.

A seguir, conheça as regras de metrificação e perceba como é fácil fazê-la.

Regras de metrificação de versos

1. Conta-se da primeira sílaba da primeira palavra até a sílaba tônica da última palavra do verso; o que vier depois é ignorado.

Utilizemos como exemplo a canção “Paratodos”, de Chico Buarque, para identificar até onde vai a contagem em cada verso:

Foi Antônio Brasileiro (Bra-si-lei)

Quem soprou esta toada, (to-a)

Que cobri de redondilhas (re-don-di)

Pra seguir minha jornada (jor-na)

E, com a vista enevoada, (e-ne-vo-a)

Ver o inferno e maravilhas (ma-ra-vi)

A última sílaba tônica de cada verso são as que estão em negrito, portanto a contagem não pode passar delas, como consta entre parênteses.

2. Quando uma palavra termina em vogal e a palavra seguinte começa em vogal, as sílabas em que essas vogais estão se juntam e contam como uma só.

E, com a vista enevoada, (E/ com a/ vis/ta e/ne/vo/a)

Ver o inferno e maravilhas (Ver/ o in/fer/no e/ ma/ra/vi)

Dessa forma, os encontros vocálicos “com a”, “ta e”, “o in” e “no e” contam como uma sílaba só cada, apesar de estarem em palavras diferentes. Para que fique claro, na palavra com, as letras om formam um único som, que é o som da vogal nasal /õ/.

No entanto, esta regra não se aplica ao encontro de semivogal com vogal. 

Foi Antônio Brasileiro (Foi/ An /tô /nio/ Bra/si/lei)

Quem soprou esta toada, (Quem/ so/prou/ es/ta/ to/a)

Em Foi / An e prou / es temos duas sílabas poéticas em cada par, pois as letras i e u são, no alfabeto fonético, as semivogais /y/ e /w/, respectivamente.

Logo a metrificação da estrofe de “Paratodos” fica assim:

  1      2    3   4     5    6  7

Foi / An /tô /nio/ Bra/si/lei 

Quem/ so/prou/ es/ta/ to/a 

Que/ co/bri/ de/ re/don/di 

Pra/ se/guir/ mi/nha/ jor/na

E/ com a/ vis/ta e/ne/vo/a

Ver/ o in/fer/no e/ ma/ra/vi

Perceba que a contagem de sete sílabas poéticas se mantém em todos os versos, portanto eles são heptassílabos, mais conhecidos como redondilhas maiores.

3. Os dígrafos –rr– e –ss– não se separam.

Diferentemente da separação de sílabas convencional, em que cada letra dos dígrafos –rr– e –ss– ficam em sílabas separadas, na metrificação elas não se separam. Então o último verso do poema O caçador de esmeraldas, de Olavo Bilac, fica assim:

Fernão Dias Paes Leme os olhos cerra. E morre.

 1       2    3   4      5      6      7      8   9    10   11     12

Fer/não/ Di/as/ Paes/ Le/me os/ o/lhos/ ce/rra. E/ mo

Por ter doze sílabas poéticas ao todo, esse verso é chamado de duodecassílabo, porém é mais conhecido como alexandrino.

Classificação dos versos quanto ao número de sílabas poéticas

1 sílaba: verso monossílabo.

2 sílabas: verso dissílabo.

3 sílabas: verso trissílabo.

4 sílabas: verso tetrassílabo,

5 sílabas: verso pentassílabo, mais conhecido como redondilha menor.

6 sílabas: verso hexassílabo.

7 sílabas: verso heptassílabo, mais conhecido como redondilha maior.

8 sílabas: verso octossílabo

9 sílabas: verso eneassílabo.

10 sílabas: verso decassílabo, mais conhecido como medida nova.

11 sílabas: verso hendecassílabo.

12 sílabas: verso dodecassílabo, mais conhecido como alexandrino.

13 sílabas ou mais: verso bárbaro.

Os versos mais tradicionais em Língua Portuguesa são os que variam de duas (dissílabos) a doze sílabas poéticas (dodecassílabo), com destaque para os versos de cinco, sete, dez e doze silabas poéticas.

Outras classificações

1. Versos isométricos

São aqueles que possuem uma medida única, mais facilmente encontrados na literatura clássica. Um exemplo é a epopeia Os Lusíadas, de Camões, com seus versos decassílabos.

2. Versos heterométricos (versos livres)

São poemas que possuem versos com métricas diferentes, mas sem abrir mão da musicalidade. Encontramos versos heterométricos principalmente na literatura moderna e contemporânea.

3. Versos brancos

São aqueles que não têm rima, facilmente encontrados na literatura moderna e contemporânea também.

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